Luiz Gomes: ‘Há muito tempo não se via uma movimentação tão intensa de treinadores. E isso não é ruim’

Fatores econômicos, turbulências políticas dentro dos clubes e ambições profissionais dos técnicos fazem com que o mercado dos treinadores movimente o Brasil neste fim de ano

Montagem - Luxemburgo, Sampaoli e Mano Menezes
Luxemburgo, Sampaoli e Mano Menezes estão disponíveis no mercado da bola (Foto: Arquivo/Lance!)

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Há muito tempo não se via uma movimentação simultânea e tão intensa de treinadores em um final de ano no futebol brasileiro. E isso não é ruim, muito pelo contrário. Afinal, este é o momento certo para mudanças, quando a bola está parada, o planejamento a ser feito para enfrentar os desafios de 2020. Técnicos contratados agora têm condições de acompanhar a pré-temporada, interferir na formação do elenco e, principalmente, impor ao time suas crenças, seu esquema de jogo.

O que mais chama a atenção é que o troca-troca que se vê agora independe dos resultados, do desempenho na temporada que se encerrou. Fatores econômicos, turbulências políticas dentro dos clubes, ambições profissionais dos chamados professores fazem com que até quem foi reconhecidamente bem em 2019 – como Jorge Sampaoli no Santos e Tiago Nunes no Athletico Paranaense - ou quem alcançou objetivos ainda que menos pretensiosos como Vanderlei Luxemburgo, no Vasco, entrem nessa ciranda, agitando o mercado da bola.

É verdade que muitos os que terminaram a temporada passada tinham o rótulo de interino grudado na testa, como Zé Ricardo no Internacional, ou viviam esse mesmo status de forma menos explícita, como Marcão, no Fluminense ou até Mano Menezes no Palmeiras. A saída desses era certa - no caso de Mano, que aliás jamais foi aceito pela maior parte da torcida palmeirense, apenas o milagre de tirar o título do Flamengo na reta final do Brasileirão poderia reverter essa situação e garantir-lhe o emprego.

Por falar em Flamengo, ainda incerto é o futuro do astro-maior da temporada. Qual será o destino de Jorge Jesus? O contrato do treinador se estende ao longo de 2020 mas, como se sabe, tem uma cláusula, uma espécie de janela, que permite a rescisão, sem ônus para as partes neste fim de ano. O resultado do Mundial de Clubes que se inicia para o Rubro-Negro nesta terça-feira terá peso importante na decisão. Conquistá-lo, batendo o Liverpool, poderá abrir de vez as portas do mercado europeu ao 'Mister' tornando financeiramente inviável mantê-lo no Ninho do Urubu.

Jesus, segundo boa parte dos jornalistas esportivos portugueses, é um profissional que preza mais os desafios do que a estabilidade do emprego. Por essa lógica, seu sucesso por aqui, ter conquistado simplesmente tudo o que conquistou pode ter contraditoriamente um peso a favor de sua saída. No entanto - e os mesmos analistas fazem essa ressalva – o técnico também cultiva um ego a flor da pele, por vezes se deixa mover pela vaidade. E, neste sentido, a forma calorosa como é tratado pela torcida rubro-negra e, principalmente, o reconhecimento da mídia pelas transformações que em tão pouco tempo empreendeu no futebol tupiniquim podem ser fatores a contribuir para a sua permanência por mais uma temporada ao menos. O futuro próximo dirá.

Um estudo realizado pela consultoria Pluri, divulgado essa semana sobre a rotatividade dos treinadores no futebol brasileiro, mostrou que o tempo médio de permanência dos profissionais no comando das equipes é de apenas seis meses. Ou seja, os clubes brasileiros utilizam pelo menos dois treinadores por temporada. Vasco, Flamengo, São Paulo, Internacional, Coritiba e Fluminense trafegam nessa faixa. Há casos alarmantes como o de Ceará, Vitória e Sport que mudam o técnico em torno de quatro meses e os de clubes com menos instabilidade como o Corinthians, cuja média ultrapassa um ano, e Grêmio e Cruzeiro onde os treinadores chegam a permanecer por 10 meses. Alvissareiras exceções.

É óbvio que a simples estabilidade de um treinador no cargo não é sinônimo de conquistas. Há uma enormidade de outros fatores dentro e fora do campo que influenciam nos resultados. Mas também com certeza não é mera coincidência a revelação do ranking da Pluri de que entre os clubes que por mais tempo mantêm seus técnicos estejam campeões do Brasileirão e da Libertadores na última década. A cartolagem levar isso em conta, tomando decisões que possam ser trabalhadas agora e no futuro com a razão se impondo sobre a pressão do imediatismo e a emoção dos resultados pode fazer do rebuliço atual algo muito bom para o futebol brasileiro.

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