Análise: Nova derrota em jogo grande na Liga dos Campeões é o choque de realidade final para o Barcelona

Catalães se distanciam cada vez mais do grupo dos principais times europeus e já não conseguem se impor nem ao menos no Campeonato Espanhol

Barcelona x Juventus - Messi e Cristiano Ronaldo
A Juventus de Cristiano Ronaldo derrotou o Barcelona de Messi com facilidade no Camp Nou (Foto: JOSEP LAGO / AFP)

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Quando o Barcelona foi derrotado pelo Liverpool por 4 a 0, no jogo de volta da semifinal da Liga dos Campeões da UEFA, em 2018/2019, aparentemente os problemas eram somente as táticas de Ernesto Valverde. Pouco mais de um ano depois, sem Valverde, o time foi humilhado impiedosamente para o Bayern de Munique, nas quartas de final do torneio europeu, por 8 a 2.

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A transferência de culpa visou alguns alvos em particulares: jogadores como Sergi Roberto, Sergio Busquets ou até mesmo Gerard Piqué e, claro, como não poderia deixar de ser, o técnico da vez, na ocasião Quique Setién, o mesmo que, quando fora anunciado, parecia trazer ares de reciclagem e, principalmente, de recuperação do estilo barcelonista de jogar. A bem da verdade, também foi o início do fim da gestão do presidente Josep Maria Bartomeu, que viria a pedir renúncia meses depois.

Na terça-feira, em mais um jogo grande pela Champions, lá foi o Barcelona sair de campo derrotado de forma acachapante novamente. No Camp Nou, a Juventus não precisou se exibir como os alemães ou os ingleses, mas teve organização e disciplina suficientes para vencer por 3 a 0, justamente o placar primordial para garantir o primeiro lugar do grupo. Assim sendo, o Barça corre o risco de, nas oitavas de final, bater de frente mais uma vez com Bayern ou Liverpool, além de rivais dos quilates de Manchester City, PSG, Chelsea ou Borussia Dortmund. Quase uma tragédia explicitamente anunciada. 

O novo e cruel choque de realidade ocorre rigorosamente quando o Barcelona não teve, dentro ou fora das quatro linhas, aqueles que, um dia, foram dados como maiores distúrbios atual, como se, num passe de mágica, tirá-los significasse um aumento de competitividade: contra a eneacampeã italiano, Piqué e Sergi Roberto sequer ficaram no banco, enquanto Busquets não foi utilizado por um minuto. Na área técnica, quem agora comanda o time é Ronald Koeman.

O processo de "saída" dos catalães da chamada "elite europeia" não vem de hoje. Ela foi gradual, talvez iniciada já nos tempos onde "enfrentar o Barcelona" era uma expressão que causava pânico. Depois do título europeu de 2015, com encantador trio de ataque "MSN" (Messi, Suárez e Neymar), o Barça, no mata-mata da principal competição de clubes do mundo, perdeu por três ou mais gols em cinco jogos, contra cinco adversários diferentes: além dos já supracitados Liverpool e Bayern, teve a eliminação para a própria Juventus, em 2017, por 3 a 0, para a Roma, em 2018, também por 3 a 0, e o revés para o PSG, na ida das oitavas de final em 2017, por 4 a 0, levemente mascarado pela histórica virada na volta por 6 a 1.

Atlético de Madrid x Barcelona - Carrasco
O Atlético de Madrid lidera o Campeonato Espanhol e venceu o Barcelona no confronto do primeiro turno (Foto: GABRIEL BOUYS / AFP)

O catastrófico cenário no qual o Barcelona chegou é resultado de uma bolha que inevitavelmente explodiria. Ao terminar a temporada sem títulos em 2016/2017, a última de Neymar e Luis Enrique no comando técnico, ficou evidente como prodigioso plantel multicampeão na primeira metade da década (e que ainda levava um pouco do "selo Guardiola") já necessitava, mesmo que minimamente, passar por um processo de renovação. O elenco carecia de reservas para jogadores que faziam parte da espinha-dorsal, e a diretoria teve a faca, o queijo e 222 milhões de euros (preço que o PSG pagou para tirar Neymar do futebol espanhol) para começar uma reformulação a longo-prazo visando tirar um "último proveito" de Messi nos anos seguintes.

Não aconteceu. E (o pior) as ações subsequentes do presidente Bartomeu só colocaram ainda mais em xeque sua gestão. Mal distribuída, a grana da negociação do brasileiro foi boa parte "embora" na compra de Ousmane Dembelé, então promessa do Borussia Dortmund, por 105 milhões de euros fixos, mais 40 milhões de variáveis em bônus.

Em 2018/2019, o Barcelona chegou a passar um ano inteiro sem um reserva para Jordi Alba na lateral esquerda, um segundo lateral direito de origem ou substitutos para Busquets e Luis Suárez. Vilipendiada, a base, que sempre rendeu bons frutos à equipe principal, foi desamparada, e o próprio surgimento de Ansu Fati, melhor promessa do clube nos últimos anos, foi mais "obra do acaso" do que partes de etapas.

Alavés x Barcelona
O Alavés derrotou o Barcelona por 1 a 0 na 7ª rodada de LaLiga (Foto: CESAR MANSO / AFP)

O resultado dessa negligência é perfeitamente traduzido nos resultados da atual campanha e na montagem do elenco, que, agora sim, vai precisar de tempo para poder mostrar valor diante de tanta caras novas e/ou inexperientes. Nomes como Pedri ou Trincão, de 18 e 19 anos respectivamente, ou Ronald Araújo e Dest, ambos com 20, estão tendo que arcar tão cedo com a responsabilidade de vestir uma camisa que, automaticamente, só pelo nome e histórico sobretudo recente, é colocada sob pressão a qualquer custo. Mas a triste particularidade culé é que, hoje, o time não é favorito nem a levantar o troféu da Copa do Rei.

Não bastasse a inferioridade em âmbito internacional, a soberania doméstica pouco a pouco foi sendo apagada. Hoje, é o 9º colocado de La Liga com 14 pontos, 12 atrás do líder Atlético de Madrid (mas com dois jogos a menos). Maior campeão espanhol no século XXI, o Barcelona tem mostrado ineficácia contra os principais rivais nacionais desde a temporada passada.

Não foi capaz de vencer o Real Madrid em dois jogos, empatou em casa com o Atlético de Madrid, perdeu para o Valencia no Mestalla e foi parado pelo Sevilla na Andaluzia, na rodada que marcou a perda da liderança e, consequentemente, da busca pelo tricampeonato. Na Copa do Rei, eliminação precoce para o Athletic Bilbao. Atualmente, já perdeu para Real e Atlético e empatou no Camp Nou com o Sevilla.

Exprimidos até as últimas gotas, os "senadores" conseguiram dar um gás final no Campeonato Espanhol, com duas sólidas conquistas consecutivas em 2018 e 2019 (nesse último ano já mais à base de um pletórico Messi, exibindo-se domingo sim, domingo também), mas a retomada de poder do Real Madrid, em 2020, foi justa e merecida, contra um Barcelona largado, perdido e começando a fechar os olhos para a futura hibernação. Aqui, só o tempo dirá o que está reservando para o clube.

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