Atletas da Superliga temem perda de espaço com ‘mercado trans’ no vôlei

Jogadoras mostram preocupação com presença de Tifanny, primeira transsexual a disputar a competição nacional. Treinador do Pinheiros revela ter recebido ofertas por outras trans

VÔLEI BAURU VENCE BRASÍLIA E SOBE PARA SÉTIMO NA SUPERLIGA 2017/2018
Tifanny voltou a se destacar pelo Bauru. Foram 24 pontos na vitória sobre Brasília (Foto: Neide Carlos/Vôlei Bauru)

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A presença de Tifanny na Superliga feminina de vôlei tem preocupado atletas e pode até ter dado início a um mercado de jogadoras transsexuais no país. Adversárias da oposto nas últimas rodadas do torneio nacional afirmam que sua força é acima da média. E clubes já começaram a receber propostas de outras transsexuais dispostas a ingressar na elite.

– Não só ouvimos falar de outras como já recebi contatos. Tem gente que liga procurando espaço no clube como atleta. Empresários ligam dizendo que têm atleta disponível – disse o técnico do Pinheiros, Paulo de Tarso, em entrevista à "Veja".

A equipe do comandante foi uma das vítimas de Tifanny. O Bauru levou a melhor sobre o time da capital por 3 a 1, com 25 pontos da atacante. Atletas que estiveram em quadra naquela partida, em dezembro, revelaram à "Veja" o sentimento de desconforto com a situação.

– Depois de nossa partida contra o Bauru, quando a Tifanny recebeu o troféu de destaque do jogo, eu disse que sempre que ela estiver em quadra, ninguém mais vai ganhar. Ela sempre vai se destacar, sempre estará acima das outras – afirmou a ponteira Mari Cassemiro, do Pinheiros, à publicação.

Capitã da equipe de São Paulo, a ponta Vanessa Janke demonstrou preocupação com o futuro do vôlei para as mulheres:

– Se isso aumentar nos próximos anos, nós mulheres vamos perder espaço. A trans tem maior vantagem física. Todo clube vai querer contratar uma.

O médico Paulo Zogaib, professor de medicina esportiva da Unifesp, explicou em entrevista à "Veja" que a vantagem física de Tifanny existe pelo fato de a cirurgia para mudança de sexo ter acontecido quando ela já tinha 30 anos.

– Ela passou boa parte da vida com uma produção hormonal muito maior do que uma produção hormonal feminina. Isso acaba influenciando no tamanho dos órgãos, coração, pulmões, a parte óssea, ou seja, as alavancas do aparelho locomotor. Então, isso cria diferenças em relação às mulheres e faz com que ela tenha um desempenho melhor. Não é pura e simplesmente o controle de testosterona na circulação – afirmou Zogaib.

Enquanto o debate acontece nos bastidores, Tifanny vem roubando a cena pelo time do interior paulista. Ela já marcou 94 pontos em apenas quatro partidas da Superliga, o que resulta em média de 23,5 acertos por jogo. A última atuação foi na noite de terça-feira, na vitória sobre o BRB/Brasília Vôlei por 3 a 1. Ela ainda foi eleita a melhor em quadra, em votação popular.

– É uma questão muito nova. O que temos tentado passar para a Tifanny é tranquilidade. Quem lida com essas questões com os órgãos competentes é a diretoria, não nós. Ela vem se destacando, claro. Mas é importante lembrar que no jogo contra o Fluminense, tínhamos a Paula com lesão, e isso sobrecarregou a Tifanny – disse o técnico do Bauru, Fernando Bonato, ao Sportv.

A presença de Tifanny no esporte feminino está de acordo com as regras atuais do Comitê Olímpico Internacional (COI). Mas a entidade divulgará em fevereiro critérios mais rígidos para permitir a participação das atletas trans.

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