Luiz Fernando Gomes: ‘Os dramas do pré-Copa do Mundo’

Daniel Alves está fora do Mundial da Rússia por grave lesão e Guerrero vive expectativa por conta do caso de doping. Dramas se repetem a cada quatro anos antes do torneio

Daniel Alves lesionado
Daniel Alves está fora da Copa do Mundo da Rússia (foto: FRANCK FIFE / AFP)

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Imagine-se leitor no lugar de Daniel Alves ou de Guerrero. Um, a pouco mais de um mês da Copa, tem confirmada a sua ausência na Russia. Sobre o outro ainda paira, como se sabe por motivo diverso, a ameaça de ficar de fora da maior competição do futebol mundial. O que estaria passando pela cabeça desses jogadores agora?

O drama não é uma exclusividade do lateral direito nem do atacante. De Tite nem do treinador do Peru, Ricardo Gareca. Repete-se a quatro anos as vésperas de Mundiais. Em outras modalidades, acontece com frequência nos meses que antecedem às Olimpíadas ou aos jogos continentais. Esta semana, em seu blog Dois Pontos, no LANCE!, Fabio Chiorino reuniu 14 nomes no que ele chamou de a lista macabra das Copas.

O apanhado mostra que desde o tricampeonato do Brasil, no México, em 1970, quase todos os técnicos da seleção - as exceções são 2010 e 2014 -, foram obrigados a conviver com situações de corte, com maior ou menor peso na formação de suas equipes, às vésperas dos mundiais. São nomes como o ponta direita Rogério, que jogou no Flamengo e no Botafogo, em 70; o volante Clodoaldo e o goleiro Wendell em 74, o lateral Zé Maria e o atacante Nunes em 78, Careca em 82, Mozer e Toninho Cerezo em 86; Ricardo Gomes e novamente Mozer em 94; Romário, Márcio Santos e Flavio Conceição em 98, Emerson em 2002 e Edmilson em 2006. Todos tiveram de ser substituídos por conta de contusões pouco antes da bola começar a rolar.

Há, também, casos em que o drama acontece já com a Copa em andamento. O mais recente, o de Neymar, há quatro anos, no jogo contra a Colômbia que antecedeu ao fatídico 7 a 1. O mais marcante, o de Pelé, no bicampeonato do Brasil, no Chile, quando o camisa 10 sofreu um estiramento na virilha logo na segunda partida, deixando o país em polvorosa. Uma contusão que só não só não mudou o rumo da história graças a outro gênio da bola, Garrincha, que roubou a cena, marcou quatro gols em dois jogos e conduziu o time ao título com uma vitória de virada contra a Tchecoslováquia na final.

Daniel Alves perderá a chance de conquistar o único título de peso que ainda lhe falta - é o maior campeão da história do futebol mundial, tendo superado Pelé e levantado 38 canecos ao longo de uma carreira recheada de êxitos. A contusão na final da Copa da França, em um jogo em que o PSG enfrentou o modesto Les Herbiers, da terceira divisão e já entrou em campo praticamente campeão, foi uma armadilha dos deuses da bola. Aos 35 anos, essa foi, talvez, uma das poucas derrotas pessoais que sofreu. Para Tite, sem substitutos à altura – Danilo, Fagner ou Rafinha devem aparecer na lista a ser anunciada amanhã - sua ausência de fato é um problema, não apenas técnico, mas também pela liderança que exerce. Mas, convenhamos, é um problema longe de ser insolúvel ou de ameaçar o favoritismo brasileiro - se é que somos os favoritos.

O corte de Guerrero, se a corte arbitral do esporte lhe impuser nova suspensão no caso do doping, trará para Ricardo Gareca um efeito imensamente maior. O evetual afastamento do atacante vai muito além de um drama pessoa. Guerrero ficar fora do Copa seria uma derrota para toda uma Nação. Foi sob seu comando que a seleção peruana conquistou a vaga resgatando o orgulho nacional em uma país, como aqui, abalado pelas mazelas da política e os efeitos nefastos da corrupção. É nos seus nos seus pés que peruanos de todas as classes e idades depositam o sonho de fazer bonito em uma Copa do Mundo. Ele não é mais um, como Dani Alves. Ele é único, é o cara.

O lateral direito do PSG foi vítima da vontade dos deuses Guerrero poderá sucumbir a insensatez dos homens. Não há, mesmo entre os seus algozes, quem creia que ele tenha usado cocaína intencionalmente. Seja para se dopar ou para se divertir. Exames sofisticados, inclusive mais técnicos do que a coleta de urina, comprovam isso. Depoimentos de quem conviveu com ele por onde passou no Brasil ou na Europa atestam seu comportamento. Admita-se que possa ter cometido um descuido, ingerido chá contaminado. Seis meses fora dos gramados não bastam? Será justo matar o sonho de um atleta e mais do que isso, de um país, para mostrar ao mundo o rigor da lei? Não, a lei não pode servir para dar exemplos. Tem de se impor, no futebol ou na vida de cada um, tão somente por ser justa.

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