Mãe de Arthur Vinicius detalha atrito com o Flamengo e explica ‘um ano de adaptações’

LANCE! conversou com Marília Barros, que detalhou os motivos que o fazem ter se decepcionado com a postura do clube após a tragédia, que completa um ano neste sábado

Arthur Vinicius Flamengo
Arthur Vinicius era zagueiro e faleceu aos 14 anos de idade (Foto: Reprodução)

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Natural de Volta Redonda, Arthur Vinicius completaria 15 anos no dia seguinte ao do incêndio no Ninho do Urubu, que vitimou o zagueiro e outros nove jovens que moravam em um alojamento destinado às categorias de base do Flamengo. A dor só tende a aumentar e a vida seguir com "adaptações", como aponta Marília Barros, mãe de Arthur, em entrevista ao LANCE!

Marília faz parte das seis famílias e meia que ainda não entraram acordo com o Flamengo. Aguardam o inquérito e a definição dos valores da indenização. No entanto, a reclamação converge à de outros parentes na mesma situação: a ausência de "acolhimento" por parte do clube. 

- Em nenhum momento eu me sinto acolhida pelo clube. Falta essa sensibilidade. Há um ano, por volta das sete e meia da manhã, recebi telefonema de um colega do trabalho sobre o ocorrido. Eu tentava falar com o Arthur, imaginei que ele estava sem luz, sem Wi-Fi. Nada, não vinha notícia. Eu não recebi um telefonema, não foi falado nada do que vinha acontecendo. Na época, fui acolhida por um psicólogo, um médico, mas, até então, não falei com ninguém que represente a diretoria. Eu falo que (o Flamengo) poderia ter feito com o passar do tempo, naquela semana mesmo, falasse com representante de cada filho. O acolhimento, nada disso ocorreu.

- O contato que eu tive foi quando, no dia do enterro do meu filho, uma pessoa veio para entregar o passaporte dele e uma bandeira do Flamengo. Nem o nome do Arthur essa pessoa sabia. Depois, uma psicóloga veio falar comigo, perguntar se eu queria suporte. Desde maio ela não fala mais comigo. Em maio mesmo, recebi um telefonema de uma pessoa que dizia ser um advogado do Flamengo, passei o número do meu advogado e, depois, não houve mais contato (por parte do clube) - completou. 

Por telefone, a mãe de Arhur Vinicius desabafou e explicou como tem sido a sua dura rotina desde fevereiro de 2019. E explicou "um ano de adaptações":

- Foi um ano de adaptações, primeiro Dia das Mães, dos Pais, das Crianças, Ano Novo, Páscoa, Natal... Cadê meu filho? Não tem abraço, não tem um beijo, aconchego, não há mais nada. Ano muito difícil, muita dor, saudade, é uma dor que não passa, essa saudade também, só irá aumentar.

É esse sentimento, acho que deveriam ter. Reconhecimento, eles tinham responsabilidade e comprometimento com o clube, se dedicavam.

Confira outras respostas de Marília Barros, mãe de Arthur Vinicius:

Ainda tem conversas com o clube para chegar a um acordo pela indenização?

- Não, o contato que tivemos com o clube a respeito da indenização foi no dia 21 de fevereiro, mas o valor que propuseram não aceitamos. De lá para cá, não tivemos mais contato. Este foi o único.

Como vê o tratamento do clube às famílias da vítima e sobre todo o caso?

- Sobre o tratamento, vejo insensibilidade, abandono. Me sinto abandonada pelo clube, desprezada. O que eu acho: tudo que foi pedido para os pais, sobre documentação, horário, comprometimento, tanto dos pais quanto das crianças, foi cumprido. E qual a responsabilidade que o Flamengo tem como os pais neste processo? Eu falo o seguinte: essas crianças não vão mais dar retorno financeiro para o Flamengo e as famílias vão deixar uma dívida para eles. A falta de sensibilidade desde o ocorrido, nesses 365 dias, foi muito grande, há abandono. Essa fala de que, para falar com as famílias tem que falar com os advogados antes... Quando foi dito isso? Pelo menos, comigo, nunca. Tanto é que a imprensa, quando tenta falar comigo, eu atendo. Não houve qualquer telefonema por parte deles.

'Me sinto abandonada pelo clube, desprezada'




Um ano após a tragédia, ainda não foram apontados os responsáveis pelo ocorrido. O quanto isso é importante para a senhora?

- O importante é que seja averiguado e resolvido para saber quem é o culpado. Nada vai trazer essas crianças de volta. Qual foi a verdadeira culpa? É algo que deve ser resolvido e ter as atitudes tomadas, pois os clubes têm muita responsabilidade quando abrigam crianças. Neste caso, o que nos foi devolvido? Um caixão lacrado, com o meu filho.

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