Conmebol emite nota condenando violência no jogo entre Brasil e Argentina

Entidade afirma que responsabilidade pela análise dos fatos ocorridos no Maracanã cabe à Fifa

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Policiais recorrem à violência para conter torcedores brigões no setor Sul do Maracanã (Foto: Carl de Souza / AFP)

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A Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) emitiu um comunicado nesta quarta-feira (22) lamentando as cenas de violência registradas no Maracanã, antes do início da partida entre Brasil e Argentina, na terça-feira (21), pela 6ª rodada das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2026 (confira a íntegra do informativo abaixo).

Na nota, a Conmebol lembra também que não é organizadora do torneio, que é de responsabilidade da Fifa, e que cabe à entidade máxima do futebol analisar os fatos ocorridos no Maracanã e aplicar as devidas sanções.

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DE QUEM É A RESPONSABILIDADE PELA CONFUSÃO NA PARTIDA?

A briga generalizada no setor Sul do Maracanã, onde estavam lado a lado torcedores brasileiros e argentinos, começou após vaias durante a execução do hino nacional da Argentina. Policiais militares foram até o local para controlar a situação, mas entraram em confronto com integrantes da torcida argentina.

De acordo com o regulamento da Fifa, a responsabilidade pela organização de um jogo das Eliminatórias é da federação de futebol do país mandante, no caso do Brasil, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Assim sendo, cabe à entidade anfitriã a responsabilidade sobre a venda de ingressos, a marcação do horário da partida, a localização da torcida visitante, as regras estabelecidas para as entrevistas de pós-jogo, entre outros tópicos.

Segundo informações obtidas pelo Lance!, como o jogo foi marcado para o Rio de Janeiro, a Federação Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) participaria da organização do evento. No dia 16 de novembro, foi realizada uma reunião entre representantes da CBF, Ferj, da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro e de outros órgãos estaduais e municipais para estabelecer protocolos para o compromisso entre as seleções brasileira e argentina.

Nesse encontro, registrado em ata pela Ferj, as entidades presentes consideraram o clássico sul-americano como um evento "bandeira vermelha", uma classificação que designa alto risco de realização e que sugere uma série de protocolos de segurança, entre eles a proibição de torcedores de equipes adversárias no mesmo setor, fato que ocorreu na terça-feira.

No dia seguinte a essa reunião (17 de novembro), a CBF comunicou à Ferj que não iria contar com a participação da federação carioca na organização da partida. Em ato contínuo, a Federação Futebol do Estado do Rio de Janeiro enviou ofício ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, ao Consórcio Maracanã -empresa que administra o estádio- e ao Juizado Especial do Torcedor e dos Grandes Eventos para comunicar que não tinha sido designada a ela nenhuma atribuição para exercer qualquer tipo de participação na organização ou operacionalização do confronto entre Brasil e Argentina.

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No dia do jogo, depois da confusão generalizada dentro do Maracanã, o Coronel Ferreira, da Polícia Militar, afirmou que a organização do evento dificultou a segurança ao vender ingressos sem setor destinado aos argentinos.

- A gente percebeu que a organização do evento efetuou venda de ingressos no estádio de maneira mista. Isso foi um dificultador muito grande para a segurança privada, que solicitou o reforço da Polícia Militar. A PM teve que usar os meios necessários. A gente conseguiu estabilizar o tumulto através de um isolamento físico com os policiais. Normalmente, em todos os jogos que ocorrem aqui, tem um espaço para o visitante e espaço do time da casa. Hoje, a dificuldade foi a venda mista de ingressos no Maracanã - declarou o coronel em entrevista à TV Globo.

Após a repercussão dos tumultos, nesta quarta, a CBF emitiu um comunicado alegando que tomou todas providências necessárias para garantir a segurança do público no Maracanã (confira a íntegra da nota abaixo).

O QUE PODE ACONTECER COM A CBF?

Em relação aos fatos registrados antes de Brasil e Argentina, o delegado do jogo, o colombiano Óscar Astudillo, deve encaminhar um relatório ao Comitê Disciplinar da Fifa. O órgão fará uma análise do relato e pode optar por aplicar o Artigo 17 do Código Disciplinar da entidade, que determina que a associação nacional anfitriã de uma partida é responsável, entre outros temas, "por atos que causem dano; distúrbios na execução do hino nacional, e; qualquer outro ato de desordem ou indisciplina observados no estádio ou em seu arredor" (clique aqui e acesse o documento completo).

Pela regulamentação, a CBF pode ser punida ao pagamento de multa de no mínimo 10 mil francos suíços (aproximadamente 56 mil reais), além de ser sancionada com outras medidas disciplinares, como a realização de jogos sem a presença de público.

