‘Tóquio-2020 será a Olimpíada mais equilibrada do vôlei’, diz Bruninho

Capitão do Brasil celebra a taça do Mundial de Clubes que faltava, cita Kobe e Murray como inspirações, cobra maior profissionalismo de equipes do Brasil e projeta 'batalha' no Japão<br>

Bruninho - Balanço do Lance!
Bruninho em ação pelo Brasil em partida da Liga das Nações, em Campinas (Foto: Wander Roberto/Inovafoto/CBV)

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Líder de uma geração que suou a camisa para se manter em alto nível e superar as desconfianças, o levantador Bruninho vive o ápice no vôlei atualmente.

Campeão do Mundial de Clubes com o Lube Civitanova no último dia 8 de dezembro, ao lado do brasileiro naturalizado cubano Leal, o carioca desbravou a Itália com o objetivo de aprender com os melhores do planeta. Em meio à sua terceira passagem pelo país, que tem uma das ligas mais fortes do planeta, o atleta promete utilizar cada ensinamento adquirido para ajudar o Brasil a buscar o tetracampeonato olímpico nos Jogos de Tóquio-2020.

Ao LANCE!, o capitão da Seleção Brasileira relembrou o sucesso recente na Europa, falou da inspirações em outros ícones do esporte, cobrou maior profissionalismo dos clubes da Superliga, diante da saída de última hora do Botafogo nesta temporada, e analisou os futuros desafios com o uniforme verde e amarelo. Para ele, a próxima Olimpíada será a mais disputada de todos os tempos.

LANCE!: Você conquistou títulos de expressão na última temporada pelo Civitanova, como o Italiano e a Champions League, e, agora, o Mundial de Clubes, com vitória sobre o Sada Cruzeiro na final. Quais são as explicações para o sucesso?
Bruno Rezende: Foi um ano realmente especial. Conquistamos tanto a Champions League quanto o Campeonato Italiano, e começamos esta temporada com o pé direito, após o título do Mundial de Clubes. Estamos no caminho certo. Poucas peças do time mudaram, o que ajuda a manter o entrosamento. Também já conhecemos melhor o nosso técnico (Ferdinando De Giorgi), pois já é a segunda temporada com ele. Acredito que precisamos continuar o trabalho, apesar de todos esses sucessos. Hoje, somos o time a ser batido na Itália. Todos querem tirar um pedacinho do atual campeão.

L!: Projeta mais uma temporada tão vitoriosa quanto a última em 2019/2020?
B: Temos de ter humildade e fazer o de sempre, que é jogar como uma equipe, se quisermos conseguirmos conquistar mais títulos em 2020. 

Bruninho
Bruninho em ação pelo Lube Civitanova (Foto: Reprodução)

L!: Quais serão os maiores desafios e quais os times que mais preocupam vocês? 
B: Os nossos grandes adversários são Perugia e Modena. Apesar do equilíbrio grande no vôlei italiano, esses dois times montaram verdadeiras seleções e têm ainda mais chances de brigar pelos títulos. 

L!: Você está na sua terceira passagem pelo vôlei italiano. Como descreveria o Bruninho em cada uma delas? Primeiro, em 2011, no Modena; depois, novamente na cidade, entre 2014 e 2016; e agora, em Macerata, desde 2018?
B: Na primeira, era tudo uma surpresa para mim. Eu era um menino que queria desbravar a Itália e encarar a aventura de ir para o exterior. Foi muito bacana. Apesar de não ter conquistado o título, pude entender como funcionava a paixão, principalmente em Modena, das pessoas pelos clubes. É algo diferente do Brasil. Entre 2014 e 2016, foi uma volta um pouco inesperada, por causa dos problemas financeiros do RJ:X. Mas já havia um projeto sendo montado para Modena voltar a vencer. Foi muito legal participar dessa volta da equipe. Conquistamos a Copa Itália, em 2015, e o triplete em 2016, que inclui Supercopa, Copa Itália e Campeonato Italiano. Foi uma passagem especial. Aprendi muito com o técnico na época. Realmente cresci não só como atleta, o que me ajudou na preparação para a Olimpíada do Rio, mas como capitão. Já a última temporada foi como um atleta mais maduro, tendo de me adaptar a certas situações. Foi importante vir para o Civitanova.

