Especial eleição do Santos: Nabil projeta assumir Pacaembu e tornar parte do clube sociedade anônima

Empresário paulistano de 57 anos é candidato à presidência do Santos pela segunda vez seguida. Líder da chapa 2 quer mudanças estruturais e de funcionamento

Nabil Khaznadar, candidato à presidência do Santos
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O LANCE! começou na última terça-feira, 5, uma série de entrevistas com os candidatos à presidência do Santos Futebol Clube para o triênio 2018-2020. Todos responderam questões referentes aos mesmos tópicos de fundamental importância para o funcionamento do clube.

Seguindo o critério de publicação por ordem alfabética, Nabil Khaznadar é o terceiro entrevistado da série.

Administrador de empresas e empresário do ramo têxtil, Nabil Khaznadar se candidata à presidência do Santos pela segunda vez consecutiva. Diferentemente de alguns de seus adversários, não se uniu com nenhum outro concorrente e tenta resgatar junto à sua base aliada o comando do Peixe. Em 2014, era o candidato da situação, mas, atualmente, garante não ter o apoio de Odílio Rodrigues e diz que não vê o ex-presidente há três anos. Crítico da atual administração, propõe pela chapa O Santos Que Queremos ideias consideradas inovadoras, como assumir a administração do Pacaembu e fazer do clube uma sociedade anônima com capital aberto. Tem como seu candidato a vice-presidente o delegado Fábio Pierry.

DISPONIBILIDADE PARA SE DEDICAR À ADMINISTRAÇÃO DO CLUBE

Segundas e sextas em São Paulo, terças, quartas e quintas por aqui (Santos). Os grandes negócios, o marketing e a área comercial deve ficar em São Paulo, então, o presidente também tem que ficar próxima disso.

LOCAL DE DESPACHO

A gente vai despachar na Vila Belmiro, a sede do Santos segue sendo na Rua Princesa Isabel. A gente vai participar mais de um Santos em São Paulo, tanto que vamos levar o marketing e a área comercial para São Paulo. Teremos uma sala lá, um conjunto, não necessariamente uma área isolada.

MODELO DE ADMINISTRAÇÃO COM COMITÊ DE GESTÃO

Existe uma troca de nomes. Comitê Gestor significa o conselho de qualquer grande empresa. Eu continuaria, sim, sem dúvidas, o estatuto precisa fazer alguns acertos, isso é fato, mas são mínimos. Nosso estatuto, quando foi lançado, ele era modelo no Brasil, hoje já há outros, copiaram e remodelaram, atualizaram ele, mas não vamos mudar, vamos manter o estatuto com Comitê de Gestão, sim. Um conselho formado por nove pessoas, um presidente e um vice, e mais sete membros. Segundo informações anteriores que tivemos, sempre teve atas de reuniões do Comitê e essas atas têm que ser registradas. Não tem que fazer nada diferente como outros candidatos estão falando, que tem que filmar, acho que isso é mirabolante. Ter que ter as atas, registrar, quem não puder participar, entrar presente via Skype, Facetime. Mas todas as reuniões têm que ser registradas com atas, é o mínimo que precisamos. A gente quer fazer no Santos uma transparência total, tanto que vamos fazer um portal de transparência.

ORGANOGRAMA DO FUTEBOL

A gente mudaria um pouco desse organograma. O presidente tem que ter no Comitê de Gestão uma pessoa espelhada para o futebol e essa pessoa escolher uma pessoa para gerenciar todo o futebol. Como o Leonardo, o Mauro Silva, que são pessoas capacitadas e estariam fazendo a interface do Comitê do presidente com os atletas e toda a comissão técnica composta por técnico e todos os seus elementos.

CATEGORIAS DE BASE

Modelo de gestão da base tem que ser uma coisa só. Do sub-20, o 23 não existiria, vamos acabar, até o menor sub que existe, que é o 11. Se não fizer uma coisa só, você perde o fio da meada. Tem que ter um plano só para todos. Normalmente, quem vai tocar o futebol vai ter essa soberania sobre a base. Hoje a base é sucateada, tínhamos um grande cara que cuidava da base, um nome que temos para trazer de volta, que é o Joãozinho, que foi afastado, mas nossa intenção é fazer da base uma coisa só. O Santos tem que ter um único direcionamento. Com a base, a gente quer fazer o CT Rei Pelé virar o nosso CT Meninos da Vila. Estamos conversando com duas empresas multinacionais que ficariam com o terreno da entrada da cidade (onde hoje é o centro de treinamento da base), e nos entregaria um novo CT, mas um CT para os profissionais. Como em todo e qualquer lugar do mundo. Os jogadores do futebol hoje têm carros potentes, independentemente disso também, times como Milan, Manchester, Real Madrid, os jogadores ficam afastados da sua cidade, e o Santos nada melhor do que dar um upgrade para os Meninos da Vila, passar o CT Rei Pelé para a base, adequar esse CT para a base, e essa nova empresa que assumir, obviamente com a liberação da câmara e da prefeitura, fazer um CT bem mais moderno, que hoje é bom, mas está ficando superado e temos que pensar no futuro.