Confira a íntegra da nota da Conmebol:
"Após os acontecimentos ocorridos durante as Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2026 e com o objetivo de prestar informações ao público, cabe o seguinte esclarecimento: A CONMEBOL condena todas as formas de violência e sempre cooperará com ações que visem banir a violência, o racismo, a xenofobia e a discriminação.

Neste sentido, a Confederação Sul-Americana tem trabalhado sistematicamente para erradicar este flagelo que atinge o futebol sul-americano e mundial; e se coloca à disposição para continuar colaborando em qualquer iniciativa que busque erradicar a intolerância e a violência no esporte.

Da mesma forma, destaca-se que a CONMEBOL não é organizadora das eliminatórias para a Copa do Mundo. O desenvolvimento das regras que regem as eliminatórias, bem como a decisão de abertura de investigação e a aplicação de possíveis sanções, são competências exclusivas da Fifa."

Confira a íntegra da nota da CBF:

A CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL vem prestar os seguintes esclarecimentos sobre os incidentes ocorridos no jogo Brasil x Argentina, realizado nesta terça-feira 21/11/2023, no Maracanã, válido pelas Eliminatórias da Copa do Mundo FIFA 2023.

É importante esclarecer que a organização e planejamento da partida foi realizada de forma cuidadosa e estratégica pela CBF, em conjunto e em constante diálogo com todos os órgãos públicos competentes, especialmente a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.

Todo o planejamento do jogo, em especial o plano de ação e o de segurança, foram sim debatidos com as autoridades públicas do Rio de Janeiro em reuniões realizadas entre as partes.

Os planos de ação e segurança foram aprovados sem qualquer ressalva ou recomendação pelas autoridades de segurança pública presentes, cada uma delas dentro de sua esfera de atuação(Polícia Militar RJ, SEPOL, Ministério Público, Juizado do Torcedor, Guarda Municipal, CET-RIO, Subprefeitura, Concessionária Maracanã, SEOP, etc.), dentre as quais a Polícia Militar do RJ, na primeira reunião realizada na sede da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ), no dia 16 de novembro de 2023, às 11:00h. Além dos planos de ação e segurança, os participantes da reunião trataram também de toda a montagem da operação da partida, contando com a participação de todas as partes diretamente envolvidas e responsáveis pela organização da partida e autoridades públicas.

Na segunda (20), o plano operacional para o jogo foi igualmente aprovado sem qualquer ressalva ou recomendação na reunião realizada no Estádio Maracanã, com a presença da CBF, representantes da CONMEBOL, da Polícia Militar RJ, das empresas responsáveis pela operação do Maracanã, e que operam mais de 70 jogos no estádio por ano, e outras autoridades públicas

A realização da partida com torcida mista sempre foi de ciência da Polícia Militar do RJ e das demais autoridades públicas, pois é o padrão em competições organizadas pela FIFA e CONMEBOL, como ocorre nas Eliminatórias da Copa do Mundo, na própria Copa do Mundo, Copa América e outras competições. Outros jogos entre Brasil e Argentina, até de maior apelo, como a semifinal da Copa América de 2019, também foram disputados com torcida mista. Não se trata de um modelo inventado ou imposto pela CBF.

Ou seja, todo o plano de ação e segurança foi elaborado e dimensionado já considerando classificação do jogo como vermelha e com a presença de torcida mista, tanto que atuaram na segurança da partida 1050 vigilantes privados e mais de 700 policiais militares da Polícia Militar RJ.

Portanto, a CBF reafirma que foram cumpridos rigorosamente o plano de ação, de segurança e operação da partida, tal qual foram aprovados pela Polícia Militar RJ e demais autoridades.

Por fim, a única recomendação recebida pela CBF de qualquer autoridade pública ao longo de todo o período que antecedeu a partida entre Brasil e Argentina, foi uma recomendação do Ministério Público, da 2ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa da Ordem Urbanística da Capital, para que “NÃO realizem partidas de futebol no ano de 2023 com o formato de disponibilização da carga total de ingressos através de um tíquete eletrônico apresentado mediante exibição do aparelho de telefonia celular, tal como ocorrido na partida da final da Copa Libertadores no dia 04 de novembro de 2023” e que “Exijam no ano de 2023 dos torcedores que se aproximem das catracas a exibição de evidência física (tíquete de papel e/ou cartão de sócio torcedores) de que o torcedor possui um tíquete de ingresso para se aproximar das catracas do Estádio Mário Filho – Maracanã, de modo a evitar a invasão de torcedores que não possuam ingressos para assistir à partida.”

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