Jogadores brasileiros relatam medo e violência sofridos na guerra entre Israel e Hamas

Em entrevista ao Lance!, atacante diz aguardar contato do Itamaraty para retorno ao Brasil

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Violência e destruição assusta jogadores brasileiros que atuam no futebol israelense (Mohammed Abed/AFP)

Escrito por João Vitor Nogueira, supervisionado por

Os conflitos entre Israel e o Hamas, grupo terrorista da Faixa de Gaza, permanecem marcados por intensos ataques fatais. A constante guerra entre os territórios já causou a morte de mais de quatro mil civis e, com todas as problemáticas humanitárias, o futebol israelense, que conta com três jogadores brasileiros, foi paralisado e não há previsão de retorno.

O QUE ESTÁ ACONTECENDO?
Antes de tudo, é preciso entender. A guerra tem um histórico de mais de 70 anos, desde que a Organizações das Nações Unidas (ONU), em 1947, propôs a criação de dois estados: judeu, para o Israel, e árabe, para a Palestina, dividida entre Gaza e Cisjordânia. Em entrevista ao Lance!, o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fernando Brancoli, comenta sobre as ofensivas sofridas por Israel, afirmando que o contra-ataque está sendo realizado, potencializando, ainda mais, a guerra.

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- Ninguém é a favor do ataque terrorista que Hamas fez, mas, de certa forma, a ação de Israel nos últimos anos é um tratamento também muito desumano em relação aos Palestinos, de bombardeios, mortes, de não permitir que essas populações vivam. 

- O que a gente vê no final das contas é uma tragédia humanitária para ambos os lados e nada justifica o que foi feito, mas também não dá carta branca para que Israel responda aos Palestinos cometendo crimes de guerra. O que a gente vai ver nos próximos dias é essa movimentação ofensiva de Israel. É uma bola de neve de violações - completou.

Além de toda a crise humanitária envolvendo os dois territórios, o futebol também sofreu consequências, como as competições nacionais paralisadas por tempo indeterminado. Com a Data Fifa, os jogos da seleção israelense contra Suíça e Kosovo foram cancelados. 

BRASILEIROS EM ISRAEL
Lucas Salinas, de 28 anos, atua pelo FC Ashdod e, em conversa com o Lance!, relatou presenciar ataques aéreos nos arredores de sua casa e tentativas de invasão de terroristas da Faixa de Gaza.

- A minha cidade (Ashdod) teve vários ataques aéreos, um foguete chegou a cair cerca de dois quilômetros de onde eu moro e consegui sentir o impacto. Tentaram entrar por terra, mas os terroristas foram abatidos na entrada da cidade.

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Lucas Salinas tem contrato com Ashdod até junho de 2024 (Divulgação/FC Ashdod)


O meio-campista chegou ao Brasil neste sábado (14) após conseguir voo para Portugal. Segundo Lucas, o clube permitiu aos atletas voltarem aos países locais até que a situação esteja controlada.

- Eu decidi ficar em casa porque tinha o bunker e só saí com a certeza de um voo. Na quarta-feira (11), fui para Portugal e fiquei na casa do meu empresário. Na sexta-feira (13) à noite, voltei ao Brasil. O clube nos deu liberdade para ir ou ficar em Israel. Sobre o retorno, são muitos achismos. Não temos nada concreto. Quando acabar a guerra, provavelmente a gente vai voltar para cumprir o contrato e o campeonato - contou.

PROIBIDO SAIR DE CASA
Felipe Santos, atacante do Hapoel Haifa, atual vice-líder do Campeonato Israelense, também relatou a tensão sofrida nos últimos dias. O jogador, que mora com a esposa, filho e avó, contou que, ao ser comunicado sobre a gravidade dos ataques, ficou com medo da família ser atingida e que foi impedido pelas autoridades de sair de casa.

- A ordem é não abrir a casa pra ninguém, nem mesmo para policiais porque não sabemos se esses policiais são na verdade policiais ou terroristas, porque na Faixa de Gaza muitos terroristas estavam se vestindo de policiais. Então, hoje a ordem é ficar dentro de casa, e a gente estoca comida e água porque não sabe se essa guerra vai durar muito ou pouco tempo. 

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Felipe Santos está em sua primeira temporada em Israel (Divulgação/Hapoel Haifa)


Diferente de Lucas Salinas, o camisa 11 permanece em Haifa, mas retornará ao Brasil após contato com o governo brasileiro. O diretor do clube esteve em contato direto com o brasileiro e permitiu a retirada do país até que o campeonato retorne.

-  Hoje nós pensamos em voltar para o Brasil e estamos aguardando o posicionamento do Itamaraty e o contato conosco. Vamos aproveitar que surgiu a oportunidade de voltarmos para o Brasil até as coisas melhorarem para, enfim, nós voltarmos pra cá e continuarmos a trabalhar - disse.

- Eu espero, de verdade, que as coisas possam melhorar para que o campeonato volte. O meu time está em uma colocação muito boa. Estamos passando por um momento muito bom no campeonato. Mas até agora a Fifa não se pronunciou. A Liga não se pronunciou. O clube também não se pronunciou quando vai ter o retorno do futebol, dos treinos, mas eu estou aguardando e espero que isso venha se resolver o mais rápido possível - concluiu.

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