Espaço aberto: ‘Nascendo campeão’

Médico da seleção Brasileira de futebol feminino conta ao L! por que há mais competidores olímpicos nascidos nos primeiros quatro meses do ano do que nos meses seguintes

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São Paulo é um dos clubes com forte atuação na base (Foto: Igor Amorim/saopaulofc.net)

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Você sabia que existem muito mais competidores olímpicos nascidos nos primeiros quatro meses do ano do que nos meses seguintes? Aparentemente isso não é mera coincidência: diversos estudos, em diversos esportes, mostram que a proporção de atletas nascidos no início do ano é maior do que daqueles nascidos no final do ano. A justificativa para isso estaria relacionada com o período de formação dos competidores.

A FIFA e diversas outras entidades esportivas promovem competições de base utilizando a data de 31 de dezembro como corte para diferentes categorias (Sub-15, Sub-17 e Sub-20). Por isso, atletas nascidos com um único dia de diferença podem competir em categorias distintas.

Vale destacar que, além da idade cronológica, a maturação física varia de acordo com a pessoa. Por exemplo, um adolescente de 14 anos pode ter o físico de uma criança, outro de 13 anos pode ter um corpo semelhante ao de um adulto. Os atletas nascidos no começo do ano são os mais velhos na respectiva categoria. Se tiverem uma maturação física mais precoce, levam uma enorme vantagem em relação aos colegas nascidos no final do ano e que apresentam uma maturidade corporal mais tardia.

Com a maturação precoce, os atletas nascidos no começo de ano tendem a se destacar mais e a receber mais oportunidades dos treinadores. Nas seleções de base, é fácil verificar como a maior parte dos jogadores aparentam ser mais velhos do que a idade real. Nas categorias de base, isso pode fazer toda a diferença, mas que consequências isso pode ter para o atleta na idade adulta, como no caso de atletas olímpicos? Na idade adulta, seis ou sete meses de diferença interferem pouco no físico do atleta, de forma que outros fatores devem ser aventados.

Uma justificativa plausível é que, por serem mais estimulados na base (sendo convocados para seleções nacionais, por exemplo), esses atletas terão mais chances de desenvolverem seu potencial esportivo, aumentando assim suas chances também nas categorias adultas.

O lado ruim disso é que os competidores mais jovens da categoria (nascidos nos últimos meses do ano) terão menos oportunidades de mostrar o seu talento, ainda mais se tiverem caso uma maturação física mais tardia.

Esse cenário cria o risco de vários talentos não serem devidamente aproveitados, mesmo que apresentem um grande potencial técnico. Treinadores e outros profissionais envolvidos na formação de atletas devem, portanto, ter atenção a alguns fatores, como:

- Prestar atenção em atletas menores e mais jovens, que demonstrem boa habilidade técnica;

- Valorizar mais, em esportes nos quais altura é importante, a curva de crescimento e a estatura dos pais do que o tamanho atual da criança, que pode mudar muito em um ou dois anos.

- Não colocar atletas que se destacam para treinar com os mais velhos, pois pular etapas pode promover um desenvolvimento mais rápido no início, mas a longo prazo isso pode ser prejudicial.

Para os pais que desejam ver os filhos campeões, vale esta dica: a data de nascimento pode ser o primeiro passo rumo ao sucesso.

Dr. João Hollanda é médico ortopedista especialista em cirurgia do joelho e traumatologia esportiva. Trabalha atualmente como médico da seleção Brasileira de Futebol Feminino. Maiores informações em www.ortopedistadojoelho.com.br

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