‘Caubói de Aço’ da canoagem foca em 2020 após problema cardíaco no Rio

'Eu já via o Japão na minha frente desde o dia em que o médico falou: ‘você está liberado’, contou ao L! Fernando Rufino, que foi cortado da Rio-2016. Ele é atração no Mano a Mano<br>

Fernando Rufino
'Caubói de Aço' volta às águas visando Tóquio-2020 (Foto: Divulgação/Gustavo Fernandes/Mano a Mano)

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– Eu sou meio azarado, fiquei muito sentido, mas pensei: "Isso tem que acontecer comigo” – contou Fernando Rufino ao se referir a sua ausência na Paralimpíada Rio-2016, após descobrir um problema no coração e precisar se afastar da canoagem.

Essa foi só mais uma das muitas vezes que Fernando teve que dar uma pausa nos seus sonhos por razões médicas. O atleta já sofreu seis acidentes, quando ainda era peão de rodeio. O mais grave deles aconteceu em 2005 e o deixou paraplégico. Quando fazia uma viagem em um ônibus escolar, Rufino foi projetado para fora do ônibus.

Ele é uma das atrações do Desafio Mano a Mano de paracanoagem, que acontece neste domingo, a partir das 10h30, na Lagoa Rodrigo de Freitas, em provas de 500m. Antes, acontece a disputa olímpica, em que o brasileiro Isaquias Queiroz enfrentará o alemão Sebastian Brendel.

– Eu estava dentro do ônibus, cai pela porta e ele acabou passando por cima de mim. Quem estava dentro ouvia o barulho embaixo e quem estava lá era eu, um ser humano, agarrado pelo cinto, debaixo dos ferros do ônibus – contou o "Caubói de Aço", apelido que faz referência às placas e pinos de metal que ele tem pelo corpo por conta de seus acidentes.

– O Caubói de Aço mesmo é o coração. É o mais forte de todos – declara.

‘Eu me vejo velhinho, com 80 anos, sentado numa cadeira de balanço, chorando de emoção vendo uma festa de peão’, revela

A história de Fernando, cheia de altos e baixos, caminha para onde ele nunca havia imaginado e o leva a realizar sonhos. O atleta conta que sempre teve vontade de conhecer outros países, culturas e línguas, e que o rodeio era a forma de alcançar os objetivos. Com a fratura, tudo parecia perdido, mas a canoagem surgiu para dar continuidade às metas.

– Eu tinha um objetivo no rodeio e a canoagem foi a continuação disso. Só mudei de modalidade, mas continuei com o mesmo objetivo: viajar para fora do país, conhecer outras culturas e idiomas. Eu ia montar em boi para isso. Na época, se você fosse campeão de Barretos, iria para Las Vegas representar o Brasil. Acabou não dando certo no rodeio e pensei: "Vou partir para outro esporte”. Fiquei três ou quatro anos em recuperação e conheci a paracanoagem. Gostei do esporte. Entrei de corpo e alma, camisa chapéu e botina. E graças a Deus as coisas vem acontecendo na minha vida – contou.

Os acidentes e a canoagem, no entanto, não separaram esse peão de sua paixão pelos rodeios. Na companhia do também atleta Igor Tofalini, o "Peão das Águas", que será seu adversário na prova deste domingo, Rufino assiste, comenta, debate e se projeta velhinho acompanhando rodeios:

– Eu me vejo velhinho, com 80 anos, sentado em uma cadeira de balanço, chorando de emoção vendo uma festa de peão. Tenho contato com meus amigos que montam em touro. Eu e Igor, que era peão de rodeio, sentamos juntos para assistir, comentar sobre o rodeio, o touro pulador e os peões que estão montando bem. Esse contato é eterno – conta o "Caubói de Aço", que ganhou um amigo com muito em comum na paracanoagem:

Fernando Rufino e Igor Tofalini
Caubói de Aço e Peão das Águas (Foto: Divulgação/Gustavo Fernandes/Mano a Mano)

– A gente é peão, é sertanejo, tanto eu quanto o Igor. Nos conhecemos na paracanoagem e o esporte teve essa missão de ligar. Hoje, estou muito feliz. Ele é campão mundial e meu parceiro de treino. É uma alegria muito grande ter uma pessoa tão focada e que me motiva nos meus treinos. A gente já era peão de boi, então já tem esse respeito. O rodeio nos ensinou muito e nos moldou para os outros esportes, então a gente já chegou na canoagem com meio caminho andado. Foi fácil das coisas acontecerem.

Igor Tofalini foi quem substituiu Fernando Rufino na disputa da Paralimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. Os atletas são muito amigos e, hoje, Fernando lembra da decepção de não ter podido participar, mas fala também que está em busca de uma nova vaga nos Jogos Paralímpicos, desta vez em Tóquio-2020.

— Eu pensei: "Não vou reclamar, não é para ser agora. Deus quer que eu conquiste a medalha no Japão”. Fiquei muito triste, pois treinei por anos, focado nisso para chegar na hora e chutar para fora. Foi mais um baque que eu tive na minha vida. Mas sempre mantive a cabeça alta e acreditei que tudo daria certo. Acabou dando. Hoje, estou de volta visando 2020. Já estamos indo com tudo. Desde o dia que o médico falou assim “você está liberado”, após o problema cardíaco eu já estava vendo Japão na minha frente — revelou Rufino.

* Estagiária, sob a supervisão de Jonas Moura

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