‘Hora do cafezinho era momento fofoca’: Mariana Becker lembra histórias com Niki Lauda

Há exato um ano, ex-piloto austríaco deixava saudade nos fãs e esportistas. Jornalista e produtor Jayme Brito, ambos da 'Globo', revelaram lado doce do 'amigo' Lauda

Niki Lauda
"Niki Lauda (na foto) era bem generoso com tudo que sabia. Comigo, não escondia as coisas", disse Mariana Becker, sobre o ex-piloto (Foto: AFP)

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O mundo do automobilismo perdeu uma referência em 2019. Há exato um ano, o tetracampeão mundial de Fórmula 1 Niki Lauda deixa seus companheiros de corrida e amigos com uma eterna saudade. O ex-piloto marcou pelo sucesso nas pistas, sofreu com um acidente grave em 1976 e deixou na história seu lendário boné vermelho, que fazia propaganda de sua companhia de aviões. 

Próximos de Lauda, a jornalista Mariana Becker e o produtor Jayme Brito, ambos da "Globo", revelaram ao LANCE! as principais histórias deles com o ex-piloto, que foram criando uma forte amizade com o tempo. Carinhosamente chamada por ele de "alemão", Mariana não escondeu o jeito durão e direto de Lauda, mas mostrou um lado afetivo e brincalhão que poucos torcedores tiveram acesso.

- A hora do cafezinho era o nosso momento da fofoca, do bate-papo no paddock. Ao mesmo tempo que ele era bem direto, o que me deixava muito a vontade, ele sempre foi muito engraçado. Me perguntava as fofocas do paddock. Quem saia com quem, o que estava acontecendo. Fora isso, ele não bebia, então a gente tomava um cafezinho pra conversar.

Niki Lauda
Lauda faleceu aos 70 anos de idade (AFP)

O ex-piloto austríaco já havia passado por um transplante de pulmão, em 2018. Campeão em 1975, 1976 e 1984, ele era uma das grandes referências dentro da Fórmula 1. Figurinha carimbada entre os bastidores da categoria, Niki não revelava facilmente um lado doce em meio à tantas dificuldades que passou.

Após sofrer um grave acidente em 1976, onde seu carro pegou fogo e lesionou boa parte de seu corpo, foi um médico brasileiro que o ajudou. Jayme Brito conta uma história curiosa sobre a cirurgia que ele Lauda fez na época.

- Ele tinha que correr em cinco semanas e um problema no olho iria atrapalhar ele nas pistas. Então Niki procurou o Ivo Pitanguy (famoso cirurgião plástico brasileiro), e pediu para consertar aquele ressecamento na vista. Só que ele explicou que era só no olho a operação. Mas, quando o Lauda acordou, o Pitanguy tinha dado uma geral nele, ajustado a queimadura (risos). E ele entrou em pânico, discutiu e tudo. E o Pitanguy pedindo calma, querendo evitar confusão (risos).

Funeral Niki Lauda - Viena
Funeral de Niki Lauda aconteceu em Viena, na Itália (AFP)

Acompanhe agora uma série de história com um Niki Lauda que você nunca viu:

Conselheiro de Hamilton
- Ele sabia ser duro, eu vi, até ríspido, mas sempre se justificando pela honestidade. Era justa, sem querer sacanear. Você via as mesmas palavras diretas tanto para alguém de outro time como para o time dele. Um dia o Lewis Hamilton saiu de uma corrida e não quis dar entrevista ou fez alguma bobagem na pista. E ele me disse: "Ele fez uma idiotice". Falou mal do próprio piloto e orientava muito o Hamilton - contou Mariana Becker.

Mariana Becker: uma amiga alemã

- Ele era bem generoso com tudo o que ele sabia. Comigo, ele não escondia as coisas que eu perguntava, nos demos bem logo de princípio. Brincava com meu jeito meio alemão. Como ele é austríaco, brincava muito. Uma vez entramos em um restaurante ele brincou: "Vocês alemães sempre invadindo os lugares". Fiquei me perguntando como eu seria a alemã, só tinha eu no lugar - comentou ela.

'This is bullshit'

- Ele era o cara que confirmava ou negava algum rumor. E quando ele queria dizer que algo não faz sentido, ele já dizia: "this is bullshit" ("isso é besteira", traduzindo em português). Da forma mais direta possível. Uma vez eu pedi para o produtor da Globo Jayme Britto para avisar que ele estava com o botão da calça aberto. E depois eu fiquei sabendo que ele já deixava aquele aberto para ir ao banheiro. Muito engraçado - lembrou ela.

Emoção com a morte de um amigo

- Me lembro uma vez que ele nos encontramos onde ficamos no hotel da Fórmula 1 e ele contou que quando o Ronnie Peterson morreu, o Lauda teve que ir fazer a mala do amigo. Ele foi para o hotel, abriu a porta do quarto, fez a mala e mandou tudo para a família do Petterson. Eram muito amigos, imagina a dor. Ele viveu momentos dourados da F1 e sempre estava ali para me contar tudo - disse Mariana.

Mariana Becker
Mariana Becker cobre a F1 pela "Globo" e mora na Suíça com seu marido Jayme Brito

Aventuras na vida e pai na velhice
- Profissionalmente, ele era impressionante. Tricampeão mundial, mas em condições extremas. Em todas as decisões era impressionante. Ele se casou de novo com uma moça bem mais nova e ele bem mais velho. Ela queria filhos e ele com os filhos grandes já. Brincamos com ele: "Vai ter filho dessa idade?", e ele respondeu: "Essa mulher me doou um rim. O mínimo que eu posso fazer é embarcar com ela nessa jornada".

Ele dizia que não iria brincar, não iria fazer isso ou aquilo, mas ficou totalmente apaixonado pelo casal de gêmeos. Era um pai babão. Sabe quando a mãe vem e dá bronca? Ele virava com os filhos e fazia careta pra ela - revelou Mariana.

Passeio no Rio de Janeiro
​- O Niki pilotava de tudo, era comandante de Airbus. Ele pousou no Rio num domingo e ficaria até segunda após um GP do Brasil. Ele tinha me pedido para dar um tour no Rio com a esposa dele (Birgit Wetzinger) e fomos ao Corcovado, Ipanema, Barra. Quando deu 17h, chegamos no Copacabana Palace e ele estava no restaurante da piscina. Ele pediu um café e eu pedi uma caipirinha. Niki então olhou pra Birgit e falou algo em alemão.

Eu entendi um horário, nisso ela virou e perguntou se eu já tinha mostrado tudo. Avisei que ainda tinha praia, compras e tudo mais, e ele disse: "Já deu, né?". Pediu para prepararem o avião dele até de noite. Ele jurava que sairia no horário marcado do Rio, mas foi aquela demora. Ele não parava quieto - recordou Jayme Brito.

Primeira corrida sem Niki Lauda
- Eu andava pelo paddock e era como se tivesse um vazio o tempo inteiro. Com quem eu vou fala? Quem vou perguntar? Quem fará esse papel que nem ele para a F1? Não tem ninguém como o mesmo perfil, mesma história, mesma opinião. Me curou por ser um falta de todos - disse ela, sentida. 

*sob supervisão de Tadeu Rocha

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