Luiz Fernando Gomes: ‘Sobre o VAR, reclamações e a lei sem lei’

Presidente do Palmeiras levou gancho de 15 dias do exercício da presidência do clube após críticas. Sentenças como a do STJD trazem para o esporte nuvens carregadas

O presidente Maurício Galiotte prefere não se manifestar enquanto seguir negociando com a Globo
Presidente do Palmeiras, Mauricio Galiotte, foi punido após críticas ao VAR (Foto: Fabio Menotti/Ag. Palmeiras)

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As declarações do presidente do Palmeiras sobre o VAR têm sido completamente estúpidas. Vale repetir aqui, para contextualizar, o que disse Mauricio Galiotte seis rodadas atrás, depois do empate com o Internacional, em Porto Alegre, quando o gol que daria a vitória ao Verdão foi anulado após uma consulta à arbitragem de vídeo.

– O Palmeiras lutou muito para ter a tecnologia no futebol, mas o VAR tem que ser igual para todos. Tem que tratar todos da mesma maneira, e não cada jogada de maneira pontual. O Palmeiras está revoltado, porque algumas situações envolvendo o VAR estão sendo situações pontuais. O VAR trabalha para alguns clubes, para alguns é chamado o VAR e para outros não. Ou seja, são jogadas que o VAR entra para o time A e não para o time B – afirmou, numa clara referência, embora sem explicitar, ao que seriam benefícios ao Flamengo por parte dos árbitros.

Teorias da conspiração, especialmente quando a liderança de um campeonato está em jogo, são costumeiras no futebol brasileiro. Fazem parte da rivalidade, da nossa cultura, não dá para levá-las a sério. Por mais desprovida de argumentação lógica que seja a afirmação de Galiotte, portanto, tão ou ainda mais absurda foi a decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva da CBF de suspender o dirigente por 15 dias do exercício da presidência do clube. A que ponto chegamos, senhores. Que país é este que estamos construindo em que o direito de criticar é cassado sem a menor cerimônia e com base na interpretação de um outro procurador sobre termos da legislação?

Vale lembrar que, também essa semana, o técnico Jorge Jesus, denunciado por pesadas críticas ao VAR e ao árbitro da vitória do Flamengo por 2 a 0 sobre o Athletico, foi apenas advertido pelo mesmo STJD. O Mister, como Galiotte, estava enquadrado no artigo 258 (conduta contrária à ética), além do 243-F (ofensa à honra do juiz Bráulio da Silva Machado), e escapou de um gancho que poderia chegar a 12 jogos. Teriam sido dois pesos e duas medidas?

Galiotte não fez acusações pessoais a ninguém especificamente - o que poderia resultar em um processo por ofensa da honra, injúria, difamação, sei lá o que mais. Ele atacou um sistema – e, como se vê, não foi o único a fazê-lo nos últimos tempos. Criticou critérios, ainda que forma dura, passional, em causa própria e com argumentos frágeis. Mas tem, como Jesus, todo o direito de questionar, isso faz parte do jogo democrático.

O problema aqui não está na advertência ao treinador rubro-negro, mas na condenação do cartola palmeirense. A liberdade de expressão é assegurada pela Constituição da República - esse ente tão atropelado ultimamente nas mais diversas instâncias. Sentenças como a do STJD trazem para o esporte as mesmas nuvens carregadas que semeiam nesses tempos difíceis a ameaça censora às atividades culturais, à mídia, aos direitos individuais mais básicos do cidadão.

Tem se dito que o futebol está chato. A Fifa, que dos palácios de Zurique baixa regras e dita comportamentos, de fato está muito longe de ser um exemplo de modernidade, de transparência e de adaptação às transformações que o mundo exige. Mas será mesmo que o futebol é que está chato? Ou será que é o futebol brasileiro que está mais chato do que se vê no resto do planeta?

Na goleada histórica do Flamengo sobre o Grêmio, quarta-feira, Gabigol foi até a arquibancada, pegou um cartaz das mãos de um torcedor e saiu exibindo-o diante das câmeras de TV. Viram o que o juiz argentino fez com ele? Nada! Se fosse um jogo do Brasileirão, da Copa do Brasil ou de um Estadual, certamente o atacante teria levado um cartão amarelo.

Reprimir a comemoração de um gol, a explosão de emoção, as provocações que por vezes surgem nesses momentos nada tem a ver com combater a violência no futebol. Tolir o direito de criticar o sistema, nada tem a ver com moralização. São simplesmente atitudes despóticas.

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