#120: conheça Vasco León, o garoto chileno que une o clube com a La U

Nascido no Chile e sem parentesco com brasileiros, 'Vasquito' é sensação e símbolo de amizade entre torcidas. O LANCE! acompanhou a primeira vez do menino em São Januário

Vasco León
Acostumado com estádios no Chile, Vasco León conheceu a Colina às vésperas dos 120 anos do clube (João Mércio)

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Filho de chilenos, nascido no Chile, sem nenhum parentesco de sangue com brasileiros. O pequeno Vasco León Peñailillo Castro, de apenas dois anos de idade, ainda não entende espanhol - muito menos português - mas talvez já tenha percebido que possui uma verdadeira família no Rio de Janeiro. Pela primeira vez no Brasil, o garoto pôde conhecer, às vésperas dos 120 anos, o clube que inspirou seu nome e a vida de seus pais. O LANCE! conta essa história, iniciada bem antes do nascimento da criança.

Tudo começou em 2010, quando Marco Antonio Peñailillo, fanático torcedor da Universidad de Chile, veio ao Rio de Janeiro para acompanhar seu time na Libertadores. O duelo no Maracanã era contra o Flamengo de Adriano e Vagner Love. 'Perdido' na cidade, conheceu um grupo de vascaínos e manteve o contato ao voltar para Valparaíso, sua cidade natal. Era só o começo.

No ano seguinte, pela Sul-Americana, a La U voltava a enfrentar o Flamengo no Rio de Janeiro. Desta vez, no Nilton Santos. Marco, conhecido pela torcida chilena como 'Kilah', contactou os vascaínos e foi recebido de portas abertas. Antes do confronto, fizeram um churrasco que marcava a união com os vascaínos. Deu certo, a La U passou e... enfrentou o Vasco logo em seguida. 

- Antes do jogo contra o Vasco, já estava unido com os vascaínos. A torcida da La U fechou uma amizade grande com eles. Fizeram até uma bandeira do escudo da La U com o do Vasco - contou Marco, ao LANCE!.

- Desde então, sou vascaíno. A história dos dois clubes, de superação e força dos torcedores desde o início, é muito parecida. Me apaixonei pelo Vasco.

Vasco - La U
Marco, de camisa azul do Vasco, foi um dos responsáveis pela união

Marco costuma viajar em todos os jogos da Universidad de Chile fora do país. Na América do Sul, só não foi em estádios de futebol na Colômbia e no Peru. Em 2014, voltou ao Brasil para a Copa do Mundo para acompanhar de perto sua Seleção. A 'La Roja' foi eliminada nos pênaltis para o time de Felipão e voltou mais cedo para casa. Kilah, porém, perdeu o voo de volta e, sem dinheiro, não tinha para onde ir. Ligou para os vascaínos, onde novamente foi acolhido.

- Voltei para Copa e fiquei muito tempo aqui. Na verdade, era para ter voltado antes, mas perdi o voo. A torcida me acolheu no Rio e fiquei quatro meses na sede da Ira (torcida do Vasco), em Irajá. Conheci mais a história e virei vascaíno mesmo. Depois voltei de carona, passando por Porto Alegre, Uruguai, Argentina, até voltar para casa. Mas prometi voltar para apresentar o clube a minha esposa.

Dois anos depois, a oportunidade veio. Em 2016, desembarcou novamente no Rio de Janeiro para apresentar a cidade à esposa Noelia, também chilena. O tempo foi curto, mas suficiente para...

- O filho foi feito aqui. Minha mulher não conhecia o Brasil, viemos passear. Voltamos ao Chile e ela estava grávida. Ela conheceu meus amigos da torcida e a história do Vasco, gostou bastante. Até que fomos escolher o nome do filho e pensei: 'Vasco!'. Pronto. Queríamos um nome original. No Chile tem muito Roberto, Carlos, Maurício... Lá, o nome Vasco não é estranho. Achamos um nome legal, de uma pessoa importante (Vasco da Gama). E como no meu país costumam ter dois nomes, batizei de Vasco León, em referência a La U (mascote do clube).

