Caso Vini Jr: em entrevista ao L!, ex-jogador fala sobre casos de racismo na Espanha

Brasileiro foi vítima de injúrias raciais em duelo contra o Valencia pela La Liga

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Torcida do Real Madrid presta homenagem a Vini (Foto: JAVIER SORIANO / AFP)

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No último dia 21, o mundo do futebol vivenciou mais um caso de preconceito durante uma partida. Vinícius Jr, brasileiro do Real Madrid, foi alvo de ofensas e injúrias raciais enquanto disputava duelo com o Valencia pelo Campeonato Espanhol no Mestalla. O jogo chegou a ser paralisado por nove minutos e muitos desdobramentos foram realizados nos dias posteriores devido ao ocorrido.

Não é a primeira vez que jogadores brasileiros sofrem racismo enquanto atuam pelo futebol espanhol. Outros atletas, como Roberto Carlos e Denílson, também foram vítimas do crime. Por isso, o LANCE! entrevistou Marcos Senna, ídolo do Villarreal e jogador que fez história no futebol espanhol, conquistando a Eurocopa de 2010 com a Fúria.

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VINI JR NO MESTALLA
O caso do camisa 20 merengue aconteceu no duelo entre Real e Valencia, pela 35ª rodada da La Liga. Gritos de "mono" - macaco em espanhol - já eram ouvidos ao longo do jogo. Entretanto, aos 27 minutos da segunda etapa, o brasileiro identificou e bateu boca com um dos torcedores presentes no Setor Mario Kempes, no Mestalla, estádio valenciano, reportando ao juiz o caso de racismo. O árbitro Ricardo de Burgos Bengoetxea paralisou o jogo por nove minutos e explicou a Vini e a Carlo Ancelotti, técnico do Real, o funcionamento do protocolo da La Liga. Bengoetxea disse que não poderia finalizar o jogo, a não ser que os gritos continuassem.

Vinicius Júnior é vitima de racismo na Espanha
Vini identifica torcedor que o ofendeu (Foto: JOSE JORDAN/AFP)

Vinícius aceitou seguir jogando, mas já nos acréscimos, se envolveu em nova confusão. O ponta-esquerda iniciou uma pequena discussão com o goleiro adversário, Mamardashvili, e foi preso em um mata-leão por Hugo Duro. Ao se desvencilhar da chave, Vini acertou Hugo no rosto com seu braço. O árbitro de vídeo, Iglesias Villanueva, recomendou a Bengoetxea a revisão do lance no monitor, mas apenas mostrou a agressão do brasileiro, omitindo a submissão do valenciano, o que resultou em expulsão unicamente do madridista.

Marcos Senna, ídolo do Villarreal e ex-jogador do Corinthians, falou com o L! a respeito do caso Vini Jr e deu sua opinião sobre o racismo no futebol espanhol.

- Eu, afortunadamente, nunca sofri ou presenciei nenhum caso de racismo com meus companheiros, mas obviamente vi casos como o do Vinícius e o de Samuel Eto'o. Isso me deixou muito triste e ao mesmo tempo revoltado, mas sabemos que isso em algum tempo vai acabar. Esse tipo de situação, quando você vê acontecer, dá uma sensação de impotência. Você gostaria muito de ter algum tipo de reação urgente presencial ou das autoridades, e às vezes não acontece dessa maneira - disse Marcos.

HISTÓRICO RACISTA
O caso de Vinícius não foi o primeiro na temporada espanhola. O brasileiro já havia sido alvo de injúrias e ofensas desta natureza em outras nove oportunidades nos últimos dois anos, sendo oito dentro de campo. Nos estádios de Barcelona (2x), Mallorca (2x), Atlético de Madrid, Real Valladolid, Osasuna e Real Betis, o crime de racismo contra o futebolista pôde ser identificado. Além disso, o caso ocorrido fora do estádio é datado de 26 de janeiro deste ano. Na ocasião, torcedores da principal torcida organizada do Atlético penduraram um boneco de Vini em uma ponte de Valdebebas, que está no caminho do Santiago Bernabéu, palco do jogo que aconteceria no mesmo dia entre os dois rivais da capital. A situação simulava um suicídio do brasileiro, além dos dizeres "Madrid odeia o Real" em uma placa atrás do boneco.

