Coluna: ‘Touros vermelhos e soberanos’

'No mundial de construtores, um estrago para a Ferrari: enquanto a Red bull colheu o máximo de pontos possíveis (fazendo a 3ª dobradinha do ano), a equipe italiana zerou'

Verstappen
Verstappen faturou o GP do Azerbaijão (Foto: NATALIA KOLESNIKOVA / AFP)

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No Dia dos Namorados, e na semana em que Lewis Hamilton (uma espécie de namoradinho do Brasil) ganhou seu título de cidadão honorário brasileiro, foi disputada a 8ª etapa da temporada, o GP do Azerbaijão. O rápido circuito de rua fica em Baku, capital dessa ex-república soviética riquíssima em petróleo e gás natural, debruçada às margens do Mar Cáspio. Uma cidade linda, cujo elegante centro pode ser tranquilamente confundido com uma capital europeia.

A pista de rua perpassa toda essa área da cidade, com trechos cercados por muralhas do século XII que são patrimônio mundial da UNESCO (İçəri Şəhər). Mas há também partes muito rápidas, com destaque para a maior reta do campeonato (2,2km), onde o bom e velho vácuo é muito importante.

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O traçado é desafiador para os pilotos (número recorde de troca de marchas por volta: 68) com trechos onde a largura da pista é mínima (7 metros), embora, atipicamente, esse seja um circuito de rua que favorece muito as ultrapassagens, e onde geralmente se vê um belo e imprevisível espetáculo – em 2019 foi a prova com mais ultrapassagens em toda temporada.

Nas sete vezes que a prova foi disputada, sempre houve vencedores distintos, muitas entradas do safety car e uma única corrida em que o pole foi o ganhador. Ontem, no entanto, a animação deixou a desejar.

Nos treinos, pouca novidade. Charles Leclerc novamente cravou a pole, seguido pelas duas red bull – embora com Sergio Perez à frente de Max Verstappen . Lance Stroll conseguiu a proeza de bater duas vezes na mesma volta, interrompendo o treino. Como já comentamos aqui, a sua sorte é que a equipe é do pai dele...

No domingo viu-se uma boa largada de Perez, já tomando a ponta. Aliás, alguns pilotos se queixam da posição da pole position em Baku, que fica à direita, apesar da 1ª curva ser à esquerda, o que facilita a tangência para quem vem na 2ª posição, especialmente pela pequena distância entre a largada e a curva inaugural, de apenas 138 metros. Afora essa ultrapassagem, nenhuma outra alteração no pelotão da frente até a volta 9, quando o motor Ferrari de Sainz apagou, piorando a situação do piloto espanhol, que, como sabemos, vem passando por uma fase difícil.


A bandeira amarela que surgiu alterou a estratégia de pneus de Leclerc, precipitando sua parada e a troca para pneus duros, possivelmente apostando em ir até o final. Teria sido uma cartada interessante, até porque as Red Bull ficaram na pista partindo para um stint mais longo. Mas, para chegar em primeiro, primeiro é preciso chegar. As esperanças de vitória do monegasco ficaram na chapelaria do prédio; na volta 22, seu motor estourou, deixando a corrida no colo dos touros vermelhos.

A essa altura, a possível emoção da prova residia no improvável duelo entre as Red Bull, uma vez que Perez liderava a prova. Todavia, como já vimos esse ano, quando o Verstappen se aproximou, o mexicano ouviu um aviso curto e grosso pelo rádio: “No fight”. E com isso o destino da corrida foi selado e Verstappen, tranquilo como uma vaca na Índia, cravou sua quarta vitória na temporada, escoltado inofensivamente por Perez.

Verstappen comemorando a vitoria
Verstappen comemora vitória no Azerbaijão (Foto: NATALIA KOLESNIKOVA / AFP)


O holandês lidera o campeonato com 150 pontos, 21 de vantagem sobre Sergio Perez (que tem 129 e tomou a segunda posição de Leclerc, que se manteve com 116). O mexicano está de contrato renovado (para tristeza de Pierre Gasly, que correndo na AlphaTauri, a equipe “B” da Red Bull, sempre tem esperanças em voltar para o time principal).

Embora essa ordem de equipe fosse certa como a aurora, Cristian Horner tentou dourar a pílula, após a prova, dizendo que ele apenas havia pedido que, em caso de disputa, os seus pilotos deixassem espaço um para o outro, temendo a repetição do pesadelo austríaco de 2018 – quando Verstappen e Daniel Ricciardo, na disputa pela liderança, colidiram ao final da grande reta de Baku.

O pódio foi completado por George Russel, que mantém sua incrível estatística de ser o único piloto que chegou entre os 5 primeiros em todas as corridas do ano (com 99 pontos no campeonato, ocupa a 4ª posição e vem se firmando como best of the rest). O inglês chegou 25 segundos à frente de Hamilton (4º lugar), que sofreu demais com dores nas costas causadas pelo porpoising.

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Como bem se viu na TV, as Mercedes pulavam como um cabrito, o que fez, inclusive, ambos os pilotos registrarem que temiam até algum acidente. Após a prova, Hamilton declarou que esta foi a corrida mais dolorida de sua vida, e Toto Wolf confidenciou que todos os pilotos (à exceção de Fernando Alonso) chegaram a um consenso sobre a impossibilidade de seguir correndo assim – fala-se até na retomada da suspensão ativa (lembrando que os carros deste ano tanto quicam em função do retorno do efeito solo e da falta de passagem de ar por baixo deles). Como disse Felipe Giafone, parodiando os Mamonas Assassinas, “correr em Baku é bom, pena que dá dor nas costas”.

No mundial de construtores, um estrago para a Ferrari: enquanto a Red bull colheu o máximo de pontos possíveis (fazendo a 3ª dobradinha do ano), a equipe italiana zerou. Assim, depois de um início conturbado de campeonato, a Red bull disparou, tendo 279 pontos contra 199 da equipe italiana.

Aliás, a situação da Ferrari não parece nada boa em termos de confiabilidade. Além dos abandonos de seus carros de fábrica, outros dois carros com motores por ela fornecidos tiveram problemas (a Hass de Kevin Magnussen e a Alfa Romeu de Guanyu Zhou). Esta foi a 4ª vez que Leclerc larga na pole e não vence, e seu segundo abandono no ano. A casa de Maranello falhou miseravelmente e o taxímetro de estragos ainda não parou de rodar: Leclerc já está no limite da utilização de diferentes unidades de potência, de forma que provavelmente em breve começará a sofrer as punições no grid decorrente de novas trocas.

Embora ainda tenhamos muita temporada pela frente, a coisa está parecendo cada vez mais difícil para a scuderia. E já na semana que vem temos o GP do Canadá. Considerando a distância e a logística, sequer haverá tempo para fazer uma autópsia do fracasso. Mas, como disse Quincas Berro D’Agua antes de morrer pela segunda vez, “nada é impossível”.

P.S. – Fernando Alonso agora é o piloto com carreira mais longeva da F-1, tendo disputado sua 1ª prova, pela Minardi, em março de 2001, mais de 21 anos atrás. Há especulações que o espanhol pode, inclusive, vir a substituir Sebastian Vettel na Aston Martin. É incrível como ele segue competitivo aos 41 anos.

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