Obcecado pela Copa na Rússia, Weverton ‘ignora’ Europa e analisa concorrentes

Em entrevista ao L!, o goleiro do Atlético-PR quer permanecer sob os olhos de Tite e mostra que fará de tudo para realizar o sonho de ser convocado para o Mundial

Weverton foi titular contra a Colômbia
Weverton ganhou chance na Seleção com Micale, na conquista da medalha de ouro, e foi mantido nas convocações de Tite na principal. (Foto: Lucas Figueiredo/MoWa Press)

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A pouco mais de um ano para a Copa do Mundo da Rússia, o goleiro Weverton quer estar presente e não tira esse objetivo da cabeça em nenhum momento. Um dos nomes da Seleção de Tite, o arqueiro não se acomoda e sabe que é preciso manter o nível para a realização do seu sonho.

Além do claro desejo de ter conquistas com o Furacão, praticamente toda decisão a partir de agora tem um pensamento maior: a convocação. Em entrevista exclusiva ao LANCE!, o jogador do Atlético-PR deixa a torcida rubro-negra tranquila, pelo menos, em relação ao futuro próximo.

Com contrato até o final de maio do ano que vem, o atleta não pensa em mudança radical e, apesar de ter um sonho de atuar na Europa, Weverton sabe que trocar de ares pode trazer problemas de adaptação, uma possível reserva e o risco de sair do radar do técnico Tite e sua comissão. O foco é sempre ele: o Mundial.

- Tenho que pensar no futuro, mas o objetivo é permanecer jogando no Atlético-PR e sob os olhos do Tite - garantiu.

A conversa com a reportagem durou aproximadamente 30 minutos e o camisa 12 falou do novo estilo de jogo e mau momento atleticano, da análise na concorrência para a Copa, a necessidade e a influência de Neuer em jogar com os pés no futebol moderno, da pressão nas Olimpíadas do Rio de Janeiro do ano passado e da felicidade em marcar seu nome na história com a "Amarelinha". Um orgulho que reserva um espaço especial em casa para que a família e as próximas gerações saibam quem ele foi e o que ele fez.

- Se hoje estou na Seleção passa pela Olimpíada e fico muito feliz por ter entrado para a história do futebol brasileiro. Isso que fica. A gente está no futebol para dar o sustento para a família, mas fazer história com a Seleção vale a pena e fica para sempre - comemorou.

Confira a entrevista com o L!:

O Atlético-PR tem uma tradição de fazer um jogo mais reativo, explorando transições ofensivas rápidas e que deu certo num passado recente, como em 2013 e 2016. A partir deste ano, o clube adotou um modelo de jogo diferente, de propor a partida, ter a posse de bola e jogar com mais paciência, com você mesmo participando da iniciação das jogadas. Dentro disso, está tendo uma dificuldade e a própria torcida tem reclamado. Como você vê essa adaptação?

É um modelo que o Paulo (Autuori) vem implementando desde a sua chegada, de tentar ter a bola o máximo de tempo possível. Quem tem o controle do jogo sofre menos e é o que estamos tentando fazer, sempre saindo jogando, com segurança e já estamos adaptados com isso, de ter essa paciência de propor. Pode até ficar um jogo mais chato, mas faz parte do estilo e daquilo que ele vem pedindo.

Os resultados mais recentes do Furacão não foram muito positivos e, de uma hora para a outra, o torcedor saiu da lua de mel e passou a criticar o time. Acredita que ainda falta paciência da torcida para essa mudança e adaptação do novo estilo de jogo?

O torcedor é dessa forma, quer sempre ganhar e tudo indo bem. Mas, no futebol, nem sempre sai tudo 100%. Não tem que pedir paciência, porque são poucos que têm. Estamos trabalhando bem e continua sendo bem feito. Tem momentos difíceis também, estamos passando por um momento de reconstrução, até de reforços que chegam para se adaptar, mas creio que vamos fazer uma boa temporada.

Além do início da Série A neste final de semana, diante do Bahia, o Atlético-PR tem a decisão contra a Universidad Católica-CHI, fora de casa, na próxima quarta-feira, com uma necessidade de vencer para se classificar sem depender dos outros na Libertadores. Como está o momento da equipe?

A gente deixou escapar a classificação antes, de estar tranquilo, mas futebol tem isso. O grupo está consciente e só depende da gente. Passamos por isso contra o Deportivo Capiatá-PAR, na pré-Libertadores, quando empatamos aqui e buscamos lá. Temos condições, estamos nos fortalecendo, os machucados estão voltando e podemos alcançar esse objetivo que é a vitória. A torcida está esperançosa e nós também. Queremos entrar nas oitavas de final fortes e dar essa alegria para eles. 

- Onde o Brasil vai, sempre será favorito, ainda mais agora que recuperamos o bom futebol - aposta Weverton.

