Expansões, dentro e fora de campo: o que brasileiros visam na Florida Cup

Às vésperas da realização da edição de 2019, LANCE! fala com CEO da competição, participantes de outras edições e especialistas para avaliar o que está em jogo no torneio

Florida Cup tem início nesta quinta-feira
(Foto: Divulgação)

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Mesmo apresentando novidades quanto a seu formato e duração, a Florida Cup manterá em 2019 uma tradição: contar com clubes brasileiros. A partir desta quinta-feira, Flamengo e São Paulo vão representar o país no torneio que, a cada edição, amplia o desejo por intercâmbio entre equipes de várias nacionalidades e uma expansão internacional de mercado.

Segundo o CEO do evento, Ricardo Villar, o formato com quatro clubes e quatro partidas tenta ajudar a preparação dos clubes e abrir espaço para novas atrações em torno da competição:

- O número de clubes foi reduzido para entregar um formato mais atraente ao público e aos times. Além disso, a plataforma está crescendo como um todo. Somos hoje um evento e não um torneio apenas - afirmou, ao LANCE!
 
Além da competição (que, além do Rubro-Negro e do Tricolor paulista, terá Ajax-HOL e Eintrach Frankfurt-ALE), a programação apresenta em 2019 uma corrida de 5Km, um confronto de lendas do futebol nos parques da Universal Studios Florida e um show da cantora Ivete Sangalo. Prova de que, para as equipes brasileiras, há muita coisa em jogo.

VALORIZAÇÃO DA MARCA E INTERCÂMBIO COM CLUBES EUROPEUS

São Paulo x Flamengo
Flamengo e São Paulo serão representantes do país (Foto: Divulgação)

A possibilidade de a pré-temporada servir para clubes brasileiros subirem de valor é exaltada por Ricardo Villar. Segundo o CEO do evento, a Florida Cup dá visibilidade tanto a clubes quanto a jogadores:

- Para os jogadores, é a chance de ter uma exposição global, jogar contra o mercado europeu, por exemplo. Comercialmente falando, a oportunidade é muito boa para internacionalização das marcas, além do retorno natural que participar do evento significa para os patrocinadores que os times já tem.

A sensação de que a pré-temporada no exterior é uma boa chance de subir de valor marca quem participou do torneio com assiduidade. Mandatário de um Corinthians que disputou as edições entre 2015 e 2018, Roberto de Andrade apontou como a ida para a Flórida trouxe impacto ao Timão:

- Usamos a pré-temporada para agregar muito ao clube em relação à marca e à exposição. Além disto, levamos o grupo para um lugar diferente, para uma nova rotina. Isto traz benefícios ao elenco.   

Já aos olhos do presidente do Atlético-MG (que foi campeão em 2016), Daniel Nepomuceno, a Florida Cup surge como uma chance de desenvolvimento para quem a disputa:

- Trouxe de positivo uma exposição internacional para o Atlético-MG. Trata-se de uma competição que une continentes e, enquanto a temporada nacional não começa, temos a chance de jogar contra clubes de outros países. 

Vice-presidente do Bahia que disputou a Florida Cup de 2017, Pedro Henriques também valorizou a possibilidade de levar o clube para um intercâmbio com rivais europeus: 

- Foi interessante. Um convite feito em cima da hora, mas que abriu espaço para uma pré-temporada diferente e que deu chance de estarmos com clubes de outros países. Foi uma forma ótima de trabalharmos, agregou muito para nós.  

Especialista em marketing, João Henrique Areias crê que a Florida Cup traga um progresso financeiro para quem disputa a competição:

- Sem dúvida, os clubes que participam ganham muito em exposição da marca no exterior. A Florida Cup é um evento internacional, o crescimento vai acontecer. Além disto, as equipes brasileiras conseguem um intercâmbio maior com os Estados Unidos e com as equipes de outros países que disputam o torneio.

De acordo com números divulgados pela empresa 2SV Sports, a Florida Cup é transmitida para, ao menos, 106 países. 

O TORNEIO AFETA O DECORRER DO ANO DOS CLUBES?

