Por que a crise do Palmeiras vai muito além de Roger Machado

Time estava estagnado com o técnico, mas diretoria mostrou falta de convicção ao dispensá-lo 24 horas depois de bancá-lo e só três jogos após a parada da Copa. Entenda o cenário

Roger Machado e Maurício Galiotte
Roger Machado ao lado de Maurício Galiotte na Academia - FOTO: Cesar Greco

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A demissão de Roger Machado, anunciada nas primeiras horas desta quinta-feira, é reflexo de uma crise que vai muito além do campo no Palmeiras. Três episódios desta semana ajudam a entender como o time mais caro do futebol brasileiro pode estar com a temporada em xeque logo no início do segundo semestre.

Vamos começar pelo fim, com o terceiro episódio. Noite de quarta-feira, no Maracanã. O Palmeiras "bipolar" de Roger dá as caras mais uma vez: o time jogou melhor no primeiro tempo, mas perdeu ao menos duas chances claras para abrir o placar, tomou o gol em uma jogada de bola parada e não conseguiu fazer absolutamente nada na etapa final. A derrota por 1 a 0 para o Fluminense acabou sendo a gota d'água em um copo que nem parecia tão cheio.

O segundo episódio emblemático foi na terça-feira à noite, quando Alexandre Mattos disse à Fox Sports que confiava no trabalho do treinador. O diretor de futebol até deixou transparecer alguma insatisfação ao dizer que gostaria de ter sido campeão paulista (o time perdeu a final em casa para o Corinthians) e de estar com três ou quatro pontos a mais no Brasileirão (a diferença para o líder era de sete pontos, agora é de oito e será de nove se o São Paulo vencer o Grêmio à noite), mas disse que o momento era de blindar, não de trocar o comando.

Se Roger dava sinais de estar perdido, a diretoria fez o mesmo ao dispensá-lo 24 horas depois de bancá-lo e apenas três jogos depois de uma pré-temporada mais longa que a de janeiro. Se a paciência estava no limite a ponto de interromper o trabalho quase imediatamente após o jogo, não seria melhor ter usado a parada da Copa para iniciar um novo ciclo? Todos os nomes cogitados (Felipão, Luxemburgo e Dorival) já estavam disponíveis quando o Brasileirão parou. A não ser que Mattos estivesse sonhando com Tite, que renovou com a Seleção Brasileira horas antes do "adeus" de Roger...

Parte da deficiência da equipe atual talvez ainda tenha algum resquício de uma outra situação mal conduzida pelo clube. Os problemas da era Cuca no ano passado começaram quando jogadores que chegaram com pompa perderam moral, casos de Borja e Felipe Melo.

Felipe, rejeitado pelo antigo treinador, venceu a queda de braço e foi reintegrado com o status de referência e grande líder do elenco. Depois de fazer um Paulistão muito bom, o camisa 30 não vem jogando bem e talvez mereça ir ao banco de reservas. Roger Machado não deu nenhum indício de que faria isso. Será que não teve receio do mal-estar que essa decisão poderia gerar? Será que não pensou no alto valor investido em Diogo Barbosa na hora de colocá-lo no lugar de Victor Luis, que faz temporada melhor? Será que não colocou na balança todo o esforço feito por Gustavo Scarpa na hora de colocá-lo no lugar de Hyoran, que era um dos melhores do time? O mesmo vale para Dudu, que vem em má fase e segue na equipe.

Em defesa de Roger, vale lembrar que o time perdeu Keno, jogador de característica única no elenco e talvez o mais desequilibrante. Mattos tem dito que Gustavo Scarpa serve como peça de reposição, mas os dois são totalmente diferentes.

A verdade é que o Palmeiras, ao contrário das janelas anteriores, não está com dinheiro sobrando. Aí entra o primeiro episódio da série que citamos acima: na segunda-feira à noite, o Conselho de Orientação e Fiscalização do clube reprovou as contas de fevereiro, como já havia feito com as de janeiro. Por si só, esse fato não tem tanto efeito prático. O clube fechou os dois primeiros meses do ano com déficit superior a R$ 15 milhões, mas vai cobrir o valor com facilidade com o dinheiro das vendas de Keno, Tchê Tchê, Róger Guedes, João Pedro, Fernando e Daniel Fuzato. Só que a reprovação das contas simboliza a crise política vivida pelo clube depois que o presidente Maurício Galiotte topou assumir uma dívida de R$ 120 milhões com a Crefisa.

Esse cenário começou a ser desenhado assim que Galiotte assumiu a presidência. Seu primeiro grande desafio no cargo foi escolher entre Paulo Nobre e Leila Pereira. Ele optou por Leila e decidiu antecipar o pagamento da dívida de mais de R$ 100 milhões que tinha com Nobre. Como Leila se dispunha a colocar o dinheiro para a contratação de reforços, não havia problema. Agora, acabou trocando uma dívida (com Nobre) pela outra (com a Crefisa) e teve que colocar um freio nas contratações feitas com aporte da patrocinadora. Como tem diversas pendências antigas para equalizar, o clube não tem muito dinheiro sobrando para investir no futebol - em um substituto para Keno, por exemplo.

Problemas à parte, o Palmeiras continua tendo material humano disponível para fazer um time capaz de disputar todas as competições em alto nível. Mas é preciso entender que os problemas não estavam só na beira do campo.

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