L!: Apesar da maturidade, quais são as surpresas que você ainda encontra pelo caminho na trajetória como atleta?
B: Na última temporada, mudei a característica do meu jogo para me adaptar ao time, para desfrutar melhor dos jogadores que tenho ao meu lado, para fazê-los jogar o seu melhor. De certa forma, foi uma maneira de eu me reinventar. Com a idade, após os 30 anos, e com todos os times me conhecendo, tive de mudar algo no meu jogo para continuar fazendo a equipe andar. Mas muito mais maduro e sabendo lidar com as situações de dificuldade. Também é uma passagem importante, pelo fato de eu conseguir conquistar todos os títulos que eu sonhava: a Champions League e o Campeonato Mundial de Clubes.

Bruninho
Leal e Bruninho em partida pelo Civitanova (Foto: Divulgação /Lube)

L!: Muitos países irão aos Jogos de Tóquio com chances de título. Que avaliação faz do quadro mundial atualmente? Nós chegaremos como favoritos? 
B: É um cenário internacional muito equilibrado. Tem pelo menos seis times que aparecem com chances de medalha de ouro: Rússia, Brasil, Polônia, Estados Unidos, Itália e Sérvia ou França, dependendo de quem levar a vaga no qualificatório europeu, em janeiro. Em uma competição rápida como essa, de duas semanas, tudo depende de como cada um chega, na parte física e mental. Sem dúvida, será a Olimpíada mais equilibradas de todos os tempos no vôlei.

L!: O Brasil ficou muito conhecido no passado pela velocidade do nosso jogo, fruto do trabalho de grandes levantadores, como Maurício e Ricardinho. Mas você e a sua geração precisaram se destacar em um momento em que esta caraterística já não era um diferencial do vôlei brasileiro, e sim quase uma obrigação para um time que quer ser competitivo. Na sua avaliação, este fator foi um desafio para sua carreira? 
B: A responsabilidade que a nossa geração acabou carregando, por causa da anterior, que venceu muito e revolucionou o voleibol mundial, foi grande. Tivemos de manter os resultados, à medida que os outros times melhoraram muito, de certa forma copiando o estilo brasileiro. Tivemos que nos adaptar a um novo formato de jogo mundial. Mudamos as nossas características. Passamos a ter jogadores mais altos e menos ágeis, menos velozes que a geração anterior. Mas era algo que o voleibol moderno pedia. Nomes como Vissotto e Lucão eram necessários. Mesmo nas pontas, sem atletas tão rápidos, mas com um Lucarelli. Jogadores de força e altura. E com a missão de continuar representando o Brasil entre os melhores. Foi um fator determinante.

Bruninho
Bruninho acumula títulos pela Seleção (Foto: Divulgação/FIVB)

L!: Foi preciso segurar a pressão. Quando olha para trás e lembra do processo, o que vem à cabeça?
B: Tivemos de ter muita determinação. Não conseguimos tantos títulos quanto a geração anterior, que foi a mais incrível que já vi jogar, mas mantivemos o país em primeiro lugar no ranking mundial, conquistamos a Olimpíada de 2016 e disputamos várias finais. De certa forma, acho que foi um bom trabalho.

L!: O que você ainda projeta no vôlei, após ganhar tudo o que podia? Até onde pretende ir?
B: Eu procuro viver um dia de cada vez. É difícil eu fazer grandes planejamentos para o futuro. Quero jogar o máximo de tempo possível na Seleção. Hoje, estou muito focado em chegar bem aos Jogos de Tóquio-2020.

L!: Então ainda não traçou metas para o pós-carreira?  
B: Ainda não penso muito. Ainda preciso terminar minha faculdade e continuar estudando. Já tenho alguns investimentos, em restaurante e academia. Já estou me preparando um pouco para o futuro, mas não sei exatamente o que fazer. Gostaria de trabalhar no esporte, no vôlei, sem dúvida. Mas ainda estou pensando no agora.

