De reforço para Libertadores à idolatria: a trajetória de Conca no Flu

LANCE! relembra passagem do meia argentino ao Tricolor. Jogador chegou em 2008, após passagem pelo arquirrival Vasco 

TR - Fluminense x Nacional - Conca (Foto: Photocamera)
 (Foto: Photocamera)

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10 de novembro de 2005. Estádio San Carlos de Apoquindo, Chile. Quartas de final da Copa Sul-Americana. De um lado, o Fluminense, treinado por Abel Braga, e com o meia Dejan Petkovic e o atacante Tuta como principais estrelas. Do outro, a Universidad Católica, liderado por um franzino, mas igualmente talentoso meio-campista argentino: Dario Conca. Engana-se quem pensa que a história entre Conca e Fluminense começou somente em 2008. Foi três anos antes, no decisivo confronto pela competição continental, que o destino uniu ambos pela primeira vez.

Conca tinha 22 anos e era o principal jogador do time. Camisa 10, conduziu a Católica às semifinais do torneio, quando caiu para o Boca Juniors, que viria a ser campeão. Antes, o embate contra o Fluminense. Na ida, em São Januário, vitória do Tricolor por 2 a 1. Na volta, em Santiago, a vitória do time chileno por 2 a 0 valeu o passaporte para a fase seguinte;

A atuação de Conca chamou a atenção de todos. Atuando como um autêntico meia-armador argentino, o famoso enganche, o canhoto infernizou a zaga e o meio do Fluminense. Caía por todos os lados do campo, com preferência da esquerda para o centro. A forma como conduzia, protegia e passava a bola era peculiar. Durante os 90 minutos, um passeio da Universidad.

Às vésperas do jogo, Abel Braga tinha prometido um Flu ofensivo no Chile. Não foi possível. Conca participou dos dois gols. No primeiro, desarmou Juan e acionou Quinteros, que concluiu à meta de Kleber. No segundo e derradeiro, iniciou a jogada que culminou no tento de Arrue. Suficiente para Roberto Horcades, presidente do clube à época, ficar obcecado para ter Conca no elenco. Após o título do Campeonato Brasileiro de 2010, o dirigente chegou a declarar que "queria aquele baixinho desde 2005. Ele me cativou com o bom futebol que demonstrou contra o Fluminense".

NA ÓRBITA DO FLU PELA PRIMEIRA VEZ
A primeira tentativa foi no final de 2006. Conca já tinha voltado para o River Plate, mas estava encostado. Tinha sido emprestado ao Rosário Central, mas lá não fora aproveitado. E aí entrou o Vasco da Gama em ação, que conseguiu convencer o River e o empresário do jogador, Hugo Benedetti, que São Januário seria o melhor destino para "recuperar" o meia. No dia 28 de dezembro de 2006, Conca assinou um contrato de empréstimo por um ano com o Cruz-Maltino. A contratação foi considerada pela diretoria o presente de Natal à torcida, que estava aflita com a reformulação do elenco vascaíno. O Flu acabou fechando com Pedrinho.

No Vasco, Conca teve bons momentos, mas a impressão foi de ter vivido mais de lampejos do que de momentos regulares. Chegou a jogar no ataque ao lado de Leandro Amaral e não teve uma sequência esperada com o técnico Renato Gaúcho. Em 50 jogos, foram oito gols. Ao término do contrato, mais uma vez o Fluminense apareceu disposto a levá-lo às Laranjeiras.

O River exigia R$ 5 milhões para liberá-lo em definitivo, desejo diferente do clube de São Januário, que queria apenas a prorrogação do empréstimo. Dessa forma, o coordenador de futebol do Fluminense, Branco, e o assessor jurídico, Marcelo Penha, viajaram para Buenos Aires para formalizar a proposta por Conca. Celso Barros, presidente da Unimed, patrocinadora do Flu, participou ativamente das negociações. No dia 21 de dezembro, Roberto Horcades mostrava o contrato assinado: Conca era jogador do Fluminense.

