COB se defende sobre ciência e fecha solução para máquinas subutilizadas

Diretor de Esportes da entidade, Jorge Bichara explica condução do Laboratório Olímpico com a produção científica em segundo plano e assume a responsabilidade por escolhas

Tatiana Weston-Webb - COB
Laboratório enfrenta problemas para atender promessas de produção científica (Foto: Bárbara Mendonça/LANCE!)

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O Comitê Olímpico do Brasil (COB) defendeu nesta quarta-feira suas escolhas relacionadas à gestão do Laboratório Olímpico, após uma série de reportagens do LANCE! apontar itens não cumpridos desde o início da operação da estrutura, em 2016. O projeto custou R$ 13 milhões de recursos públicos, graças a um convênio de fomento à ciência e à inovação, aprovado em 2009. 

Em audiência pública na Câmara dos Deputados, solicitada pelo deputado federal Luiz Lima (PSL-RJ), o diretor de Esportes, Jorge Bichara, assumiu a responsabilidade pela contratação de pessoal fora do meio científico e afirmou que a entidade fechou solução para os equipamentos da bioquímica que custaram mais de R$ 4 milhões e estão subutilizados.

Segundo Bichara, o COB finalizou nas últimas semanas as negociações para que o Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (Ladetec), da UFRJ, receba quatro espectrômetros de massas que estão em sua posse.

É lá que são realizados os testes de doping no âmbito nacional, sob a gestão da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD). A detecção de substâncias ilícitas é um dos principais aplicações da espectrometria de massas no esporte.

O dirigente afirmou que o acordo está apalavrado e deverá ser selado no início de janeiro.

– No momento de direcionar recursos à preparação, eu tomei a decisão de fazer um planejamento sobre esses equipamentos. Não foram possíveis outras fontes, de modo a gerar receitas, e avisei a diretoria que buscaríamos novos usos. No meio deste ano, estabelecemos limite para captar recursos externos. O COB não pode gerar nota fiscal e, por isso, buscou alternativas para o melhor custo benefício. Fomos atrás do Ladetec – justificou Bichara.

No dia 2 de dezembro, o L! mostrou que equipamentos fazem falta a diversos setores da produção científica no país, inclusive no Instituto Nacional do Câncer (INCA), para pesquisas contra a doença. Eles terão de ser devolvidos à Fundação Coppetec, que detém seus registros, e encaminhados ao Ladetec.

– O Ladetec trabalha com espectrometria de massas, seja petróleo, mineral ou matrizes biológicas, e entendemos que poderíamos fechar uma parceria, de forma que eles saíssem da nossa instalação e usássemos quando nos interessasse. Eles assumiram o custo de manutenção – completou o diretor.

Dirigente faz promessa sobre produção científica

Sobre os custos com pessoal, a audiência pública não citou salários, mas questionou a contratação de profissionais sem especialização científica em áreas de comando.

Conforme o L! mostrou, a ex-jogadora de basquete e gerente do Laboratório, Jacqueline Godoy, ganha R$ 19 mil. A coordenadora de Esportes Carolina Bastos fatura cerca de R$ 12 mil e dá ordens na biomecânica, setor chave na prevenção de lesões. Os dados sobre remuneração de funcionários são públicos e estão disponíveis no Portal da Transparência do COB.
 
Do orçamento de R$ 5,64 milhões do setor em 2019, 73% foram gastos com pessoal e 27% com manutenção e atendimentos aos atletas. Em três anos, o crescimento dos gastos com salários e encargos foi de 56%.

Bichara disse que escolheu pessoas de sua confiança para os cargos, em busca do que julgava adequado na transmissão de informações coletadas na avaliações do Laboratório.

– Quando lidamos com certo nível de especialização, lidamos com muitos egos e vaidades. Minha opção era trabalhar com profissionais de educação física, porque a maioria dos doutores queria assumir uma liderança. Tínhamos profissionais extremamente qualificados, mas entendo que cada um deveria ficar em seu quadrado. Busquei pessoas que realizassem a gestão de nossas entregas, se relacionassem com nossos treinadores, de modo a fazê-los entender o que eles estavam recebendo, e não que recebessem um calhamaço de papel que não entenderiam nunca. Não são especialistas na área. Mas são contratadas para fazer suas entregas e atender às cobranças. Acredito ser o modelo correto e que tem deixado os atletas e treinadores mais confortáveis. Fiz essas opções e assumo a responsabilidade – falou Bichara.

Embora contasse no compromisso com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, a produção de ciência e inovação até hoje não aconteceu. Em meio à pressão, Bichara se comprometeu a trabalhar para que as publicações tenham início em março.

– Nossa prioridade é a preparação dos atletas. Acreditamos que é neste caminho que vamos contribuir para o esporte. No momento em que toda a sociedade teve de fazer cortes, eu priorizei dar suporte aos atletas. Eu me comprometo a inciar publicações em março do ano que vem.

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