Luiz Gomes: ‘Ecos do Clássico’

Em que pese o abismo técnico que separa os dois times, o Vasco soube enfrentar o Flamengo. Talvez tenha sido, aliás, o primeiro time neste Brasileirão a incomodar o rival

Montagem - Luxemburgo e Jorge Jesus
Luxa e Jesus travaram duelo no Maracanã (Foto: Rafael Ribeiro/Vasco e Alexandre Vidal/Flamengo)

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Sobraram teorias nos últimos dias. O time perdeu a concentração, entra apenas para cumprir tabela com o título brasileiro praticamente conquistado; os jogadores já estão com a cabeça em Lima para a final da Libertadores; o elenco começa a sofrer o desgaste da filosofia Jorge Jesus de não poupar ninguém apesar da sequência de jogos. Essas foram apenas três das explicações levantadas, do lado do Flamengo, para entender o empate com o Vasco.

O quatro a quatro foi épico. E surpreendente. Os mais de 50 mil privilegiados que estiveram no Maracanã de fato não assistiram apenas a um simples jogo de futebol. Foram testemunhas de um capítulo de destaque na longa história do Clássico dos Milhões, expressão aliás que andava meio esquecida ultimamente. E não só pelo resultado, pela tempestade de gols, mas pelo significado de um jogo em que, mesmo debatendo-se com toda a crise criada pela cartolagem ao longo dessa década, o Cruz-Maltino mostrou que é possível, sim, recuperar sua grandeza, fazer jus ao título de Gigante da Colina.

Dito isso, vamos deixar de lado os aspetos emocionais da partida e olhar o jogão pelo que se viu dentro do campo. Em que pese o abismo técnico que separa os dois times, o Vasco soube enfrentar o Flamengo. Talvez tenha sido, aliás, o primeiro time neste Brasileirão que foi capaz de jogar contra todo-poderoso Rubro-Negro sem medo de jogar. E, aqui, cabe ressaltar os méritos de Vanderlei Luxemburgo e sua postura no comando do time.

O Luxa de quarta-feira lembrou o Luxa dos melhores dias, dos cinco títulos do Brasileirão, das tantas conquistas com o Palmeiras, o Cruzeiro, o Santos ou o Corinthians. Um técnico com sangue nos olhos, com vontade de vencer, com ousadia, usando e abusando da capacidade de criar estratégia. Algo bem diferente do que vinha fazendo antes, nos mais recentes, sonolentos e mal sucedidos trabalhos Brasil afora.

O Vasco, ao se impor o desafio de jogar com o Flamengo de igual para igual, fez o Rubro-Negro experimentar de seu próprio veneno. Avançou a marcação, dificultou a saída de bola, a armação das jogadas, mesmo deixando com o adversário o maior tempo de posse de bola. E fez isso, sem abrir mão do direito de atacar. Ao contrário. Ao colocar dois atacantes entre os zagueiros, Luxa desnorteou Rodrigo Caio e Pablo Mari, complicou o posicionamento de toda a defesa, dificultando a cobertura de Rafinha e Filipe Luís. E isso ficou claro em pelo menos dois dos quatro gols vascaínos.

Seria um exagero, é óbvio, dizer que Luxemburgo deu, com a sua estratégia, um nó tático em Jorge Jesus. Muitíssimo longe disso. Até porque, se teve problemas na zaga, o Flamengo como sempre fez a diferença no ataque com a força e o oportunismo de Bruno Henrique, a visão de jogo de Gabigol e um inspiradíssimo Vitinho que entrou no segundo tempo. É difícil que um time com a qualidade do Rubro-Negro seja amarrado em campo qualquer que seja o esquema montado pelo adversário. No pior dos mundos, a individualidade de um ou de outro poderá apontar uma saída.

Mas o que ficou do clássico foi uma lição. Pronta para ser assimilada pelos adversários do Flamengo. Vale lembrar, inclusive, que o River Plate, o rival do mais importante jogo do clube da Gávea desde o título mundial de 1981, também joga como jogou o Vasco, com dois atacantes fincados entre os zagueiros. É um time compacto, técnico e que gosta da bola, que sabe avançar e marcar em bloco como mostrou nos dois jogos das semifinais contra o Boca.

Isso é um sinal de alerta? Nem tanto. Seria simplista acreditar que Jorge Jesus, um estudioso do futebol que é, segue uma só cartilha, tem uma única forma de jogar, não dispõe de um repertório tático, de variações capazes de virar um jogo. Fosse assim e seria contraditório com tudo o que se tem dito dele desde que chegou ao Brasil. O que a torcida flamenguista espera é que haja uma carta na manga do Mister. Para que um sufoco, como o que aconteceu no Maracanã, passe bem distante do Monumental de Lima.

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