Volante do Columbus Crew, Artur compara: “Na MLS, o jogo é mais estudado do que no Brasileirão”

Criado no São Paulo, volante enxerga liga americana à frente da brasileira em termos de estudo de jogo e não descarta possibilidade de naturalização para defender Estados Unidos

Artur - Columbus Crew
Volante brasileiro é um dos destaques da equipe nos Estados Unidos (Foto: Divulgação/Columbus Crew)

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Há dois anos, Artur foi mais um dos jovens jogadores que deixaram o Brasil rumo a outros países com o intuito de desenvolver sua habilidade. O destino, porém, não foi tão comum assim: o Columbus Crew, clube da Conferência Leste da Major League Soccer (MLS), a principal liga de futebol dos Estados Unidos.

O brasileiro de 22 anos, por sua vez, enxergou a oportunidade de jogar nos Estados Unidos de uma forma positiva. Ao LANCE!, Artur falou sobre o início da sua trajetória em uma das maiores nações do mundo, destacando que sua vontade de aprender as características do país e seu estilo de jogo foram fundamentais para que ele superasse a dificuldade de se mudar para tão longe.

- A primeira coisa foi a minha vontade de querer aprender e me adaptar aqui. O que me ajudou também foi a intensidade de jogo que eu já tinha antes de vir para cá e, como o jogo (dos Estados Unidos) é bem tenso, eu não senti muita dificuldade. Mas o principal mesmo foi a minha vontade de aprender, de se adaptar.. Não conhecia ninguém quando vim para cá e só comecei a ter mais contato com o passar do tempo - afirmou.

Artur começou sua carreira no São Paulo. Apesar de não ter participado muito em nível profissional, o volante fez parte de uma geração dourada das categorias de base, conquistando duas Copas do Brasil e uma Libertadores com a equipe Sub-20 tricolor. Em um primeiro momento, seu objetivo era permanecer no clube do Morumbi, mas diretrizes resultaram em um desembarque em Columbus.

- Quando estava no São Paulo, meu plano era continuar a minha carreira profissional por lá, eu já tinha estreado, tinha jogado quatro partidas, só que a decisão veio de lá (do Tricolor). Falaram que não iam me utilizar no ano e o Columbus estava fazendo a pré-temporada no Brasil, quando o ex-diretor do clube, o Ricardo Moreira, soube que eu estava disponível, e fez a proposta. Assim, tomei a decisão de jogar no Crew - completou.

Nos últimos anos, tornou-se comum ver jogadores jovens deixando seus clubes no Brasil com poucas partidas na categoria principal e se transferindo para outros países - no próprio São Paulo, existem dois exemplos recentes: David Neres para o Ajax e Luiz Araújo para o Lille. O leque de opções é bem amplo, atingindo jogadores com potencial no futuro. Uma das razões que explica essa situação é a disparidade financeira entre os clubes brasileiros e os estrangeiros, que, quando fazem propostas oficiais, deixam os times tupiniquins em uma situação de ‘saia curta’.

Artur entende que não há uma solução correta para esse processo de amadurecimento dos jogadores profissionais. Na opinião do atleta, cada caso tem que ser analisado minuciosamente, mas que, ‘excluindo’ essa relação econômica e de disparidade financeira envolvida, seria positivo que os atletas permanecessem mais tempo no futebol brasileiro. Nesse lado, também é possível encontrar exemplos: no começo da década, Neymar, Lucas Moura e Oscar foram alguns dos jogadores que permaneceram um tempo no futebol local antes de se transferirem para outro país.

Artur - Columbus Crew
Volante foi revelado pelo São Paulo (Foto: Divulgação/Columbus Crew)

- Eu penso que seria melhor os jogadores jovens ter mais oportunidades no Brasil, porque todos sabem da qualidade que o futebol brasileiro possui, só que a cultura de hoje é assim: os times de fora chegam e levam os jogadores. No meu caso, eu tomei essa oportunidade de jogar nos Estados Unidos para pegar experiência, porque fui com um ano de contrato, mas, quando conheci tudo de perto, minha perspectiva mudou muito, porque vi que a liga é boa, está crescendo, é competitiva. Acho que isso depende de cada jogador e de suas oportunidades, essa experiência longe do Brasil foi boa para mim, porque conheci, peguei experiência, mostrei meu futebol e estou construindo meu nome aqui e acho que é importante o jogador ter experiência e começar a jogar, aonde ele tenha oportunidade, seja no Brasil ou fora. Quando um jogador jovem de talento tem espaço, ele passa a ser conhecido e todo mundo passa a ver e conhecer - analisou.

