Briga política atrasa obras de mobilidade em Fortaleza

Camisa do Barbosa (Foto: Divulgação)
Camisa do Barbosa (Foto: Divulgação)

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A Arena Castelão impressiona por sua funcionalidade. A missão de chegar até o palco cearense da Copa das Confederações de 2013, contudo, não será uma tarefa fácil.

Uma disputa ferrenha entre o governador Cid Gomes (PSB) e a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), emperra o projeto da Via Expressa, intervenção de responsabilidade do município. Este novo eixo prevê a construção de túneis e um viaduto, que se encontrariam com o Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) Parangaba/Mucuripe, este de âmbito estadual. Como há este choque de interesses, os lados brigam.

Cid ofereceu a Luizianne dinheiro para que a prefeita arque com as desapropriações. A prefeita não aceitou e não há vestígios de túnel, tampouco de VLT. O não cumprimento de obras previstas pela Matriz de Responsabilidade não para por aí. Outras três obras viárias que ligariam áreas importantes ao Castelão caminham a passos de tartaruga.

Há ainda três BRTs (linhas rápidas de ônibus) que serviriam para integrar o sistema viário de Fortaleza. Eles não ficarão prontos até a Copa das Confederações e estão a perigo para a Copa-2014. Apenas a Linha Sul trabalha com cronograma mais folgado.

– É impossível que estejam prontos para 2013. Há muito tempo, quando comecei a ver o atraso, nos oferecemos para assumir as
obras, mas a ideia foi descartada – disse Cid Gomes, governador do Ceará, em entrevista ao LANCENET!.

Os alargamentos de faixas e nova sinalização previstas pelos projetos dos BRTs não ficaram prejudicados apenas pela questão política.

A Construtora Delta, vencedora da licitação, abandonou a obra assim que a empresa teve seu nome ligado ao escândalo do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Sem construtora, nova licitação. Após o processo legal, o consórcio Serveng-Civilsan venceu a disputa. As obras foram timidamente retomadas em setembro.

Tudo isto se somou à eleição, que escancarou as diferenças entre estado e município. Eleito com o apoio de Cid, Roberto Claudio (PSB) herdará um abacaxi a partir de 1 de janeiro. Preocupado, Ferrucio Feitosa, secretário da Copa no Ceará, disse que o futuro prefeito terá de ser “um senhor tocador de obras”.

– Não é saudável o clima. Tenho tratado tudo de forma que não sejamos contaminados por aspectos políticos – disse Ferrucio ao LANCE!.

No entanto, o secretário também já misturou Copa e política. Em junho, deixou a Secretaria da Copa para disputar a indicação
do PSB à prefeitura. Derrotado, reassumiu a cadeira na Secopa-CE.

O LNET! não conseguiu contato com a assessoria da prefeita. Roberto Claudio não respondeu.

CASTELÃO É A JOIA DA COROA

O andamento acelerado das obras da Arena Castelão é motivo de orgulho entre membros do governo e das construtoras Galvão Engenharia e Andrade Mendonça. Com 92% concluído, o estádio começa uma disputa particular com o Mineirão (com 84% de cronograma cumprido) pelo título de primeiro estádio pronto para a Copa das Confederações.

O Castelão já começou a receber a película que revestirá a fachada e as cadeiras também já estão sendo fixadas pelos operários. Em 20 de janeiro de 2013, a partida entre Ceará e Bahia, válida pela Copa do Nordeste, deverá ser o primeiro jogo oficial no estádio.

O evento, no entanto, não anula o sonho de trazer a Seleção Brasileira para um compromisso antes da Copa das Confederações. O governador Cid Gomes pediu que Ferrucio Feitosa, secretário da Copa no Ceará, abrisse negociações com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Gomes disse que um emissário da CBF faria em novembro uma vistoria no Castelão.

A celeridade da obra está associada à assinatura do contrato entre Governo do Ceará e o consórcio vencedor, que ocorreu em dezembro de 2010. Eventuais atrasos na construção acarretariam multas financeiras às empresas integrantes do consórcio.

– Acredito que o grande diferencial foi a escolha de empresas que tinham o compromisso de executar bem os compromissos
assumidos – elogiou Feitosa.

A Parceria Público-Privada (PPP) prevê que o consórcio vencedor gerencie o estádio por oito anos. O preço final do Castelão ficou em R$ 518,6 milhões.

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BATE-BOLA
Cid Gomes, governador do ceará, em entrevista exclusiva ao LANCENETNET!

Muitas pessoas associam o protagonismo de Fortaleza na Copa com sua amizade com Ricardo Teixeira, ex-presidente do COL e da CBF. Existe alguma relação?
É verdade, sou muito amigo dele, sou um querido amigo dele. Sou agradecido pela atenção histórica que sempre teve com o Ceará. Claro que a opinião dele sempre foi muito ouvida (na Fifa). As pessoas reconhecem que foram a luta e o prestigio dele que nos deram a Copa. Se a Justiça tiver algo contra ele, não tenho nada a ver com isso. Se ele for culpado de algo, coisa que eu não sei, isso não é catapora, não pega por contato.

O clima de animosidade com a prefeita influenciou negativamente no andamento das obras?
A Matriz para a Copa é focada em responsabilidades de entes de governo. Como sempre procuramos fazer em conjunto as ações da Copa, mesmo com divergências me dispus a dar uma ajuda com recursos para desapropriações da área dos túneis. Eu me dispus a dar 36 milhões e a prefeitura entendeu que eu devia fazer a desapropriação, mas, no meu entendimento, como vai se incorporar ao seu patrimônio (da prefeitura), ela teria de fazer. Tentamos, mesmo em campanha eleitoral, mas não chegamos a um entendimento. Na medida que tem uma prefeitura com bom relacionamento com o estado, em vez de um só trabalhando, serão dois.

O Eduardo Paes, prefeito do Rio, disse que o Brasil perdeu a oportunidade de transformações com o impacto da Copa. O senhor
concorda com esta afirmação?
Gosto muito do Eduardo, ele é um excelente prefeito e tem muito futuro. Talvez ele quisesse uma frase de efeito e acabou sendo infeliz. A oportunidade não passou. O evento começa com a Copa das Confederações. Quem foi à África do Sul sabe que teve notícia ruim antes. Qualquer notícia ruim que tenha saído, alguma força de expressão a mais, tipo a dita pelo (Jêróme) Valcke (“chute no traseiro”), tudo pode se diluir se fizermos uma grande Copa.

A sequência de noticias não gera insegurança nas pessoas?
Não quero dizer que devemos descansar e achar que vai ser um sucesso, mas atitude negativa não é bom. O primeiro passo para a coisa acontecer é acreditar que vai acontecer. Estou muito mais preocupado com a Seleção do que com a infraestrutura da Copa. Por cima de trancos e barrancos vai sair. Dificuldades materiais são mais fáceis de superar. O Tribunal de Contas da União, que tem a fama de ser um contraponto, está engajado, buscando soluções para problemas. Quem poderia adivinhar que a Delta estaria envolvida em um escândalo em Goiânia?

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