2015: 15/1 - Corinthians 0x1 Colonia (ALE) (Florida Cup)
Corinthians: não venceu Florida Cup, mas venceu quatro títulos em anos em que disputou o torneio (Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians)

A hipótese da pré-temporada realizada na Flórida comprometer o restante da temporada é rechaçada por quem disputa o torneio amistoso. De acordo com Ricardo Villar, o rendimento do Corinthians comprova as boas intenções da competição:

- Nossa prioridade sempre foi oferecer uma preparação de excelência para os clubes. Recebemos o Corinthians durante quatro anos e, nesse período, a equipe venceu dois Brasileiros e dois Paulistas. Para os treinadores, é a chance de conhecer as deficiências de sua equipe a tempo de tomar as devidas providências, assim como conhecer melhor taticamente equipe.

Segundo Villar, outro fator que pesa é o "intercâmbio" entre clubes brasileiros e de outros países:

- Quando o Corinthians, com o Tite, treinou ao lado do Bayer Leverkusen, significou a oportunidade das duas escolas trocarem muitas informações. Só esse intercâmbio já é válido. A venda de jogadores que passam por aqui é outro ponto importante. Equipes de ponta costumam mandar diretores para acompanhar o trabalho dos jogadores no evento.

Ex-dirigente do Corinthians, Roberto de Andrade confirmou que o torneio amistoso foi crucial para a sequência das temporadas do clube. 

- Eleva o nível técnico do time. São jogos com times fortes, o que é bem melhor do que ficar restrito a treinos em uma pré-temporada - falou sobre o Timão, que foi campeão brasileiro em 2015 e 2017, além de conquistar o Paulista em 2017 e 2018.

De acordo com o ex-dirigente do Bahia, Pedro Henriques, o risco de pré-temporada acidentada passa pela maneira como se encara a competição:  

- Depende muito da forma como o clube encara. A gente trocou os 11 jogadores no intervalo. É saber valorizar o torneio adequadamente, como a gente pensava que a Florida Cup valia. Agora, imagina o São Paulo e Corinthians, que são rivais mas jogaram uma decisão de Florida Cup (em 2017)?

Já o especialista em marketing João Henrique Areias cita Real Madrid e Manchester United para descartar o risco de desgaste na pré-temporada:

- Clubes de ponta como o Real Madrid e o Manchester United usam países como a China ou os Estados Unidos para fazer da pré-temporada a chance de um intercâmbio no futebol. Como se trata de um torneio amistoso, a Florida Cup tende a ser boa para as equipes brasileiras. Os times ficam arrumados e têm condições de iniciar bem o ano.

DESGASTES, PERCALÇOS... AS CRÍTICAS À FLORIDA CUP

Bahia 0x1 Estudiantes - 15/1/2017
'Tivemos de jogar cada tempo com uma equipe diferente', diz ex-dirigente do Bahia (Foto: Felipe Oliveira/Divulgação/EC Bahia)

No entanto, a ideia de fazer as malas rumo à Flórida para a pré-temporada nem sempre traz benefícios por completo. Diretor de marketing do Internacional em 2016, Luiz Henrique Nuñez de Oliveira crê que um projeto de valorização do clube no exterior com um torneio como a Florida Cup só ocorre caso haja um projeto a longo prazo.

O ex-dirigente do Colorado detalhou como era o planejamento do Inter para o torneio:

- Assinamos um contrato de três anos e tínhamos um projeto muito consistente para colocarmos a marca Inter nos Estados Unidos, assim como o de internacionalização, que requer um prazo maior.  No primeiro ano foi bom, mas houve muito mais investimento, o saldo foi muito pouco. Já a partir do segundo ano, mudou a gestão e a nova diretoria optou por não continuar o projeto - afirmou Nuñez de Oliveira, que é um entusiasta de pré-temporadas no exterior com algumas condições: 

- Defendo que estes projetos sejam de longo prazo, com planejamentos de temporadas no exterior e internacionalização, como é feito com o Manchester United, Real Madrid e Manchester City. Nosso desejo era de que o Internacional, no ano seguinte, fizesse sua pré-temporada completa nos Estados Unidos.