Apesar desse período de forte exportação, não é comum ver jovens jogadores do Brasil saindo para os Estados Unidos, apesar de muitos atletas de países vizinhos na América do Sul estarem fazendo esse caminho e se desenvolvendo com rapidez, como o paraguaio Miguel Almirón, destaque do Atlanta United que pode jogar no Tottenham no ano que vem, e o argentino Ezequiel Barco, vencedor da Copa Sul-Americana de 2017 com o Independiente, apesar do retrospecto ruim na terra do Tio Sam. Artur elogiou essa evolução, destacando o crescimento da MLS.

- Tem a diferença de cultura, do estilo de jogo (em relação ao Brasil). Aqui é um pouco mais intenso, eles estudam muito cada time, os jogos, é tudo sempre muito estudado. Mas a qualidade no Brasil ainda é um pouco mais alta, por questão da liga daqui (MLS) ainda ser nova, mas ela está crescendo muito, a competitividade aumentou desde que eu cheguei até agora, eu já notei uma grande diferença nesse sentido - afirmou.

O volante afirmou que um dos motivos que o ajudou na rápida adaptação foi encontrar um estilo de jogo em Columbus que acompanhava seu estilo dentro das quatro linhas: o de posse da bola, que é seguido por Gregg Berhalter, treinador do Crew. Artur é um volante pensador, que dificilmente toma alguma decisão errada e tem no controle da bola e distribuição de jogo suas principais qualidades.

- O jeito que o Gregg (Berhalter) joga é muito bom, ele é um ótimo treinador, está sempre com a posse de bola e querendo encontrar espaços que a outra equipe deixa. Para mim, foi bom porque eu trabalhava com o (André) Jardine, que agora foi efetivado até o final do ano no São Paulo, que tem também esse estilo de toque de bola e posse. Eu já tinha uma ideia do conceito e foi bom, já me senti mais à vontade com as minhas características de intensidade, de passe. Foi importante para mim - admitiu.

Mudança de cidade
Como as equipes da MLS são consideradas franquias - ou seja, possuem um dono -, elas estão sujeitas a mudanças drásticas a cada temporada, como, por exemplo, um deslocamento de cidades ou até mesmo a alteração do nome da equipe. Nessa temporada, o Columbus Crew passou uma por uma situação simular, já que o dono da equipe estava com o desejo de se deslocar para Austin, outra cidade do país, apesar dos protestos dos torcedores.

No fim, acabou que Jimmy Haslam, dono do Cleveland Browns, uma das franquia da NFL, acionou com a aquisição do Columbus Crew, afirmando que não mudaria nenhum aspecto da equipe. Artur, por sua vez, afirmou que essa questão burocrática não influenciou no desempenho da equipe durante a temporada na competição.

- Desde o começo da temporada a comissão, o Gregg (Berhalter, treinador da equipe) já vinham conversando com a gente, e sempre que eles tinham alguma novidade eles sentavam e passavam para nós. Mas a gente estava focado no campeonato, no que tínhamos que fazer, porque, movendo ou não a equipe, isso não cabia para nós (jogadores) decidir, e fora que não podíamos interferir em nada também. Para nós, coube apenas ficar focado na temporada e acho que não interferiu muito no nosso desempenho não - avaliou.
Como esse aspecto não é comum no Brasil, Artur afirma que não possui muita noção para comentar sobre, até pela falta de vivência, mas destacou a preferência de permanecer no mesmo lugar para formar uma história com o local e os torcedores.

- Para nós (brasileiros) é diferente, porque não vimos isso muito no Brasil, mas eu sinceramente não sei como funciona esse processo direito. Eu acho importante cada clube construa sua história em um lugar, manter a história. Não sei bem como é bem a política daqui, mas eu acho que a história é importante, onde o clube se criou, cresceu, fez nome.. É importante manter isso tudo - afirmou.

