‘Clubes S/A: cedo ou tarde, dirigentes terão de encarar o assunto de frente’

Na Argentina, governo Macri tenta forçar clubes a virarem Sociedades Anônimas, mas a grande maioria é contra. Argumento de cartolas é uma balela

Chapecoense x Figueirense
Figueirense adotou modelo de gestão novo e é S/A: único nas Séries A e B do Brasil (Foto: Luiz Henrique/Figueirense)

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O argumento mais usado pelos cartolas argentinos para combater o projeto do governo de Maurício Macri, propondo a criação das Sociedades Anônimas Desportivas, é a necessidade de proteger os sócios. Trata-se de uma balela. As SADs, ou apenas S/As, pelo projeto argentino, assim como no modelo em discussão no Brasil, nada tem a ver com a fatia associativa dos clubes que continuariam a ter gestão autônoma. Ou seja: os sócios continuarão a cuidar das piscinas, das quadras de esporte, dos salões de baile.

Mas futebol é outra coisa. É um negócio que, como tal, precisa ser administrado. É assim em todo o mundo civilizado da bola. Mesmo na Espanha, onde Barcelona e Real Madrid não se enquadram no regime de clube-empresa, o arcabouço jurídico criou normas tão rígidas que se não tivessem uma gestão efetivamente empresarial, os dois gigante não teriam a força que tem no país e por todo mundo.

Pelo modelo Macri, os clubes se tornariam acionistas dos clubes-empresas. Quanto mais eficiente a gestão das SADs maiores seriam os bônus e dividendos gerados, com impacto direto em benefícios ao quadro social. Estabeleceria-se um círculo virtuoso em que todos sairiam ganhando.

As SADs mudariam a relação entre os clubes. Tornariam mais viável a formação de uma liga, em que a rivalidade ficaria restrita aos gramados e os interesses do grupo seriam discutidos de forma coletiva, fortalecendo todo o sistema. Dariam, por outro lado, uma segurança jurídica e institucional que mudaria a relação de investidores e patrocinadores com o futebol. Uma gestão efetivamente empresarial eliminaria barreiras que hoje levam a ficar com um pé atrás quem quer colocar dinheiro no esporte: a incerteza de que contratos firmados numa gestão continuariam a valer três ou quatro anos depois quando o presidente deixasse o cargo nas mãos de adversários políticos. Coisa que se vê a cada momento.

A mudança do regime, seja agora ou daqui a alguns anos, é, enfim, um fator imprescindível para reduzir o abismo que separa os clubes dos dois lados do Oceano Atlântico. Argentinos ou brasileiros, em algum momento vamos ter de encarar o assunto de frente, muito além do discurso demagógico da cartolagem.

Luiz Fernando Gomes é editor do L! Espresso e colunista do L!

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