RELAÇÃO COM A TORCIDA

A gente tem que ouvir essa empresa (Redegol, que cuida do programa de sócios) e o que não era da gestão a gente vai passar por cima e pagar. A princípio, não foi bem vista, a gente teve sérios problemas com os últimos jogos, mas tem que ser falado e conversado. A gente tem que resgatar o nosso sócio. Nosso sócio sumiu, desapareceu. Nos últimos anos tínhamos cerca de 50, 60 mil sócios, hoje temos cerca de 20. Alguma coisa aconteceu. Qual o prêmio para você ser sócio do Santos hoje? Ter uma cadeira? Nada além disso. O sócio do Santos quer ver as quartas e semis dos grandes campeonatos e não consegue vir por jogar para 12 mil pessoas, onde não cabe. E ele não consegue participar de um jogo onde ele quer estar. Então, a gente quer levar os grandes jogos para o Pacaembu para resgatar esse torcedor, voltar aos anos 80, que era quando a gente dividia o estádio com o time da Marginal, tinha uma torcida maior que a do São Paulo e a do Palmeiras e de uns anos para cá a torcida está sumindo, está desaparecendo. E para resgatar a gente precisa trazer esse torcedor de volta, a gente precisa acionar mais o Pacaembu.

"Fizemos uma proposta de alugar (o Pacaembu) por três anos, até porque a licitação dificilmente passará ou entrará no Ministério Público em ação e a gente vai ter condição de alugar o estádio por três anos por R$ 3 milhões de reais anuais, que dois clássicos e grandes jogos, com 40 mil pessoas já paga o aluguel do ano todo"

ESTÁDIO

O Pacaembu hoje tem um custo de aluguel avulso de R$ 100 mil. É bom que se frise , que eu sei porque estivemos com o secretário municipal de esportes de São Paulo, que o borderô mais caro de todos os grandes clubes que alugam é o do Santos. Ele não conseguiu entender, pela maior parte dos gastos estar em despesas diversas, mas disse que normalmente o do São Paulo é mais barato, que custa cerca de R$ 70 e poucos mil, mas o Santos é sempre 100 e tralálá. Então, ficaria inviável. Fizemos uma proposta de alugar por três anos, até por que a licitação dificilmente passará ou entrará no Ministério Público em ação e a gente vai ter condição de alugar o estádio por três anos por R$ 3 milhões de reais anuais, que dois clássicos e grandes jogos, com 40 mil pessoas já paga o aluguel do ano todo. Sem falar que o ano que vem, por exemplo, o Palmeiras vai jogar apenas dez partidas no Allianz e cerca de 20 partidas no Pacaembu, o que é mais uma receita para nós. Não estamos fazendo apenas como campanha política, mas um estudo para viabilizar e fazer dele um Santos rentável, que faça com que o clube volte a estar no cenário nacional.

Arena em Santos não existe a menor possibilidade, é balela. Isso sim é campanha eleitoral e um tiro no pé, porque o sócio ama a Vila Belmiro. O problema da Vila Belmiro hoje é que não é confortável, virou um estádio elitizado onde só se dá bem quem está nas sociais e quem tem os camarotes. O restante se sente prejudicado por ter pontos cegos, a localização, para se chegar na Vila Belmiro também é muito ruim, então a gente precisa modernizar a Vila Belmiro. Tirar esses camarotes térreos, o camarote atrás do gol a gente vai acabar, aquilo é um absurdo, não sei de onde tiraram aquilo. Nunca está cheio, não impressiona, não traz benefício ao clube. E com o aluguel do Pacaembu, vamos ter tempo para fazer um projeto de reforma. Temos que trazer o torcedor de volta, e para isso, precisamos trazer conforto. Trazer wi-fi, melhorias nos bares. Se você vai nos grandes estádios, tem comodidade, restaurantes, wi-fi. E é o que pretendemos fazer na Vila Belmiro.

Fizemos um projeto de cativa cheia. Junto do plano sócio torcedor, fazer a cativa em até 48h estar disponível para o sócio caso o dono não use. O que seria isso? Esse sócio, por exemplo, se não estiver no jogo, vau disponibilizar para o clube passar para outra pessoa, e esse ingresso vai ser uma parte revertida para o clube e outra parte revertida para o dono da cadeira, que ele paga isso anualmente. E dessa forma as cativas estarão cheias. Não dá para jogarmos com 50% das cativas cheias e 50% vazias. Tempos modernos.