- Por eu ser um atleta profissional, se o clube se movesse, e eu tivesse que ir, eu iria feliz para fazer meu trabalho feliz, em Austin ou onde quer que seja. Para mim, se ficasse em Columbus ou fosse para outra cidade, em qualquer outro lugar, eu teria a mesma disposição para fazer meu trabalho. A decisão que teve foi que um novo dono que comprou o clube, vamos acabar ficando em Columbus, então fico contente por essa decisão e vou fazer meu trabalho da mesma forma onde quer que seja - completou.

Artur - Columbus Crew
Artur indica que o jogo na MLS é mais estudado do que no Brasileirão, sendo melhor taticamente (Foto: Divulgação/Columbus Crew)

Taticamente falando: o futebol dos EUA é superior ao do Brasil
Uma das questões mais levantadas pelos estudiosos do futebol e torcedores que buscam entender o esporte não apenas dentro das quatro linhas é o nível tático do Brasil. Muito por conta da cultura do imeadiatismo, é praticamente impossível ver um treinador em um longo período no mesmo clube - com raras exceções -, o que traz a dificuldade do avanço nos termos de esquemas e jogadas e, por consequência, no nível técnico.

Na visão de Artur, apesar do pouco tempo como profissional no Brasil, o jogo é mais estudado na MLS do que no Brasileirão, com o trabalho das comissões técnicas ser bem mais intenso nesse sentido. O reflexo pode ser visto nas duas ligas, já que, apesar do nível técnico, a liga norte-americana é o berço de muitos esquemas táticos - por exemplo, o Sporting Kansas City joga com a bola no pé, o New York Red Bulls em um jogo de pressão ao adversário, o Atlanta United com mais verticalidade e assim por diante.

- Pelo o que vejo, aqui (nos Estados Unidos) eles estudam um pouco mais a tática e o adversário, então os jogos passam a ser mais estratégicos. A qualidade aqui está crescendo muito, esse ano teve um jogador do Vancouver (Whitecaps) que foi vendido para o Bayern de Munique (referindo-se ao canadense Alphonso Davies). Os times também estão subindo em qualidade, o Atlanta, o (New York) Red Bulls fez a melhor campanha da história, com 71 pontos. Nessa questão (estudo do futebol), está a frente sim - comparou.

Apesar de um lapso em relação ao nível técnico, já que o futebol estadunidense passa por uma evolução no futebol há pouco tempo, Artur enxerga que a MLS está um passo à frente em relação ao Brasileirão no sentido do estudo de jogo, no que diz respeito aos esquemas táticos e métodos de treinamento, além de serviços longe das quatro linhas, como a análise de desempenho.

- Nessa questão sim (EUA estar à frente do Brasil), na questão de estudar o adversário, de observar e antecipar o que o adversário vai fazer. Pelo o pouco que vi, eu não posso generalizar porque não fiquei muito tempo no Brasil, eles (Estados Unidos) estudam muito e o jogo na MLS é mais tático do que no Brasileirão - disparou.

Artur - Columbus Crew
Brasileiro se adaptou aos EUA (Foto: Divulgação/Columbus Crew)

O que dá para melhorar no Brasil?
No sentido do pouco estudo no futebol brasileiro, Artur indica possíveis soluções para a melhora do futebol nacional, destacando que a continuidade do treinador é uma das questões importantes para a melhoria dos trabalhos nos respectivos times, o que geraria, por consequência, a evolução do esporte em terras tupiniquins. Ou seja, o volante vai contra à ideologia do imediatismo, que demite e contrata muitos treinadores ao longo de uma temporada no Brasil.

- O trabalho tem que ter uma sequência para chegar em um entendimento e entrosamento, e se o treinador não tem tempo e espaço de trabalhar e as coisas não fluem bem em poucos jogos, já tem que mudar, e aí começa outro treinador com outras características e é sempre muito difícil de se adaptar. Acho que essa questão seria importante porque cada time passaria a ter sua característica e, que isso possa ser criado desde as categorias de base até o profissional, criando os meninos com a cabeça e ideias que o profissional vai ter. Isso deixa tudo mais fácil, a adaptação e o desenvolvimento do profissional - bradou.