Como citado em uma pergunta anterior, você tem essa facilidade de jogar com os pés e é um diferencial para ter sido convocado para a Seleção olímpica, com o Rogerio Micale, após o corte de Fernando Prass, machucado. Antes você não tinha total domínio nesse aspecto. Como foi o trabalho específico para isso ao longos dos últimos anos? Tem tempo para aprimorar ou a o calendário escasso dificulta esse treinamento?

O futebol com o pé é uma exigência do futebol moderno, principalmente quando vimos o Neuer (Alemanha) na Copa do Mundo de 2014. Acho que todo mundo percebeu que goleiro não é só debaixo do gol, mas também é ajudar e ser um jogador a mais para dar opção e participar da partida. O Paulo chegou com essa ideia muito mais clara, eu já tinha uma certa facilidade por ter sido jogador de linha no início da carreira e consigo fazer isso muito bem. O trabalho continua sendo mais no jogo, porque não tem muito tempo de treinar e é mais de recuperar só. É fazer um aquecimento, se adaptar ao gramado e ver suas deficiências. No dia a dia fica difícil, aí o trabalho mais específico é no pré-jogo mesmo.

Dentro das tuas características, qual a sua maior qualidade e deficiência como goleiro? Qual sua análise do que pode melhorar ainda?

É complicado se analisar, ainda mais quando você se julga ser bom em algo. Não me vejo fazendo isso, sou mais uma pessoa crítica de melhorar sempre, olhar meus lances e tentar ajustar com o preparador de goleiro, como saída de gol, chute cruzado e posicionamento. É algo jogo a jogo que vamos tentando melhorar e tentando adaptar da melhor forma possível. Mas me sinto em forma, muito bem preparado, tanto fisicamente quanto mentalmente, e também em performance dentro do gol. E aí as coisas acontecem naturalmente e estou muito feliz com tudo que estou vivendo.

Um assunto do momento é a grama sintética, até então proibida para o Campeonato Brasileiro a partir de 2018. Como você utiliza bastante o jogo com o pé, também tem propriedade no assunto. Como é a adaptação no quique e na velocidade da bola tanto no chute contra seu gol como jogar pelo chão?

É uma coisa que estamos cansados de falar. Muito se falou que levamos vantagem com esse piso e os últimos jogos que fizemos em casa (Coritiba e San Lorenzo-ARG venceram por 3 a 0, na Arena da Baixada) provam que não têm nada disso. Perdemos o título estadual e a chance de confirmar a classificação na Libertadores. Oferecemos um campo muito bom, sem buraco e irregularidade, e quem gosta de jogar futebol, de ter a bola no pé, é o gramado perfeito para se jogar. Muitos estádios não têm condição e a gente sofre com isso. Na Série A ainda temos bons campos e não temos dificuldades, mas aí você vem jogar contra o Santa Cruz com gramado pesado e ruim e fica difícil. Não é uma grama boa para prática de futebol. Mas é aquilo, temos que se adaptar e acabamos nos acostumando. 

- A gente está no futebol para dar o sustento à família, mas fazer história com a Seleção vale a pena e fica para sempre - W12.

Teu contrato com o Furacão é até o final de maio do ano que vem. Já existe uma conversa para renovar ou o clube ainda não te procurou? E a proximidade com a Copa, que já é no ano que vem, faz com que você prefira ter essa segurança do Tite te observar por aqui mesmo?

Com certeza estar na Seleção é meu grande objetivo e isso passa pelo meu desempenho no clube, de estar bem e o Tite fala para estar sempre em bom nível quando voltamos da Seleção para os clubes, porque vai estar observando. O fato de eu estar jogando, e bem, tem me favorecido e agora trocar de time, sem muito tempo para isso, tem que sentar e conversar para ver o que é melhor. Tenho que pensar no futuro, mas o objetivo é permanecer jogando no Atlético-PR e sob os olhos do Tite.

Dentro dessa linha de mercado, você já teve algumas sondagens de times europeus, inclusive nesta última janela de transferência internacional, com um time da Turquia fazendo proposta. Ainda pensa em jogar na Europa? Qual liga você tem mais interesse?

Eu acompanhando bastante o futebol europeu, claro que quando dá tempo. Também assisto os Estaduais, Copa do Brasil, Libertadores. Sou fã do nosso futebol. Claro que tenho essa vontade de jogar na Europa, mas não é uma obsessão. Temos grandes clubes no futebol brasileiro, que oferecem uma bela condição de trabalho e dão a opção de ficar por aqui mesmo, jogando em alto nível e em bons torneios. Estou feliz no Atlético-PR, no Brasil. Se aparecer alguma oportunidade boa para mim e para o clube, a gente senta para resolver da melhor maneira possível. Mas agora só quero jogar, estar bem e sempre ser lembrado pelo Tite nas convocações e continuar minha caminhada. Meu sonho é jogar a Copa.

Nas Olimpíadas, você pouco apareceu com defesas nos jogos, mas foi decisivo na conquista da medalha de ouro nos pênaltis. Logo após o gol do Neymar, que decretou o título, você foi o primeiro a abraçá-lo. Ali caiu a ficha já do momento histórico que vivia ou demorou um tempo?

