Coluna do Bichara: ‘Consagração e consternação na Red Bull’

Luiz Gustavo Bichara fala sobre morte de Dietrich Mateschitz, o austríaco fundador da Red Bull, e o título da escuderia na Fórmula 1

Max Verstappen
Escuderia levou o título perto da morte de Dietrich Mateschitz (Foto: Reprodução/Twitter Red Bull)

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No sábado, aos 78 anos, faleceu Dietrich Mateschitz, o austríaco fundador da Red Bull. Sua história com o esporte, e com a F1 particularmente, é antiga. Desde 1995 a empresa está presente na categoria, tendo patrocinado equipes como a Sauber e a Arrows. Em 2004 ele fundou a sua própria escuderia, que, até o dia de sua morte, tinha quatro títulos de construtores. Numa trapaça do destino, Dietrich não viveu para testemunhar o 5º título de sua equipe, obtido
domingo.

A F1 chegou pela segunda vez no ano aos USA, agora no Texas - Circuit of the Americas (COTA) - com o público recorde de 440 mil pessoas. A pista americana parece ser um dos raros acertos do projetista Hermann Tilke, que se notabilizou por desenhar traçados sem emoção e pouco propícios a ultrapassagens. O COTA emula trechos consagrados de outras pistas, como a sequência de curvas de Suzuka e a longa curva final inspirada na famosa curva 8 de Istambul.

Embora o título já tenha sido antecipadamente definido, segue acirrada a briga pelo vice-campeonato – e fora dela, pelas últimas vagas restantes para 2023. A Williams confirmou o americano Logan Sargeant. Restou assim um único slot disponível para o ano que vem, que é o lugar de Mick Schumacher na Haas. O alemão ainda está no páreo, mais na qualidade de afogado do que de nadador. Tudo indica que deverá ser promovido para o mercado. O sobrenome não foi suficiente para compensar as trapalhadas na pista.

Fora do asfalto segue também quente a discussão sobre a penalidade que receberá a Red Bull por ter descumprido o teto orçamentário. Os tais 5% que o time austríaco gastou além do teto parecem ser suficientes para lhe dar uma vantagem relevante. No entanto, ninguém crê seriamente numa punição desportiva. A aposta é de que a FIA vai passar pano.

Na pista, o final de semana começou com um recorde: no TL1 (sexta) 5 pilotos não-titulares tiveram oportunidade de treinar: a Ferrari cedeu o cockpit para o russo/israelense Robert Scwartzman, a Williams para Sargeant, a Alfa Romeu para Theo Pourchaire e a McLaren para o campeão da indy em 2021, Álex Palou, enquanto a Haas treinou com o veterano Antonio Giovinazzi. Na sexta também as equipes fizeram os testes de pneus para 2023.

No sábado as Ferrari demonstraram ótima performance. Noves fora as punições habituais decorrentes das trocas de peças (inclusive para Charles Leclerc e Sergio Perez), Carlos Sainz fez a pole, e dividiu a 1ªfila com Max Verstappen, seguidos pelas Mercedes de Lewis Hamilton e George Russel.

No domingo Verstappen se mostrou implacável na largada, tracionando melhor do que Sainz mesmo saindo do lado sujo da pista. Já na 1ª curva – um cotovelo – o espanhol se embolou com Russel, bateu e acabou abandonando. Na autópsia do fracasso do espanhol, Russel ainda recebeu uma punição, que pareceu injusta, eis que claramente se tratou de um acidente de corrida. E mais uma vez o holandês voador parecia seguir para um passeio no parque.

A corrida seguiu morna até a volta 18, quando Valteri Bottas rodou sozinho e parou na brita, disparando o safety car. Boa notícia para Leclerc, único do pelotão da frente que não havia parado, e ganhou preciosos segundos ao fazê-lo sob o carro de segurança. Com isso, ele que havia largado em 12º, seguia em franca recuperação já assumindo o 3º lugar.

Reiniciada a corrida, outro B.O.: Lance Stroll fez uma manobra tão abrupta quanto irresponsável quando seria ultrapassado por Fernando Alonso (seu futuro companheiro de equipe no ano que vem), e os dois colidiram violentamente, com o carro do espanhol decolando mais de um metro. Incrivelmente Alonso conseguiu chegar aos boxes aos trancos e barrancos, trocando dois pneus furados e seguindo na prova (teria até pontuado bem, chegou em 7º, mas recebeu uma punição de 30 segundos, justamente por ameaçar a segurança dos demais pilotos por conta de seu retrovisor que estava pendurado no carro após o acidente, e realmente acabou caindo).

Mas curioso mesmo foi o silêncio obsequioso do espanhol. Não deu um pio reclamando da batida, logo ele, sempre tão verborrágico e reclamão. O espanhol, sempre Tigrão, virou tchutchuca diante do filho do patrão. Parafraseando Millôr Fernandes, quando Alonso está fora de si, deixa o pessoal ver melhor o que há por dentro dele.

À volta 36, um raro erro da Red Bull quase mudou o futuro da corrida. No pit stop de Verstappen houve um problema na troca do pneu dianteiro esquerdo, resultando não só na perda da liderança como na queda do holandês para o 6º lugar, atrás de Hamilton e Leclerc.

Parecia que seria dia de Hamilton – sempre cativo dos ventos da sorte. A estrela do inglês – que desde sua temporada de estreia jamais deixou de vencer uma prova – estava prestes a voltar a brilhar. Mas só pareceu. Verstappen é o tipo de piloto que transforma o erro
em asterisco. Nas vinte voltas restantes, ele fez uma incrível recuperação, protagonizando uma bela batalha com Leclerc e depois com Hamilton, voltando à liderança seis voltas antes do fim da prova.

Verstappen venceu, com a calma de um faquir, garantindo também o mundial de construtores para a Red Bull. Ambos ofereceram o triunfo à memória de Dietrich Mateschitz. No pódio (completado por Hamilton e Leclerc), pela equipe, vimos a presença inédita da felpuda
raposa, Dr. Helmut Marko, o membro da equipe mais próximo do fundador.

O holandês segue acelerando em busca, ainda este ano, da quebra de outros recordes: o de maior número de vitórias em uma temporada (13, dividido por Michael Schumacher e Sebastian Vettel), e o de pontos numa mesma temporada (pertencente à Hamilton, que marcou 413 em 2019). É verdade que a comparação é imprecisa pois a temporada hoje é mais longa, facilitando a quebra dos mencionados recordes. De toda forma, os números dão uma boa
dimensão da superioridade do holandês voador.

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