Ao L!, campeão mundial de montain bike celebra: ‘Importância absurda’

Em segundo no ranking mundial, Henrique Avancini comemora o auge de sua carreira após ser o primeiro brasileiro a conquistar o título, no último sábado. Ele já mira Tóquio-2020

Henrique Avancini foi o primeiro brasileiro a conquistar o Mundial de MTB
Vitor Chicarolli

Escrito por

Henrique Avancini é dono de um feito inédito no esporte brasileiro. No último sábado, o carioca natural de Petrópolis conquistou o título do Mundial de Mountain Bike Maratona, realizado em Auronzo di Cadore, na Itália. Aos 29 anos, o ciclista vive o melhor momento de sua carreira.

O ano de 2018 foi definido pelo próprio Avancini como 'surpreendente'. Em março, ficou com o terceiro lugar da Cape Epic. Meses depois, a quarta colocação na Copa do Mundo de Cross Country Olímpico. Também teve destaque nas duas provas mais importantes disputadas no Brasil - venceu a etapa de Araxá da Copa Internacional de Mountain Bike e foi campeão brasileiro em julho.

A segunda colocação no ranking da União Ciclística Internacional (UCI) mostra o ótimo retrospecto do brasileiro. Ao LANCE!, o atleta descreveu a sensação de vencer o mundial, falou do planejamento até os Jogos de Tóquio 2020 e fez um desabafo sobre a atual situação do ciclismo no Brasil.

Como é fazer parte do capítulo mais importante da história do ciclismo brasileiro?
Este momento tem uma importância absurda na minha vida pessoal e também na história do ciclismo brasileiro. O Brasil tem uma comunidade muito apaixonada pela bicicleta e trazer um título mundial para essas pessoas é uma realização enorme na vida de um atleta profissional. Foi algo que durante muito tempo era impossível de imaginar. Aos poucos nós fomos diminuindo as diferenças e conseguindo concretizar esse planejamento, até que finalmente veio a camisa de campeão mundial. É um marco muito importante para a história do esporte brasileiro.

Como você define o atual momento da sua carreira?
Estou feliz com o momento que estou vivendo por meio da bicicleta. É um esporte que traz ensinamentos diferentes. Sempre procurei buscar informações de outras modalidades e trazer para o meu ambiente competitivo. Acredito que é uma modalidade esportiva que agrega muita para a vida das pessoas. As coisas que eu tiro do Mountain Bike tem um valor muito importante.

- Para ter sucesso você deve se vencer. Gosto de ver a bicicleta como uma eterna escola para a vida. Tenho mais de 20 anos como ciclista e hoje sou campeão mundial.

Como e quando começou essa relação de amor com a bicicleta?
Essa paixão começou e continua crescendo até hoje por principalmente duas coisas: a capacidade que a bicicleta tem de te conectar com os locais e o poder de superação que isso gera em você.  Todo dia que eu subo em uma bicicleta eu tiro uma lição. Isso é o que realmente alimenta a minha paixão por esse esporte como um todo e é por isso que eu defendo tanto a cultura da modalidade.

Está sendo a melhor temporada de sua carreira. Como você define o ano?
Olha, eu esperava ter as performances que tive, mas os resultados que eu obtive foram surpreendentes. A consistência e as marcas quebradas ao longo da temporada foram os pontos surpreendentes. Tem sido um ano de amadurecimento, muitas lições e conhecimento para aplicar nas provas daqui para frente. Está sendo um ano também de grandes realizações, mas acima disso, ainda foi um ano de aprender muita coisa.

Suas conquistas pessoais já eram um objetivo antes do início da temporada?
A maneira que eu venho trabalhando é muito sequencial. O que eu fiz em 2018 é pensando em 2019, que vai ser pensando em 2020. No momento eu não divido minhas temporadas de forma fatiada. Meu objetivo era chegar em 2019 com um outro nível.

Como tem sido a sua preparação para os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020? Na Rio-2016, você ficou na 23ª colocação. Qual sua análise sobre sua participação na última edição das Olimpíadas?
2016 foi o segundo ciclo olímpico que eu disputei de fato e minha primeira Olimpíada. Muito mais do que a vivência olímpica em si, foi o que o ano trouxe para mim. Tive que conviver com uma lesão que durou muito tempo, praticamente o ano inteiro. E também sofri uma outra lesão no dia da minha competição nos Jogos. Foi uma intensidade muito difícil de lidar na época, mas que me amadureceu. Então, eu enxergo isso tudo como um valor crucial para o meu crescimento. Nosso planejamento para 2020 já está muito avançado. Não irei mudar muitas coisas. Só vou continuar crescendo pela vivência que venho tendo. Venho trabalhando para chegar na ponta do pelotão há muito tempo e ainda não tenho muita experiência nisso. Os adversários que estão competindo comigo já estão lá há muito mais tempo. Como eu nunca tive um talento tão grande para realizar isso, acabei tendo que desenvolver minha capacidade de desenvolver as coisas. Por mais que eu não tenha tanta vivência de estar no topo, a minha capacidade de aprender com as novas situações é o que talvez seja a minha vantagem no momento.

Imaginava que seria uma referência do ciclismo não só para os brasileiros, mas como para o restante do mundo?
Eu acreditava que seria possível trabalhar da maneira como trabalhei, sem ter um grande talento, treinando mais que os outros atletas e tentando evoluir passo a passo, até chegar no nível dos melhores do mundo. Entre você sonhar com tudo isso e almejar tem uma diferença muito grande. Quando você realiza, não deixa de ser um choque. Por mais que eu trabalhava e almejava, realizar é uma coisa que te marca muito. E agora estou vivendo esse momento.

- Estamos com o desafio de sair dessa esfera fechada e ir para algo mais cultural. Acredito que tem tudo para acontecer e eu como atleta tenho isso como uma das grandes missões da minha carreira.

Qual sua perspectiva para o Mountain Bike no Brasil?
A modalidade hoje é gigantesca no Brasil, mas o mercado nem tanto. Temos mídia especializada e um ambiente muito fechado. O grande passo é o esporte ter um alcance mais amplo. Você verá um número considerável de pessoas pedalando em qualquer cidade do país e principalmente no Mountain Bike, que é a maior modalidade do país em termos de prática. Ainda assim, é algo isolado. Não parece ser um esporte do tamanho que é. 


Qual mensagem que você deixa para seus fãs e amantes do esporte?
A mensagem que eu deixo é que não precisamos ser tradicionais. Podemos construir uma tradição. Não precisamos ter a cultura da modalidade. Mas, podemos desenvolve-las. Por fim, não precisamos ter uma história de sucesso para conseguir grandes êxitos.

Henrique Avancini
Avancini foi o primeiro brasileiro a conquistar o mundial (Foto: Reprodução)


QUEM É ELE

Nome
Henrique da Silva Avancini

Nascimento
30/3/1989, em Petrópolis (RJ)

Altura e peso
1,77m/67kg

Na carreira
Campeão da etapa de Araxá da Copa Internacional de Mountain Bike , em 2018; campeão brasileiro, também em 2018; quarto colocado no Mundial de Cairns (AUS), em 2017; campeão Pan-Americano de MTB em 2015, ouro nos Jogos Sul-Americanos de Santiago, em 2015, campeão da etapa de Munsingen da Bundesliga, em 2013, tricampeão brasileiro na elite (2016, 2015 e 2013).

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