CHÁCARA NICOLAU MORAN

Chácara Nicolau Moran é lendária. Você lembra de 1973, 1974, o time ficava concentrado, era toda aquela coisa. Para mim, que sou daquele tempo, ela tem um valor muito sentimental. Todo santista sabe o valor da Chácara Nicolau Moran. Não sei qual o estado, a última vez que ouvi falar da Chácara, ouvi que tem problemas com a prefeitura de São Bernardo do Campo, no terreno. É uma coisa para ser pensada, e por que não, não fazer uma sede social para o nosso torcedor? Vamos tentar fazer dessa neblina (que cai sobre a Chácara) uma nova Londres, o que o brasileiro mais sabe fazer é criar.

MARKETING

Eu fiz várias viagens para o exterior e tenho vários amigos que são empresários de empresas de marketing. Hoje, o marketing não é só ir atrás de um patrocínio master. O marketing tem que fazer a sua marca. Um exemplo é Sport. Há um tempo atrás, eles fizeram o projeto Adote um Torcedor. E era um torcedor de rua, em seus 13, 14, 15 anos. Você estampar sua marca em uma ação social como essa, consegue trazer uma visibilidade maior para o seu clube. Lógico que precisa ter motivos para participar, mas temos que passar como exemplo, para fazer novos investidores e fazer uma nova casa. E nós vamos ter um gerente de marketing e junto desse gerente vamos ter uma empresa para cuidar do clube. São coisas diferentes que vão trabalhar paralelamente para um bem só, que é a marca Santos F.C. O gerente será o Amir Somoggi.

FINANÇAS E DÍVIDA EM TORNO DE R$ 300 MILHÕES

A primeira medida é sentar e chamar os bancos. Temos um relacionamento muito bom com os bancos, vamos fazer um alongamentos das dívidas, o Santos paga hoje R$ 10 milhões anuais de juros, ou seja, você fica correndo atrás do rabo e não consegue sobreviver. Até porque essa gestão e outras nunca foram atrás de receitas. A gente só consegue equilibrar nossas despesas trazendo novas receitas. Para você fazer novas receitas, você precisa mostrar confiança nessa gestão e fazer o Santos jogar mais no Pacaembu para fazer o Santos voltar a ser protagonista e fazer sua marca crescer e trazer mais receitas, não tem segredo. É economia pura, eu sou formado. Não se pode gastar mais do que recebe. Não pode ficar parado achando que vai cair do céu por ter uma grande marca como a do Santos. Esse é o único caminho.

DIREITOS DE TRANSMISSÃO E ACORDO COM ESPORTE INTERATIVO

Eu gosto desse acordo com a Esporte Interativo. O Santos tem uma arma na mão muito poderosa, que é o Esporte Interativo e do outro lado a Globo, que nos trata mal. Eu tenho um relacionamento muito bom com o José Marinho, que não mora no Brasil, mas o filho dele é quem cuida da parte de esportes no Brasil. Existe uma renovação com o Pay Per View, nós podemos usar isso muito bem. Tem que saber dos contratos, mas existe uma renovação para 2019. A Globo não tem para onde correr, ela não vai querer perder o Santos no Pay Per View. O torcedor pode ficar sossegado, pois a renovação com a Globo vai ser a melhor possível para o clube, se não for uma das melhores da história.

ACORDO COM A UMBRO

A três meses da eleição fazer um acerto de material esportivo... Para mim isso é queima de arquivo ao acordo anterior com essa que está acabando, mas vamos tentar mexer nessa ferida, não vamos deixar o clube sem uma resposta sobre isso. Eu queria, por ter um bom relacionamento, conhecer mercado de roupas, tenho ótimos contatos com três gigantes do mercado mundial. Agora é analisar o contrato, como foi feito, que sabemos que foi muito mal feito pelos valores divulgados pela imprensa. O Santos é uma caixa preta, não vamos permitir esse tipo de coisa, todo e qualquer sócio vai poder saber exatamente o que tivemos de despesas, o que quiser do clube. Menos salário de jogador, que salário é uma coisa que não é necessário saber. Mas patrocínio master, uniformes, tudo tem que ser transparente. Sou contra patrocínio pontual, acho que denigre a imagem. Tudo isso tem que ser mostrado. Tudo vai ter no portal de transparência, o sócio vai saber exatamente o que tem de despesas. Isso tem que acabar, o Brasil vive um momento que ele quer mudar e o Santos tem que entrar nesse momento. A gestão Eduardo Bandeira de Melo (no Flamengo) tem uma gestão muito boa e é mais ou menos nesse sentido que a gente quer, mas vamos aprimorar. Com todo o respeito que é feito lá.

