Categorias de base e um velho dilema: revelar ou ganhar títulos?

Precursor no cargo de diretor de base no país, Júnior Chávare, atualmente no Tubarão, acha que dá para conciliar os dois, mas prefere priorizar a formação de novos profissionais

Tubarão - Copa São Paulo
Tubarão-SC desenvolve projeto modernizado na base sob o comando de Júnior Chávare (Foto: Divulgação/Tubarão)

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Desde que os clubes brasileiros passaram a dar atenção com mais ênfase às categorias de base, com a criação de novas categorias e modernização das estruturas dentro e fora de campo e, consequentemente, com a descoberta de que essa poderia ser uma rentável fonte de receita para seus cofres, um dilema recai sobre dirigentes e especialistas da área. O que deve ser prioridade na base: revelar novos talentos ou ganhar títulos?

Essa pergunta poderia ser facilmente respondida, mas a verdade é que nem sempre uma equipe que conquiste tudo na basa gerará grandes estrelas. É por isso que Júnior Chávare, atual diretor de novos negócios da K2 Soccer, empresa que administra o Tubarão-SC, defende que os clubes priorizem a formação de jogadores promissores.

Por quase quatro anos, Chávare foi consultor da Juventus, da Itália, no Brasil, justamente para trabalhar na área específica de captação de talentos. Também deu início à profissionalização nas categorias de base do Grêmio, em 2013, em uma época em que a maioria dos clubes ainda não investia na remuneração de dirigentes para as categorias amadoras.

Foi responsável pelo Projeto Lapidar no Tricolor gaúcho, tendo sido decisivo na revelação de atletas como Arthur, Alex Telles, Wallace, Luan, Everton Cebolinha, Ramiro; e também no São Paulo, quando em 2015 recebeu o convite para a mesma função e conseguiu a descoberta de craques como David Neres e Militão.

- A questão do trabalho na categoria de base é muito emblemática, e muitas vezes se cai na teoria do que nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?, entre o conceito de revelar ou ganhar títulos. Na minha concepção, a categoria de base é feita para revelar jogadores. Isso é prioridade e deve ser o foco fundamental. Obviamente, as demais circunstâncias, bem desenvolvidas, vão propiciar que as conquistas passem a vir com a qualidade na revelação dos atletas - declarou o diretor.

No Tubarão-SC, com o respaldo do presidente Luiz Henrique Ribeiro, Júnior Chávare trouxe todo um know-how (conhecimento) para a estruturação dos departamentos de base, mesmo o clube catarinense não sendo de ponta do país. Foi contratado Raffaele Messina, treinador italiano com certificado UEFA B, que hoje é coordenador técnico do projeto. Foram iniciadas a modelagem do psicossocial e toda a modulação do planejamento organizacional, para que o clube pudesse, enfim, postular o certificado de clube formador.

O bom trabalho desempenhado na base do time catarinense fez com que o Grêmio iniciasse uma parceria a partir de 2017, tendo prioridade na aquisição dos jogadores da base, e em contrapartida cedesse alguns meninos que não vinham sendo aproveitados. Além do goleiro Guilherme, que era pretendido por outros nove clubes da série A, o Grêmio fez prevalecer a prioridade em outros dois jogadores no final de 2018: Israel, destaque da Copa São Paulo, e o meia Rafinha.

Diante de toda essa experiência, Júnior Chávare acredita ser possível juntar os dois quesitos: revelar e ser campeão, mas faz algumas ressalvas importantes.

- Quando você consegue fazer com que a qualidade na revelação dos atletas atinja um patamar adequado, naturalmente as conquistas passarão a acontecer. Porém, elas têm que ser secundárias em consideração à questão da revelação. Um exemplo prático: você pode estar numa fase final de campeonato, em que você tem que manter o processo de subir alguns titulares da base para compor uma equipe principal, muitas vezes no banco de reservas, e isso acontecerá em detrimento da final que você vai jogar. Assim que funciona, a base é uma ferramenta para a equipe principal - explicou.

Quem corrobora com a opinião do dirigente é Marcelo Paz, presidente do Fortaleza. Segundo ele, não existe dúvida entre o que é melhor.

- Conquistar títulos é excelente, mas nas categorias amadoras isso deve ser consequência daquilo que é desempenhado na temporada. Não existe dúvida alguma de que a base serve para revelar novos jogadores e capacitar esses meninos, para que cheguem ao time principal já preparados - afirmou o mandatário do clube cearense.

Depois de conquistar o Brasileiro da Série B em 2018, Paz entende que investir na base é uma das prioridades da atual gestão.

- Estamos investindo cada vez mais em pessoas e qualificando nosso corpo técnico, contratando profissionais para áreas como analista de desempenho, fisiologia, área médica. E também temos investido em competições, pois isso dá rodagem e qualifica nossos atletas. Estivemos, por exemplo, com nossa equipe sub-13 na Holanda neste mês - concluiu.

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