‘Trocas de duplas podem ser ponto a nosso favor’, afirma Bruno Schmidt

Ao lado de Evandro, campeão olímpico admite que mudanças enfraqueceram o Brasil no cenário mundial, mas diz que países terão dificuldade de fazer leitura de novas parcerias

Evandro e Bruno Schmidt conquistaram o ouro na etapa da Polônia do Circuito Mundial
Divulgação/FIVB

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Dono do ouro olímpico nos Jogos Rio-2016, ao lado de Alison, Bruno Schmidt busca diariamente uma descoberta sobre como se manter em alto nível no vôlei de praia. Aos 32 anos e com 1,85m, o sobrinho do ex-jogador de basquete Oscar Schmidt reconhece que a missão está a cada dia mais difícil. A parceria com Evandro, de 2,10m, é um dos trunfos no momento.

A dupla conquistou no último domingo o seu primeiro ouro, na etapa de Varsóvia (POL) do Circuito Mundial (já tinha uma prata em Jinjiang-CHN), e disparou na liderança da corrida olímpica interna para Tóquio-2020. Cada país só poderá ter duas equipes por naipe nos Jogos.

Bruno e Evandro lideram corrida olímpica do Brasil, com 3.040 pontos. Pedro Solberg e Vitor Felipe e Alison e Álvaro estão empatados em segundo, com 2.080. André Stein e George aparece em quarto, com 1.840. Guto e Saymon fecham a lista, com 960 pontos.

Em entrevista ao LANCE! antes da conquista, Bruno opinou sobre as mudanças de parcerias no Brasil, que, apesar de terem enfraquecido o país no cenário mundial, devido à falta de entrosamento, podem causar dificuldades aos rivais, e falou sobre a nova fase e o futuro.

Depois de ganhar o ouro no Rio, você trocou duas vezes de parceiro. Após o Alison, jogou com o Pedro Solberg e, agora, com o Evandro. O que espera?
É claro que qualquer modalidade passa por seus momentos de renovação. Ninguém consegue se manter no topo o tempo inteiro, exceto na NBA, que é um esporte à parte. No futebol, você não vê o mesmo time ganhando uma Copa do Mundo o tempo todo. Equipes que estavam lá embaixo, hoje, são fortes. No vôlei de praia, do pós-olímpico para cá, eu e meu parceiro anterior (Alison) pisamos muito no freio, por escolhas pessoais de ambos. Em contrapartida, o Evandro liderava o Circuito Mundial com o André.

Que leitura faz das trocas? Havia mesmo a necessidade de mudar? Faltaram resultados?
Não acho que as duplas estivessem em baixa, mas, por questões pessoais, quisermos nos reinventar e sair da zona de conforto. A dupla do Evandro foi desfeita quando liderava o Circuito. Poderia ter sido uma situação momentânea, mas desencadeou mudanças nas duplas que, na minha opinião, enfraqueceram muito o cenário das equipes do vôlei de praia brasileiro. No fim, tudo é válido para o processo de renovação. Quando arriscamos, nem sempre as decisões são as melhores. Quando voltei a jogar com o Pedro, tive uma visão diferente da primeira vez. O vôlei de praia tem isso. Buscamos sempre formar a equipe perfeita.

O que acha das duplas que foram formadas após as mudanças?
Hoje, temos cinco times competitivos. As trocas podem ser um ponto a nosso favor. Acho que os adversários do Circuito Mundial terão dificuldade de se adaptar às leituras das novas parcerias. Eu e o Evandro estamos sólidos. Estou gostando bastante de jogar com um atleta de tanto vigor físico, e ele de ser o bloqueador.

Vocês terão de correr contra o tempo para chegar a Tóquio com chances de medalha. Preocupa?
Eu e Evandro passamos por muita coisa. Agora, usamos um pouco da experiência que adquirimos. O que ela nos indica? O atleta precisa ter paciência nos momentos conturbados e esperar a maré passar. O tempo é curto, mas paciência. É assim para todas as duplas do Brasil. Algumas parcerias do Circuito Mundial estão em vantagem, pois vêm juntas há muito tempo. Mas nada nos impede de nos adaptarmos à situação e lucrar o máximo em cada torneio. O relógio está contra, então damos valor a cada treino. Temos de ter tranquilidade e fazer o que está ao alcance.

O vôlei de praia sempre possibilitou aos atletas uma longevidade. Ainda vê isto?
Já foi maior. O vôlei de praia de dez anos para cá tem exigido cada vez mais do físico. Estamos muito próximos do que é o vôlei de quadra. O Evandro, com 2,10m, hoje não é mais um gigante, como antes. É mais um no Circuito Mundial. Eu, então, faço o que posso. Tento otimizar minhas virtudes, mas sinto que está cada vez mais complicado. É muito difícil, atualmente, se manter em alto nível com mais de 40 anos. Só o Ricardo conseguiu jogar de igual para igual acima dessa faixa. Acredito que essa tendência só aumentará no futuro.

Você já tem planos para quando deixar o esporte?
Estou concluindo meu curso de Direito. Mas quando se trabalha em alto rendimento, é complicado ficar dividido. Tem de ser esperto. Não pode desfocar, ainda mais em um momento importante, como agora. Sou um cara que gosta de fazer tudo bem feito. No vôlei de praia, se você não focar totalmente, fica difícil. Mas tenho vontade de seguir no Direito, que me cativa. Ela tem um leque legal de opções. Tenho amigos com escritórios que já me fizeram convites. Dá para contribuir para o país nesta área.

A falta de renovação é um problema no Brasil. O que vai ser quando ídolos, como você e Alison, se aposentarem?
Entendo que o Brasil, desde antes do impeachment, vinha de uma crise e no retrocesso, o que levou tudo. O esporte, por ser considerado entretenimento, sentiria os impactos. Sabemos que desemprego, saúde e educação estão à frente. Então, dou tempo ao tempo. Tenho muita confiança que estamos no caminho certo. Não adianta ficar brigando. É momento de sair do buraco. O esporte nunca pode ser negligenciado. Países como Estados Unidos têm o esporte como referência, atrelado à educação. Precisamos de referências para as gerações.

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