Já na parte técnica, também houve queixas de outra equipe. Embora valorize a chance dos brasileiros enfrentarem adversários de outras nacionalidades, o ex-dirigente do Bahia, Pedro Henriques, crê que o calendário do país devia abrir outros espaços para mais "intercâmbios": 

- É nítido este problema de calendário no Brasil, que tem muitos jogos por ano e só dá espaço para jogos neste período de pré-temporada. Por mais que a gente tenha conhecido equipes de outros países na Florida Cup, tivemos de pensar a longo prazo, evitar os riscos de um futuro desgaste físico. Tanto que, nos jogos que fizemos, mudamos a equipe por completo sempre no intervalo.

Consultor de marketing e gestão financeira, Amir Somoggi crê que a competição não chega a ser rentável para os clubes que participam. Aos seus olhos, o futuro é a MLS:

- A Florida Cup é um produto bem abaixo do ponto de vista do que é o soccer dos Estados Unidos. A MLS, ainda que o Orlando City esteja lá, não é na Flórida, naqueles estádios de segunda categoria, com aqueles times, com aquela organização. O soccer dos Estados Unidos cresce em centros como a Califórnia, Seatlle, Nova York, Dallas, Atlanta...

Segundo Somoggi, o caminho nos Estados Unidos é o investimento no soccer:  

- Há muito mais investimento em outros locais para os times jogarem que não têm nada a ver com a Florida Cup. Essa história de Disney, Mickey, não está internacionalizando a marca. Minha empresa Sports Value tem mapeado as grandes oportunidades destes mercados dos Estados Unidos e nenhum deles passa pela Flórida ou pela Disneylândia. Passa, sim, pelo soccer, que é a força que vem para o futuro.

Ricardo Villar rebate as críticas avaliando o bom desempenho de clubes como o Corinthians e destacando o desempenho de profissionais que fizeram as malas para o exterior: 

- Críticas sempre vão ocorrer. Mas nós trabalhamos com o Corinthians durante quatro anos e venceu dois Brasileiros e dois Paulistas. Além disso, grandes treinadores e diretores vencedores do mercado que vieram pra cá comprovaram o benefício que traz uma Florida Cup - afirma o CEO da Florida Cup, que completa:

- Esse período do ano é ideal para sair do próprio país, como os europeus costumam fazer, para realizar esse tipo de trabalho tendo foco na preparação técnica e aproveitando oportunidades de explorar comercialmente a marca.

ORGANIZADOR VÊ CHANCES DE APRIMORAR A COMPETIÇÃO

Logotipo - Florida Cup 2019
Rodada inicial ocorre às 22h (de Brasília) nesta quinta (Foto: Divulgação)

Mesmo com boas expectativas sobre a Florida Cup de 2019, Ricardo Villar ainda crê que a competição tem de se aprimorar com o decorrer das temporadas. O CEO do evento já adiantou uma novidade: deve manter o formato com quatro equipes.

- Acho que a redução para quatro equipes já é um aprimoramento. Não pretendemos aumentar mais o número de equipes, para dar um foco maior nessas quatro marcas. Outro ponto que pretendemos é atrair cada vez mais público local para o evento. Fora isso, é continuar trabalhando as parcerias com os clubes para gerar várias oportunidades no mercado.   

Às 22h, o Flamengo entra em campo diante do Ajax-HOL, no Orlando City Stadium. No mesmo horário, mas no Al Lang Stadium, em São Petersburgo, o São Paulo encara o Eintracht Frankfurt-ALE. Nos Estados Unidos, os dois brasileiros querem mostrar que têm condições de ser sucesso de crítica e público.

TABELA

1ª RODADA


10/01 (quinta-feira)

22h - FLAMENGO x Ajax - Orlando City Stadium, em Orlando 
22h - SÃO PAULO x Eintracht Frankfurt - Al Lang Stadium, em São Petersburgo


2ª RODADA

12/01 (sábado)

16h - FLAMENGO x Eintracht Frankfurt - Orlando City Stadium, em Orlando
19h - SÃO PAULO x Ajax - Orlando City Stadium, em Orlando

*Horários de Brasília

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