Foi sim. Nessa hora que acabou. Quando você está envolvido, lá dentro, não sabe a proporção das coisas que estão para fora. Foi aquela pressão por ganhar, aquela loucura, ainda mais jogando em casa. Inclusive quando chegamos no hotel em Salvador, lembro de algumas coisas antes do último jogo da primeira fase (Dinamarca, vencida depois por 4 a 0). Aquela cobrança por não poder sair precocemente. Essa conquista foi muito marcante na minha vida, na minha carreira. Se hoje estou na Seleção, passa pela Olimpíada e fico muito feliz por ter entrado para a história do futebol brasileiro. Isso que fica. A gente está no futebol para dar o sustento para a família, mas fazer história com a Seleção vale a pena e fica para sempre.

Antes de você abraçar o Neymar, tua primeira reação foi correr atrás da bola e "esconder" embaixo da camisa. A bola está guardada contigo ainda? Onde você guarda ela e a medalha?

Ela está comigo sim, lá em casa. Junto com a luva, camisa, calção e a medalha em um espaço na casa. Só a chuteira que não. Tudo vai ficar guardado para a Valentina (filha), próximos filhos, netos, para todos saberem a história do pai, vô, de como foi tudo isso.

Neymar é o melhor jogador com quem você atuou? Na "Era Tite", de 100% de aproveitamento e um belo futebol jogado, o Brasil é mesmo o principal favorito?

É um grande prazer sempre (jogar com Neymar). Ver de perto o grande jogador que ele é, de jogar ao lado dele. Joguei contra algumas vezes e sei o quanto é difícil e como nos preocupamos em parar ele, porque realmente é muito diferenciado. A Seleção tem outros jogadores vivendo fases espetaculares e é por isso que estamos bem, é o conjunto e com performances excelentes, de alto nível. Dispenso comentários sobre o Tite que, além da capacidade técnica e tática de ver o jogo, sabe administrar um grupo de jogadores tão bons. Isso é o mais importante. Você convocar 23 jogadores, vai usar 15,16 em duas partidas e ainda conseguir deixar todos em alta competividade, e ele faz isso de forma espetacular. Onde o Brasil vai, sempre será favorito, ainda mais agora que recuperamos o bom futebol. Entramos como um dos favoritos sim e esse é o objetivo. Temos uma grande oportunidade de colocar nosso futebol como o melhor do mundo e o Mundial ano que vem está aí para confirmar o ranking atual (Brasil voltou a ser líder do ranking da Fifa).

A posição de goleiro é, no momento, a mais concorrida dentro da Seleção. Alisson, Ederson, Muralha, Diego Alves, Marcelo Grohe, Fernando Prass e você estão na briga. Você e Alisson parecem um pouco à frente dos demais. É manter o trabalho atual ou pensa em algo diferente para garantir uma das três vagas para o Mundial?

Sempre tivemos bons goleiros, se você analisar a história do futebol brasileiro. Hoje não é diferente e isso aumenta o nível de qualidade. Quem está, quer permanecer. Quem não está, quer ter a chance. É uma competitividade muito interessante, porque todos precisam estar bem. Vai começar o Brasileiro e quem está aqui precisa manter. Quem está na Europa entra em férias e é interessante para quem joga no Brasil no momento para ser observado. Eu vejo meus concorrentes, analiso o que eles fazem de bom e o que posso melhorar nisso tudo. Essa concorrência é legal e vai aumentar sempre o nível.

O Taffarel, preparador de goleiros da Seleção brasileira, esteve na final do Campeonato Paranaense te observando contra o Coritiba, no Couto Pereira, e fez diversos elogios, falando que olha todos os seus jogos e que estava aqui para ver mais de perto. Mas também falou de atitudes, como aquela confusão nas quartas de final contra o Paraná, que você teria provocado a torcida e que resultou em uma briga no gramado. Também é comum ver você provocando em clássicos contra o Coritiba. Acha que falta mais disso, que era tão comum no passado? O futebol está muito politicamente correto?

Eu não falei com ele a respeito disso. Ele foi jogador e sabe muito bem que temos que dar exemplo em campo, porque somos espelhos para muita gente e confusão não leva a nada. Mas isso, às vezes, acontece ali. No calor do momento, eu comemorei de um jeito que os jogadores do Paraná não gostaram e começou a confusão. Mas, quem analisou as imagens, viu que não participei de nada, comemorei e não briguei com ninguém. Sei que todos da Seleção também são observados pelo comportamento dentro e fora de campo, mas ele sabe da minha personalidade e meu caráter. Já trabalhamos na Seleção e ele sabe que isso não faz parte do meu dia a dia e da minha carreira. Não participo de briga, nunca fui visto nisso e novamente não ter participado foi importante. Fico sempre feliz quando ele vem me ver e é a oportunidade eu mostrar meu trabalho.

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