Em relação aos Campeonatos Estaduais, um dos ‘responsáveis’ pelo enxuto calendário - que também ajuda na questão das trocas de treinadores -, Artur afirma que os torneios são importantes, mas que é, apesar de não ter indicado uma solução de fato, essencial que o formato dos mesmos mude.

- Nessa questão, eu não sei o que poderia ser feito, porque acho que é importante ter os campeonatos (Estaduais). Deve ser melhorada a logística, que estudasse um pouco mais como pudesse melhorar para todos os clubes, acho que ajudaria muito. Não sei se a diminuição dos Estaduais iria ajudar, mas acho que poderia ser estudado um jeito de poder fazer em um tempo mais acessível para todos os times - declarou.

Gregg Berhalter nos Estados Unidos
Apesar de não ter vencido nenhum título da MLS, as seguidas boas temporadas com o Columbus Crew propiciaram o treinador Gregg Berhalter a ser anunciado como o novo treinador da seleção dos Estados Unidos, substituindo Dave Sarachan. Artur acredita que o técnico conseguirá implementar seu estilo de jogo na equipe, que não disputou a última Copa do Mundo e, por isso, precisa de um trabalho consolidado.

Artur - Columbus Crew
Brasileiro elogiou Gregg Berhalter (Foto: Divulgação/Columbus Crew)

- Aí vem um pouco que falei antes, da questão do tempo. Para esse estilo de trabalho que ele tem, acho que precisaria de calma para os jogadores entenderem, porque cada atleta vem de um clube diferente, com características diferentes, e para eles assimilarem o que ele quer não seria algo de imediato. Acho que ele conseguiria sim implantar esse método na seleção, porque ele é um grande treinador, inteligente, muito bom com os jogadores, com os grupos e acho que não seria muito problema para ele colocar esse jeito de jogar na seleção não - afirmou.

Artur destacou a personalidade de seu antigo treinador, que passou pouco mais de cinco anos no Columbus Crew, indicando que ele é uma pessoa que sabe lidar bem com os atletas, com a noção do que e quando falar para com os jogadores.

- Ele é do momento que a gente (jogadores) necessita. Se a gente está precisando acordar para o jogo, quando não estamos jogando o que é esperado, ele dá bronca na defesa, ele fala o que tem ser dito. Mas quando a gente faz um bom trabalho ele sabe reconhecer o que fizemos. Sabe elogiar e dar bronca nas horas certas - indicou.

Possibilidade de se naturalizar?
Artur assinou por empréstimo no ano passado com o Columbus Crew por empréstimo, e, apesar do desejo do São Paulo em repatriar o atleta, o clube do país da América do Norte exerceu sua opção de compra e assinou um contrato a longo termo com o brasileiro. O volante se vê feliz nos Estados Unidos, mas afirma que possui o sonho de atuar na Europa, destacando que terá que empilhar boas atuações para que isso aconteça.

- Quando eles (Columbus Crew) me compraram em definitivo, eu assinei por quatro anos, então ainda tenho três restando. Eu tenho o sonho de jogar na Europa, evoluir na carreira, sempre dar um passo à frente, mas eu não sei como vai ser daqui para frente, porque eu não penso muito no que vai acontecer no final do ano, eu procuro jogar cada jogo do melhor jeito e assim acho que as coisas virão, clubes vão se interessar. Vou ter minha recompensa do que for feito no campo, então eu só penso em fazer meu melhor, para que assim coisas boas virem na frente, quem sabe melhores clubes ou também a Seleção.. Não por agora, mas quem sabe mais na frente - declarou.

Assim como praticamente todo jogador, o sonho de Artur é defender a seleção nacional, como ele mesmo citou. Mesmo se destacando nos Estados Unidos, é difícil imaginar que ele esteja no radar de Tite para as próximas convocações do Brasil por atuar em um campeonato que ainda não é bem visto no país, e, por isso, não descartou a possibilidade de se naturalizar para defender a equipe estadunidense.

- Essa questão de ficar aqui e ter a oportunidade de me naturalizar e representar a seleção dos Estados Unidos é um caso a ser pensado também, porque é um nível a mais na carreira. Mas claro, meu sonho de criança é jogar na Seleção Brasileira, mas se, caso chegue a oportunidade de se naturalizar, é um caso a ser considerado mais à frente, e para mim não é nada descartado - finalizou.

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