PECULIARIDADES

Proposta de se reunir com todos os candidatos para tratar de técnico para 2018

Ninguém leva a sério lá, né? Com relação ao técnico, o mínimo que deveriam fazer é sentar, bater um papo de cinco minutos, vinte minutos, meia hora, e organizar cada um sobre o técnico. Estamos falando de um time que tem 8 milhões de torcedores e temos que responder eles. O Santos não pode esperar uma eleição para tomar uma decisão como essa. Então, essa foi minha proposta, se eu não puder encontrá-los novamente, eu mando por Whatsapp esse pedido novamente. Vamos ver, quem sabe? Só para as pessoas terem um nível mais elevado e sentar e pensar no clube antes das candidaturas.

"Está tramitando no Congresso Nacional a Lei 5082. Me parece que vai passar nos próximos meses, que é uma coisa que o Michel Temer quer deixar: os legados. E ele sabe que o futebol é popular e ele quer sair da política, segundo eles, em alta, e vai sancionar essa lei que é a lei da S.A no esporte. Vamos pegar esse gancho para preparar o Santos para entrar essa lei"

Fazer do clube uma sociedade anônima

A S.A a gente pensa em preparar administrativamente o clube, emocionalmente, dentro do Conselho, todas as coisas dentro do administrativo. É o que a gente vê no mundo hoje, no futebol europeu, tem S.A. Os únicos que não são, são o Real Madrid e o Barcelona, o restante são todos com portes internacionais. A gente tem que preparar o Santos para isso. Eu fiz isso com a Hugo Boss, com a Puma, com a Ralph Lauren, eu preparei elas para quando viessem para o Brasil quando estivessem prontas. O que a gente tem que fazer no Santos é preparar. Mas o torcedor acha que a gente que vender o clube, mas a gente quer se antecipar aos outros uma possível vinda de investimentos internacionais para dentro do Brasil. O modelo de gestão que a gente gosta é do Bayern de Munique, que vendeu 8,5% para cada empresa Audi, Allianz e Adidas. Hoje eles têm 25,% vendido do seu clube para essas empresas e a gente quer preparar o Santos para vender até 49%.

Está tramitando no Congresso Nacional a Lei 5082. Eu jantei com o autor do livro, que é o Rodrigo Castro, me parece que vai passar nos próximos meses, que é uma coisa que o Michel Temer quer deixar: os legados. E ele sabe que o futebol é popular e ele quer sair da política, segundo eles, em alta, e vai sancionar essa lei que é a lei do S.A no esporte. Vamos pegar esse gancho para preparar o Santos para entrar essa lei. Por isso a gente vem colocando isso para o torcedor, para ele se acostumar com a lei nesse sentido. Não interfere na administração do clube. Você vai ter mais cobranças, será mais profissional. Não serão mudanças unilaterais, como jogar em Brasília contra o Flamengo, você tem que responder. Seria no sentido Bayern.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atual gestão é crítica por ela mesma. Ela é modesta. Ela fez o Santos perder sócios. Tem um time que não representa o seu sócio e torcedor. Não me sinto representado por esse time, a não ser o de 2015, quando o time estava engrenando com o Ricardo Oliveira. Aquilo em parecia um grande time. Fui para Osasco, fiquei no alambrado, enfim. Mas de lá para cá você percebe que não tem comando. É uma distância muito grande entre a parte administrativa, técnica, os jogadores, parece que cada um está num canto, as pessoa se conhecem, parece que é algo "eu te pago e você faz o trabalho", parece mal relacionado.

Com relação a candidatura, nós somos os únicos verdadeiramente oposição, por que em nenhum momento participamos da gestão do Modesto Roma, o outro candidato foi remunerado até meses atrás, vem sendo remunerado desde o tempo do Marcelo Teixeira, sabemos que é uma opção B do Marcelo Teixeira. Dizem outros que ele saiu para atrapalhar as candidaturas. Com relação a outro candidato e o vice foram membros do comitê gestor, pelas leis atuais do Profut eles nem poderiam ser candidatos. Nem o atual mandatário,Modesto Roma, nem o presidente e o vice dessa chapa por terem as contas rejeitadas. Aqui no Brasil a gente continua achando que podemos continuar passando por cima das leis, podemos fazer tudo, e que se dane, e não é bem assim. Estamos tranquilos quanto a isso por sabermos que somos os únicos verdadeiramente oposição.

Confira na sexta-feira a entrevista exclusiva com Modesto Roma Júnior, candidato à reeleição pela chapa Santos Gigante.

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