Outros brasileiros também já foram vítimas de racismo no futebol espanhol. Roberto Carlos, ex-lateral do próprio Real, revelou em coletiva no ano de 1997 que ouviu gritos de "Roberto Carlos, o p*** chimpanzé" direcionados a ele no El Clásico, além de placas penduradas na arquibancada. Dani Alves, ex-lateral do clube blaugrana, viu uma banana ser atirada em sua direção quando visitou o Estadio de la Cerámica, do Villarreal, no ano de 2014. Ao se deparar com a fruta, Dani pegou-a do chão e comeu em resposta aos atos criminosos. Denílson, em entrevista de 2018 ao canal "Desimpedidos", também contou uma história onde foi salvo por Marcos Assunção, primo de Marcos Senna, enquanto jogava pelo Real Betis.

- Fomos jogar em Zaragoza e éramos obrigados a dar uma volta no quarteirão ao acordar. Estávamos saindo do hotel eu e Marcos Assunção, paramos para falar com alguns veículos de comunicação e percebemos que o tumulto estava grande do lado de fora. Torcedores me chamaram e pediram ingressos para o jogo, afirmando que a gente ganhava ingressos. E de fato ganhávamos, mas eu não estava com eles. O cara começou a insistir e disse "Como você não tem ingresso, seu negro de merda? Você é um negro de merda". O Assunção ouviu ele me chamar assim e veio questionar "quem que é negro de merda?". Eu fiquei atrás e comecei a gritar "é, quem que é?" (risos). Mas eu ia apanhar se não fosse ele - disse o pentacampeão do mundo em 2002 com a Seleção Brasileira.

+ O que pode acontecer com os torcedores acusados de racismo contra Vinícius?

OUTRAS NACIONALIDADES
Os brasileiros não são os únicos alvos de ofensas racistas por parte de aficionados do futebol espanhol. Como citado por Marcos Senna, o camaronês Samuel Eto'o também foi vítima de preconceito de torcedores do Zaragoza. Em 2006, quando atuava pelo Barcelona, o atacante ouvia insultos de "macaco" direcionados a si a cada vez que tocava na bola e ameaçou deixar o campo caso a situação não cessasse.

Eto'o - Barcelona
Eto'o em ação pelo Barcelona <strong>(</strong>Foto: Reprodução/Youtube)

Já em 2022-23, foi a vez do nigeriano Samuel Chukwueze, do Villarreal, entrar para a lista de jogadores insultados. Um torcedor do Mallorca proferiu ofensas contra o atacante, destaque do Submarino Amarelo na temporada, e acabou sendo identificado posteriormente. A diretoria dos Piratas suspendeu o apoiador de comparecer ao Visit Mallorca Estadi por três anos.

- Acredito que devido à repercussão, desta vez os casos de racismo na Espanha vão cair. Assim espero. E que não seja só aqui, que seja no mundo, para que possamos viver em igualdade, pois há muitos que consideram uma pessoa, para o bem ou para o mal, pela cor da pele. É inadmissível que isso ainda aconteça no século XXI - afirmou o ex-jogador do Submarino Amarelo, campeão da Eurocopa com a Espanha em 2008.

FUTURO DE VINÍCIUS
Após o ocorrido no Mestalla, muito se falou sobre uma possível saída do jogador para outros clubes da Europa. Times da Premier League, por exemplo, têm uma relação de interesse no atacante desde a adolescência, quando foi revelado pelo Flamengo. O PSG também enxerga com bons olhos a contratação caso Messi e Neymar não continuem na França.

Entretanto, de acordo com o técnico Carlo Ancelotti, Vini não quer sair da Espanha. Sua intenção é continuar fazendo história no clube que ama na Espanha. Acima do lado futebolístico, o brasileiro tem sido um rosto importante na luta contra o racismo no futebol e seguirá fazendo o que for preciso para findar essa situação, pelo menos dentro das quatro linhas. Um jogador que é marcado pela alegria e irreverência dentro de campo, e que não quer se dar por vencido, que não quer ter seu sorriso arrancado por criminosos.

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