Mas não deu problema com a sua mulher esse nome?

- Não, ela gostou de primeira. Graças a Deus (risos). 

Vasco León
É verdade, mesmo: Vasco León é o nome da criança
Vasco León
No Chile, Kilah 'abrigou' todo esse grupo de vascaínos da foto. Foi antes do confronto contra a La U, pela Libertadores desse ano

Toda a conversa com a reportagem do LANCE! aconteceu em frente ao estádio São Januário. Mais precisamente no 'Studio da Colina', estúdio de tatuagens referentes ao Vasco. Enquanto contava sua história, Marco sofria tatuando as palavras 'Vasco' e 'León', uma em cada perna, eternizando a relação com o filho e o clube na pele. O tatuador Raul Victor, vascaíno fanático, comenta a relação de Kilah com a torcida do Vasco.

- Ele já é conhecido por aqui, é um amigo da torcida. Neste ano, na Libertadores, ajudou os vascaínos a entrarem com faixas e instrumentos no estádio lá em Santiago. Todos são gratos e ele sempre é bem-vindo aqui. Fez até churrasco para recepcionar alguns torcedores, que ficaram em sua casa no último confronto. Ele viajou algumas horas para torcer pelo Vasco contra o Universidad Concepción, na pré-Libertadores, lá no Chile - revela Raul.

- Eu paguei aquele churrasco, a tatuagem vai ser na amizade né? - brincou Kilah.

- Vai sim... Vou escrever Colo-Colo e Flamengo nas suas pernas, então! - rebateu o tatuador.

Vasco León
Kilah encontrou a delegação do Vasco em Concepción, na pré-Libertadores, em janeiro deste ano. Foram seis horas de viagem
Vasco - La U
Raul, do 'Studio Colina' tatuou as pernas de Kilah com 'Vasco León'
Vasco León
O esboço da tatuagem, antes de iniciar o processo

A tatuagem foi finalizada às 18h45, pouco mais de uma hora antes da bola rolar no estádio. Kilah ainda não tinha ingresso, mas queria levar 'Vasquito' para conhecer o clube aniversariante. O LANCE! entrou em contato com o marketing do clube, que disponibilizou a entrada do garoto com os jogadores no gramado. Porém, o tempo era pouco: muitos vascaínos queriam conhecer o chileno antes da bola rolar.

- Os vascaínos querem tirar foto com ele, mas ainda não entende o motivo.  Quando gritam 'Vasco', ele sempre olha. Fico feliz pela recepção dos torcedores com meu filho, que foi fabricado aqui no Rio (risos) - diz Kilah.

Do estúdio até o estádio, a distância é mínima, uns 500 metros. Porém, integrantes de torcida organizada fizeram questão de agradecer Marco pela recepção oferecida no confronto da Libertadores neste ano. Na Barreira do Vasco, Kilah teve 'recepção de gala' e foi apresentado a novos amigos. Demorou tanto, que perdeu a oportunidade do filho entrar em campo. Mas, com certeza, jamais esquecerá do dia em que Vasco León conheceu o Vasco no aniversário de 120 anos do clube.

Vasco - La U
Alguns vascaínos pediram para tirar foto com o pequeno Vasco León. A maioria já o conhecia do confronto contra a La U, no Chile
Vasco León
Vasco León, acostumado com os estádios no Chile, conheceu pela primeira vez o estádio de São Januário

O resultado não foi o esperado, mas nada que abale Kilah e Vasco León. O pai garante: o menino vai ser jogador de futebol e ainda atuará com a camisa cruz-maltina. A criança, querendo ou não, carregará o nome do clube para o resto da vida. 'Mas antes será torcedor da La U', segundo o vascaíno-chileno Marco.

Vasco León
Kilah e Vasco León: símbolos da união entre o Vasco e a La U
Vasco León
Kilah e Noelia, grávida do Vasco León
Vasco León
Com a camisa da La U, Vasco já é acostumado com estádios
Vasco León
Se estiver no Rio, Kilah vai a São Januário. Onde a La U for, ele vai 

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