Loucura e oportunidade única levam torcedores de Boca e River a Madrid

LANCE! conversou com dois torcedores que verão final no próximo domingo, na Espanha. Eles falam de sacrifícios para estar no jogo e são críticos à decisão da Conmebol

Luciano Ríos esteve na Arena Grêmio na semifinal (foto) e estará em Madrid para acompanhar o River 
FOTO: Reprodução

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Após incidentes que causaram a suspensão da partida de volta da finalíssima da Copa Libertadores entre Boca Juniors e River Plate, a Conmebol firmou um acordo com as autoridades espanholas para que a decisão fosse disputada no Santiago Bernabéu, estádio do Real Madrid. A definição deu muito o que falar em Buenos Aires, já que a partida seria disputada fora da América do Sul e a Argentina passa por uma crise econômica, o que dificultaria a ida dos torcedores locais. Porém, uma grande quantidade de argentinos chega ao Velho Continente para acompanhar a partida que receberá "hinchas" de ambas equipes - se a decisão fosse mantida para o Monumental de Nuñez, seria permitida apenas a presença de torcedores do River.

- Diante de tudo, pensávamos que essa final já não teria sentido, mas quando você é torcedor e apaixonado, não pode abandonar as cores do clube ou deixar o time sozinho. Quando foi confirmado que se jogaria em Madrid, não tive duvidas e comprei a passagem. Não tive tempo pra pensar se iria ou não, simplesmente sabia que iria. É uma loucura viajar essa distância, tivemos que conseguir hospedagem e adquirir as entradas, tudo uma semana antes do jogo, e todos sabemos que quanto mais perto da data, mais caro tudo fica - contou ao LANCE! Luciano Rios, de 26 anos, torcedor do River Plate.

- Quando eu soube que seria em Madrid, a primeiro ciusa que fiz foi comprar as passagens. Estive em todos os jogos da Libertadores e agora não seria diferente. Onde o Boca joga, eu estou. É uma oportunidade única na história, não se repetirá outra vez. Não pensei muito, me endividei e ano que vem estarei um pouco complicado financeiramente, mas o Boca gera essas coisas, é de fato uma loucura. Quero contar aos meus filhos e netos que vivi uma final de Libertadores em Madrid contra o River - disse Emiliano Dau, de 27 anos, torcedor do Boca Juniors.

O ataque violento contra o ônibus xeneize na chegada ao Monumental, que levou à transferência do local da partida, não foi o único episódio do superclássico que não aconteceu, no último dia 24 de novembro. Enquanto a Conmebol decidia pelo adiamento da partida, 60 mil torcedores do River Plate aguardaram nas arquibancadas por sete horas debaixo de um forte sol, com acesso restrito aos banheiros (muitos torcedores relataram que estavam fechados) e grande acúmulo de pessoas nos setores de alimentação. O jogo havia sido confirmado para o dia seguinte, domingo, e antes de ser novamente suspenso as portas já haviam sido liberadas para a entrada da torcida. Luciano Ríos sentiu na pele as duas ocasiões.

- Estive sábado e domingo no Monumental. O que vivemos foi horrível, nós que vamos sempre ao estádio passamos por muita coisa, mas nunca nos trataram como nos trataram naquele sábado. Estivemos durante sete horas sem saber absolutamente nada do que estava acontecendo do lado de fora, nos informaram duas vezes uma mudança de horário. As portas do Monumental estavam fechadas, se queríamos sair não podíamos, se alguém tentava entrar também não podia. Não desfrutamos o que estávamos buscando, o clima de final não vivemos em nenhum momento, tanto pelos incidentes do lado de fora, como pela Conmebol.

Devido a falha na segurança nos arredores do estádio, o River foi penalizado com uma multa e perda de dois mandos de campo na temporada de 2019. Além da pena, a entidade continental decidiu que a final seria disputada na Europa, com as duas torcidas presentes, alegando que a Argentina não oferece estrutura adequada para a realização de um evento esportivo de tamanha importância. Daniel Angelici, presidente do Boca Juniors, apelou da decisão por diversas vezes lembrando o ocorrido em 2015, quando a equipe xeneize foi desqualificada na Libertadores nas oitavas de final após um membro da torcida atirar gás de pimenta nos jogadores do River Plate. Muitos torcedores se manifestaram e pediram para que o Boca fosse declarado campeão do torneio, conforme diz o regulamento. Já os millonários, lamentaram o fato de não terem torcida única em Madrid, como ocorreu na primeira partida da final realizada na Bombonera, somente com a presença de aficionados pelo Boca.

- Concordo que a final entre Boca e River ocorra, o futebol deve ser resolvido dentro de campo. O problema é que a Conmebol, num caso similar em 2015, agiu de outra maneira. Isso torna evidente que não é uma decisão justa. jogar em Madrid me parece uma disputa de interesses, nada a ver com a justiça. É um negócio, gerará muito dinheiro e a Conmebol se beneficia dessa maneira. Estou aqui pelo Boca, nada mais - oirgulha-se Emiliano.

- Quando você se inteira que haverá duas torcidas, se sente roubado, sente que te tiraram o mais lindo que tinha. É difícil explicar quando te tiram algo tão importante, é uma vergonha que não pode ser tolerada. As pessoas não podem esquecer o que a Conmebol fez nessas semanas. Essa final deveria ser definida na nossa casa, no Monumental, com a nossa gente. Nos roubaram a alegria, o entusiasmo e a felicidade. Obvio que dói e o torcedor do River sente, essa final perde um pouco o sentido. Quando a bola rola o amor volta, se torna único, como sempre, mas o que passamos nesses dias não ajuda o cenário. Que os responsáveis sejam punidos - ressaltou Luciano.

Luciano viajará nesta quinta, às 18h45 (horário de Brasília). Emiliano chegou na manhã desta quarta (5) na Europa, fez uma escala em Roma e logo irá a Madrid, para acompanhar o festejo da torcida xeneize em frente ao hotel onde a equipe está concentrada. A partida acontecerá no domingo, às 17h30 (de Brasília).

- O aeroporto de Ezeiza estava cheio de torcedores do Boca, os funcionários nos abraçavam, se emocionavam, nos diziam para trazer a taça. Isso porque era uma terça-feira, fico imaginando como será mais para o fim da semana, estará repleto de torcedores. Cheguei ao hostel e já havia torcedores de ambas as equipes, e era um hostel em Roma, não em Madrid, pra que você veja a magnitude. Imagine na Espanha! Nunca me passou pela cabeça conhecer a Europa, não estava nos planos e eu não tinha condições no momento, mas acompanhar o Boca é a minha vida. A alegria que te dá, de ganhar uma copa ou o fato de perde-la não se compara com nada. Não há palavras no dicionário que possam explicar o que o futebol nos gera - contou Emiliano.

Apesar da grande quantidade de torcedores de River e Boca que devem chegar a Madrid para a partida, os torcedores das equipes ainda não esgotaram todos os ingressos cedidos aos clubes para o confronto. 

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