Luiz Gomes: ‘Fluminense e São Paulo em sentidos opostos’

Partidas do meio de semana, por Taça Guanabara e Libertadores, mostraram os Tricolores com objetivos comuns, porém estratatégias opostas

São Paulo foi eliminado da Libertadores pelo Talleres (ARG) 
(Foto: Rodrigo Gazzanel/RM Sports)

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Fluminense e São Paulo entraram em campo neste meio de semana com o mesmo desafio de vencer ou vencer. A situação do Tricolor paulista era ainda mais complicada, precisava de dois gols de diferença para, nos pênaltis, tentar manter-se vivo na Libertadores. Mas, se os objetivos eram os mesmos, as estratégias foram opostas. Se é que se pode chamar de estratégia o que se viu quarta-feira à noite nos 90 minutos de jogo no Morumbi.

Apesar de ter assumido o cargo ainda no ano passado e comandado toda a pré-temporada aqui e nos EUA – sendo duas vezes derrotado na Florida Cup, é bom lembrar –, André Jardine não conseguiu nem de perto estabelecer um padrão de jogo confiável, não soube lidar com as estrelas contratadas, definir um time que a torcida tricolor pudesse chamar de seu. O resultado disso está expresso em números – 19 jogos, com nove derrotas, três empates e apenas sete vitórias.

Mas nada foi mais significativo da curta passagem do treinador do que os dois confrontos contra o Talleres. No primeiro jogo, em Córdoba, viu-se um São Paulo acovardado, com dois volantes, sem qualquer capacidade ofensiva, abusando das ligações diretas. Um time que mereceu perder, embora o placar de 2 a 0 até tenha sido demais pelo que (não) jogaram também os argentinos. Já o jogo de volta foi ainda pior, não chegou-se a ver um time, mas um bando, desorganizado, emocionalmente desequilibrado, surpreendido pela postura do Talleres de não abrir mão do jogar apesar da vantagem. As substituições de Helinho e Bruno Peres por Nenê e Araruna foram apenas triviais. A entrada do menino Antony, a três minutos do fim, uma mostra de desespero.

Já no Fluminense, Fernando Diniz fez um time de garotos e contratações de segunda linha não se intimidar diante das estrelas milionárias do Flamengo. O técnico surpreendeu o experiente e badalado Abel Braga, deu um verdadeiro nó tático no rival ao adiantar suas linhas de marcação e dificultar a saída dos contra-ataques rápidos, a única proposta rubro-negra durante a partida. Ao contrário de Jardine, Diniz foi ousado. Para vencer, tirou os laterais Ezequiel e Marlon para as entradas de Calazans e Caio Henrique, tornando o time ainda mais ofensivo. O jogo poderia até ter terminado empatado, com o Tricolor eliminado da final da Taça Guanabara. Mas, ainda assim, o treinador e seus moleques sairiam vitoriosos pelo que fizeram no Maracanã quinta-feira.

A vitória épica no Fla x Flu é um sinal de que o time das Laranjeiras está no caminho certo. Diniz é um desses técnicos que precisam de tempo para dar certo, para fazer com que seu time entenda e aplique seu jeito de jogar. Foi assim quando levou o Audax às finais de Paulistão, não foi assim na passagem fracassada pelo Atlético-PR. No Flu, a relação técnico-elenco parece cada vez mais forte, a ponto de vários jogadores terem dedicado a ele a vitória. O gol de Luciano, com quatro passes rápidos e de primeira, depois da falha de Arrascaeta, é uma prova desse entendimento. Mas resultados negativos virão – uma derrota poderá acontecer hoje mesmo contra o Vasco, quem sabe. Isso é completamente normal em um time em formação e que sequer contou ainda com Ganso, sua maior aquisição. A nova diretoria que está por assumir o clube precisará entender isso, que para ganhar essa aposta precisa, antes de mais nada, ter paciência.

Mas voltando ao caso do São Paulo. Esta coluna, como regra, sempre defendeu que treinadores precisam ser respeitados. E ter tempo para desenvolver seu trabalho. É fato que o troca-troca que caracteriza o futebol brasileiro, as demissões que se sucedem ao menor sinal de crise, em nada contribuem para melhorar o nível técnico dos nossos times. A permanência de Jardine, porém, tornou-se de fato indefensável. Ele chegou ao seu limite, mostrou que sua autonomia era curta para um voo tão mais alto.

O treinado demitido, contudo, não pode ser responsabilizado sozinho pela turbulência que, não é de hoje, faz tremer o Morumbi. A diretoria atual – Raí inclusive, seja por ação ou por omissão – tem uma enorme parcela de culpa nessa história. Desde que Leco assumiu, em 2015, foram seis treinadores. As demissões intempestivas de Edgardo Bauza, Ricardo Gomes, Rogério Ceni, Dorival Júnior e Diego Aguirre, esse último em plena reta final do Brasileirão do ano passado, revelam todo o amadorismo, o imediatismo e a falta de norte dessa cartolagem. Ainda que interino, Vagner Mancini terá de se cuidar. E Cuca, quando chegar, vai precisar mesmo de um coração bem forte para segurar essa barra.

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