"Eu nunca quis substituir ninguém. Tento me comportar como qualquer atleta que, quando tem sucesso junto com seus companheiros, se torna referência. Para mim, é um prazer ver que muita gente me vê como ídolo, mas nunca busquei isso"

L!: O Renan Dal Zotto te coloca, ao lado do Lucarelli como referência na Seleção não só na quadra, mas na relação com o público. O brasileiro se acostumou com ídolos e você é um dos que melhor desempenha o papel. Como avalia esse processo na sua carreira? Acredita que era necessário ocupar esse posto?
B: Nunca foi uma responsabilidade. Eu nunca quis substituir ninguém. Tento me comportar como qualquer atleta que, quando tem sucesso junto com seus companheiros, se torna referência. Para mim, é um prazer ver que muita gente me vê como ídolo, mas nunca busquei isso. Sou apenas grato ao que acontece. Tento ser um bom exemplo para os mais jovens e agradeço por toda força que me dão.

L!: Como está vendo a Superliga hoje, em comparação com as grandes ligas do mundo? Em que aspectos temos de avançar?
B: Temos muito a melhorar. Em nível técnico, existe uma diferença bastante grande entre os principais times e os menores, sobretudo em relação ao orçamento. É algo que, aqui na Itália, é mais equilibrado. Lógico que há quatro times investindo mais, mas os menores conseguem fazer bons elencos, com um investimento justo. Isso gera um equilíbrio e desperta um interesse maior do público, afinal temos jogos disputados em todos os finais de semana. No Brasil, sentimos falta disso. Vemos equipes com muitos problemas financeiros, que deixam a Superliga na última hora, como este ano, ou que se inscrevem na última hora, ou que chegam com apenas oito atletas para uma partida. Ainda pecamos por esse amadorismo. Acredito que a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) esteja pensando na melhoria da competição. Eles estão tentando. Temos de agir, não brigando, mas incentivando a entidade a melhorar isso. Passamos por um momento de dificuldade no país inteiro. É difícil querermos investimento só para o vôlei. Há tanto a melhorar, que às vezes falta apoio para o esporte. Faz parte da crise do país. Mas a questão organizacional dos clubes é fundamental. Eles têm de ser mais profissionais, como vejo aqui. Estamos bem atrás.

L!: Atualmente, tem algum livro, filme ou algum tipo de obra que te inspire? Quais?
B: Li recentemente o do Kobe Bryant ("The Mamba Mentality: How I Play", que significa "A mentalidade Mamba: como eu jogo"). Gosto muito de ler livros de esportistas, na ativa ou aposentados. Tem outros muito bons, que me inspiraram, como a biografia do Rafael Nadal, e o documentário do Andy Murray, sobre sua volta após inúmeras cirurgias. Ele mostra toda a resiliência que um atleta precisa ter no alto rendimento.

QUEM É ELE
Nome
Bruno Mossa de Rezende
Nascimento
2/7/1986, no Rio de Janeiro (RJ)
Posição
Levantador
Altura e peso
1,90m/76kg
Conquistas
Campeão dos Jogos Olímpicos Rio-2016; prata nos Jogos de Londres-2012 e Pequim-2008; campeão da Copa do Mundo de 2019 e de 2007; campeão mundial em 2010; vice-campeão mundial em 2014 e 2018; tetracampeão da Liga Mundial (2006. 2007, 2009 e 2010); bicampeão Pan-Americano (Rio-2007 e Guadalajara-2011); hexacampeão da Superliga (2003/2004, 2005/06, 2007/08,  2008/09, 2009/10 e 2012/13); bicampeão da Copa da Itália (2014/15 e 2015/16, Modena); campeão da Supercopa da Itália (2016); bicampeão do Italiano  (2015/16 e 2018/19; campeão da Champions League (2018/2019); campeão mundial de clubes (2019).

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