CONCA ASSINA CONTRATO E GANHA DESTAQUE NA LIBERTADORES DE 2008
No Flu, lidou mais uma vez com Renato Gaúcho, que tinha colocado-o muitas vezes no banco no Vasco. Renato argumentava que Conca precisava de tempo para "adaptação". No Tricolor seria diferente. No entanto, inicialmente, a formação inicial do comandante previa um trio de ataque formado por Dodô, Leandro Amaral e Washington. Thiago Neves seria o armador, protegido por Ygor e Arouca.

Conca - Fluminense
Conca marcou seu nome no Fluminense (Foto: Divulgação)


Porém, com os problemas jurídicos envolvendo a situação de Leandro Amaral, Conca logo tornou-se titular e peça importante, em especial na campanha na Libertadores da América, que terminou com o vice-campeonato. A mais destacada atuação foi contra o Boca, nas semifinais, no Maracanã, quando marcou um dos gols da vitória por 3 a 1. No mata-mata, também marcou contra o Atlético Nacional, da Colômbia, nas oitavas de final, e no primeiro jogo da final contra a LDU, do Equador, em Quito.

Em 2009, em meio ao processo de renovação de seu contrato, houve um atraso na assinatura que gerou até comoção por parte da torcida. Um grupo de torcedores criou uma campanha na internet a fim de gerar uma "vaquinha" para ajudar na compra do passe do meia. Nos primeiros dias de fevereiro, a sonhada renovação enfim saiu do papel, por mais três anos. Assim, o argentino assumiu definitivamente o papel de craque do time. Dessa vez, teria a companhia do atacante Fred, que chegou no início do Campeonato Carioca. Na conturbada temporada do Fluminense, foram os dois que lideraram a arrancada que evitou o rebaixamento à segunda divisão.

CAMPEÃO E CRAQUE DO BRASILEIRO DE 2010; CONCA JOGOU 38 PARTIDAS
Lembrado por 2010, Conca foi o craque do time campeão brasileiro na temporada. Líder isolado de assistências, com 19 passes para gols, balançou as redes nove vezes. As duas mais relembradas foram contra o Grêmio, pela 32ª rodada, no Nilton Santos. A vitória por 2 a 0 colocou o Flu na liderança do Brasileirão a poucas rodadas do fim. A incrível marca de ter jogado todas as 38 partidas ganhou elogios de toda a crônica esportiva.

O mais surpreendente foi ter conseguido atuar com os problemas no joelho que sofreu, sobretudo na reta final. A necessidade de intervenção cirúrgica se fez valer com o fim do calendário. Conca foi eleito o Bola de Ouro da revista Placar; na premiação da CBF, venceu o "Craque da Galera" pelo voto popular e foi eleito o melhor jogador do campeonato. Na Argentina, a imprensa cobrava do técnico da Seleção uma convocação à Albiceleste.

VENDA PARA O FUTEBOL CHINÊS E RETORNO RÁPIDO AO FLUMINENSE
Uma proposta da China em 2011 marcou a primeira despedida de Conca do Fluminense. Por R$ 15,5 milhões, o argentino rumou ao Guangzhou Evergrande. O salário, de cerca de R$ 2 milhões por mês, foi um dos mais altos do mundo, ficando atrás somente dos astros Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. No Fluminense, a promessa era de que o dinheiro seria usado para a construção do novo CT do clube, o que nunca aconteceu. A última partida foi contra o Athletico-PR, no dia 30 de junho, no Maracanã, na vitória tricolor por 3 a 1.

Conca voltou ao Fluminense para uma curta passagem em 2014, mas o período foi marcado por brigas com o presidente Peter Siemsem, atrasos salariais por parte do clube após o fim da parceria com a Unimed e uma nova venda ao futebol chinês, dessa vez ao Shangai SIPG. Na época, o Flamengo já mostrava interesse no argentino, mas só foi conseguir o acerto em 2017.

No total, Conca entrou em campo 207 vezes vestindo a camisa tricolor. 39 gols e 55 assistências. Apareceu como carrasco, chegou como esperança para o futuro e tornou-se inesquecível, em especial pelos momentos positivos que viveu.

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