Luiz Gomes: ‘Futebol brasileiro ameaça balança negativa no vaivém’

Neste período, procura por nomes vindos do exterior tem ficado bem abaixo do que vinha ocorrendo. O Brasileirão 2018 teve em campo 73 atletas de 11 diferentes nacionalidade

Nico López - Internacional x Fluminense
O uruguaio Nico López é um dos destaques estrangeiros atualmente (Foto: Ricardo Duarte/Internacional)

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No blog Números da Bola, publicado no LANCE! Digital, o jornalista Andre Schmidt analisou o mercado, fez as contas e mostrou que jogadores estrangeiros estão deixando de ser o sonho de consumo dos clubes brasileiros. Neste período de vaivém, a procura por nomes vindos do exterior tem ficado bem abaixo do que ocorreu nas últimas temporadas. O Brasileirão 2018, por exemplo, teve em campo 73 atletas de 11 diferentes nacionalidades, o ápice de uma prática que vinha crescendo ano após ano – em 2003, na primeira edição de pontos corridos, apenas 13 gringos atuaram nos clubes da Série A.

A relação do Brasil com o mercado sul-americano, em particular, sempre foi intensa. Jogadores latinos fizeram história no nosso futebol. Com a certeza de esquecer dezenas de nomes importantes, vale lembrar de uruguaios como Mazurkiewicz no Atlético-MG, Pedro Rocha, Forlan e Lugano no São Paulo, argentinos como Doval, o Diabo Loiro rubro-negro, o goleiro vascaíno Andrada, imortalizado por ter sofrido o milésimo gol de Pelé numa cobrança de pênalti no Maracanã, ou Perfumo, o elegante zagueiro cruzeirense de um time que encantava. Entre os paraguaios, Romerito, que brilhou no Fluminense, e Reyes, que por quase uma década jogou na defesa do Flamengo.

Todos, em sua época, poderiam ter atuado na Europa. Poderiam ter sido ídolos no Real, no Barça ou no Bayern, mas construíram por aqui suas carreiras e sua fama. Eram tempos em que a movimentação no mercado internacional ainda era restrita – o êxodo de brazucas para o exterior, inclusive., estava longe de se aproximar dos padrões atuais. Essa realidade começou a mudar, na verdade, na ultima metade dos anos 90 quando um belga, Jean-Marc Bosman, desafiou a Uefa e a Fifa e conseguiu que o Tribunal de Justiça Europeu declarasse que todos os jogadores nascidos em países membros da União Europeia pudessem atuar por qualquer time, de qualquer pais da UE, sem ser considerado estrangeiro.

Bosman não passou de um jogador mediano, que jamais chegou a defender sequer a seleção belga. Sua coragem lhe custou caro, praticamente pondo fim a sua carreira de atleta, discriminado que foi pela cartolagem em todos os níveis. Mas o cumprimento da lei da livre circulação de jogadores europeus – que levou seu nome e também extinguiu o passe no continente – transformou o futebol mundial, acabou por abrir o mercado europeu a jogadores vindos de outras partes do mundo, especialmente da América do Sul e da África, os chamados não comunitários, que passaram a preencher as cotas destinadas aos estrangeiros.

Os efeitos dessa medida se fazem sentir até hoje, quase 20 anos depois. De lá para cá, impulsionado obviamente pelo desnível econômico entre os países dos dois lados do Oceano Atlântico, o fosso entre os times de cá e de lá não parou mais de crescer. Virou um abismo! Desde 2007, à exceção do Corinthians em 2012, todos os campeões mundiais de clubes vieram da Europa. E todos tinham jogadores sul-americanos – brasileiros em particular - entre os destaques dos seus elencos.

Cada vez mais jovens, os talentos revelados pelos clubes brasileiros vão se transferindo para a Europa. Só nesta temporada, Vinicius Junior, Rodrygo, Paulinho e Paquetá, uma garotada que mal atua pelos times principais e é levada embora por quantias multimilionárias. Além da base, ainda maltratada na maior parte dos grandes clubes, o mercado da vizinhança passou a ser uma opção por aqui. Não os hermanos, uruguaios ou colombianos de primeira linha, pois estes seguem os mesmos caminhos dos nossos craques. Mas bons jogadores, sim, de nível de seleção como Arrascaeta, Borja, Guerra, Martin Silva, Cuellar e Berrio, só para citar alguns. Uns poucos que veem pra ficar e outros tantos que usam o Brasil, vitrine mais visível, apenas como ponte para a Europa.

Esse movimento de importação vinha se multiplicando, ano após ano, especialmente nesta década. Foram 40 estrangeiros em 2011 contra os 73 da temporada que se encerrou. Em 2018, argentinos, com 22, colombianos com 13 e paraguaios com 12, segundo a análise do Números da Bola, lideraram essa estatística. Nomes de peso dessa lista, contudo, já arrumaram as malas e partiram - alguns antes mesmo do Brasileirão acabar. Otero, do Atlético-MG, Riascos e Erazo, ambos do Vasco, Balbuena, do-Corinthians, Mena, do Bahia, Cueva, do São Paulo e Vecchio, do Santos, são alguns exemplos.

O fato é que, com as saídas superando as entradas, a balança comercial do futebol tupiniquim ameaça, pela primeira vez, em muitos anos, pesar contra o Brasil. Não apenas em quantidade, mas também em qualidade.

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