Luiz Gomes: ‘Luizinho se foi antes de levar o América à Primeira Divisão’

Atacante, que se destacou com a camisa do Mequinha, faleceu no último domingo

América-Luizinho Lemos
Luizinho passou ainda por Flamengo, Botafogo, Internacional e Palmeiras (Foto: Divulgação)

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Nos anos de 1970 não havia a quantidade de jogos transmitidos pela televisão como hoje em dia. O que massificava o futebol ainda era o rádio. Os jogos do campeonato carioca, então o mais popular e de maior repercussão no país, eram transmitidos em cadeia nacional comandada pela Rádio Globo, do Amazonas ao Rio Grande do Sul. As vozes poderosas de Waldir Amaral e Jorge Cury, que se revezavam na locução, um em cada tempo, mexiam com a imaginação do torcedor a cada lance de perigo. Cada um de nós, na verdade, visualizava a jogada do seu jeito. Os comentários táticos de João Saldanha, as análises sempre contundentes do ex-juiz Mario Vianna – com dos enes – procuravam dar um sentido ao que se passava em campo.

Foi nessa época que Luizinho Lemos, Luizinho Tombo ou simplesmente Luizinho construiu sua história. Não era um camisa nove técnico, não tinha a categoria de muitos dos craques com quem atuou. Mas tinha um raríssimo faro de gol. Raçudo, rápido, determinado como poucos quando avançava em direção à meta adversária, era um verdadeiro terror para os zagueiros. Era um atacante diferenciado, de um tempo em que o futebol era diferente. Tinha uma boa dose de romantismo, uma alegria e uma espontaneidade que aproximava o jogador do torcedor, estabelecia mais do que uma idolatria, uma relação de cumplicidade. Luizinho era um autêntico representante do povão dentro de campo.

Quando eu era garoto, nas arquibancadas do Maracanã, nos gols da rodada no fim do domingo ou principalmente nas fotos em cor de rosa do velho Jornal dos Sports, vibrava com a imagem daquele jogador de camisa cor de sangue, cabelos longos e desalinhados, comemorando seus muitos gols sempre pertinho dos torcedores da geral, de braços abertos e um sorriso de orelha a orelha no rosto. Se pudesse, ele saltaria por cima do fosso para abraçar a galera. Um estilo espalhafatoso que – assim como a cabeleira – era uma marca característica de toda a família Lemos, dele e dos irmãos Caio Cambalhota e César Maluco que como ele fizeram a alegria do torcedor por onde passaram.

Luizinho foi um dos responsáveis pela ascensão do América naqueles tempos. E pela simpatia que o clube alvirrubro despertava mesmo nos torcedores de outros times. O que se dizia no Rio daquela época é que o América era o segundo time de todo mundo. E era verdade. Dava gosto ver e torcer por aquele timaço. Em 1974, quando venceu a então valorizada Taça Guanabara, a escalação do Mecão tinha Rogério no gol, Orlando Lelé, Geraldo, Alex, Ivo e Álvaro; Flecha, Bráulio, Luizinho, Edu (o irmão de Zico) e Gilson Nunes. Vários desses nomes brilharam depois em times como o Flamengo, o Vasco, o Internacional, alguns chegaram à seleção brasileira.

No Brasil, Luizinho defendeu também o Flamengo de Zico, que pagou por seu passe um dos valores mais altos do futebol brasileiro de então, o Botafogo, o Internacional e o Palmeiras, além de Ferroviário e Americano, já no final da carreira. Teve rápidas passagens pelo exterior, em clubes da Espanha, do México e do Qatar. Mas, embora tenha rodado pelo mundo, o América sempre foi o porto seguro do atacante, a casa a que dedicou a maior parte de sua vida. Ele saía, mas acabava voltando. Nas três passagens pela Rua Campos Salles, marcou 311 gols, que o tornaram o maior artilheiro da história alvirrubra, quase uma centena à frente de Edu, o segundo da lista, com 212.

Quando pendurou as chuteiras – essa era uma expressão típica do jornalismo esportivo do século passado – Luizinho começou a carreira de treinador, não por acaso, no comando do América, onde ficou de 1994 a 1996. Por um capricho do destino, ele dirigia outra vez o mesmo América, quase 25 anos depois, quando sofreu o problema cardíaco, durante a semana passada, num jogo contra o Nova Cidade, de Nilópolis, pela segunda divisão do campeonato estadual do Rio. Luizinho tombou fazendo o que mais gostava na vida. O coração o traiu, contudo, antes que realizasse um sonho: levar Mequinha outra vez à elite carioca, o que julgava ser o primeiro passo para resgatar os velhos e bons tempos. E virar outra vez um Mecão.

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