Informe Publicitário – Fluminense

Crônica de um desastre anunciado: a incompetência disfarçada de austeridade

Escudo Fluminense
Reprodução Internet

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O Fluminense será um dos rebaixados no Brasileiro deste ano.
Se nada mudar, o desastre pode ser anunciado com meses de antecedência.
A voz corrente é de que o “buraco” deixado pela administração anterior era bem maior do que se imaginava. Isso nunca é dito de público, apenas entre quatro paredes. A justificativa já está dada então: a queda será atribuída à impossibilidade de investir diante da necessidade de promover o “reequilíbrio econômico”, a “austeridade financeira”, o “ajuste das contas”.

Um clube de futebol e uma empresa devem se preocupar em cortar custos. Mas devem se preocupar também, com idêntica prioridade, em aumentar a receita, oferecer novos produtos, atrair novos investidores (patrocinadores). Aparentemente não há ninguém no clube capaz de desenvolver estratégias neste sentido. Sobra apenas o desesperado corte de despesas. Avolumam-se as

lamúrias e discursos de vitimização. Vê-se pouco ou nenhum movimento para explorar com inteligência a marca de um clube que se confunde com o nascimento do futebol no Brasil.

Alguns pontos devem ser levantados para que se tenha claro que o discurso disfarça uma incompetência que só encontra paralelo nos tristes anos que fecharam a década de 90.
São eles:
1. As contas do presidente Peter Siemsen foram todas aprovadas. Se o endividamento do clube era maior do que se imaginava, seria o caso de relatar ao Conselho Deliberativo e eventualmente reexaminá-las. Caso tudo não passe de justificativa para o fracasso do presente, é hora de parar de repetir a ladainha off the records sobre as desditas do passado.

2. Reequilíbrio econômico nada tem a ver com futebol pouco competitivo ou montagem de elenco desastrada. A História do Fluminense está repleta de heróis improváveis. Forjou ídolos em quem poucos acreditavam quando chegaram ao clube. Desde o “timinho” de Zezé Moreira, o Fluminense foi campeão contra todos os prognósticos em campanhas inesquecíveis. Nos anos 80, um único dirigente, Newton Graúna, já falecido, montou elencos campeões em 1980 e no triênio 1983/84/85. Eles se basearam no farto aproveitamento de jogadores jovens, tanto da base quanto recrutados no Sul do País, em 1983. A eles se somaram Cláudio Adão, centroavante já consagrado, em 1980, e Assis e Washington, destaques do Brasileiro de 1983, aos quais se juntou Romerito, jogador da Seleção do Paraguai, em 1984.

3. O Fluminense não consegue repetir fórmula tão simples porque não dispõe de dirigente ou profissional com competência, dedicação ou um mínimo “olho para futebol”, capaz de arregaçar mangas e remontar um elenco tão desequilibrado.

4. Ao contrário do que os erros incontáveis das últimas gestões do futebol fazem parecer, não é complicado montar elenco vencedor. Hoje é possível trazer um jogador sem gastar centavo. Basta usar como “moeda de troca” atletas que despertem interesse de outros clubes. Bons acordos com clubes como Palmeiras, Corinthians e Internacional, entre outros, poderiam ter feito chegar ao Fluminense reforços a custo zero, com salários pagos por aqueles clubes, detentores de seus direitos econômicos.

O que faz o Fluminense diante da única possibilidade de se reforçar diante do propalado fluxo de caixa combalido? Dispensa atletas capazes de cumprir aquela função de “moeda de troca”, casos de Henrique e Cavalieri. Ou, pior do que isso, não adota medidas capazes de evitar que um atleta valorizado, como Gustavo Scarpa, reúna elementos para ingressar com medida cautelar contra o clube. O primarismo e a ausência de mecanismos mais rígidos de controle foram de tal ordem que se chegou a esse ponto sem um sinal de alerta. (O Departamento Jurídico já havia falhado, meses atrás, ao não comparecer a uma audiência em ação trabalhista movida pelo ex-treinador Levir Culpi.) Não fosse tudo isso suficiente, o Fluminense ainda considera a possibilidade de negociar Henrique Dourado, artilheiro do país em 2017.

A cúpula do clube talvez festeje a redução na folha de pagamento, sem se importar com o fato de que o elenco atual seria incapaz de disputar com êxito até mesmo a Série B.

Algumas explicações devem ser cobradas:

Que esforços o clube realiza para viabilizar a chegada de um patrocinador de peso, capaz de reduzir a enorme distância de receita para um rival como o Flamengo? Os que hoje comandam o Fluminense acreditam que o enfraquecimento alarmante do elenco facilitará a chegada de um patrocinador de porte?

Quem assumirá a responsabilidade por permitir que Gustavo Scarpa reúna elementos para ingressar na Justiça contra o clube? Qual o tamanho do prejuízo?

Qual o intuito da contratação de uma consultoria externa de renome e o que foi apresentado de concreto até o momento? Quais as recomendações sugeridas e qual o custo envolvido?

Quem foi o responsável pela contratação de Robinho pelo equivalente a mais de R$ 7 milhões? Como justificá-la diante do caos financeiro?

Quanto custa a estapafúrdia e excêntrica aventura do Samorin aos cofres do clube? Qual o montante anual de despesas com viagens internacionais para Eslováquia ou países da Europa, seja de atletas ou dirigentes? Um dia o fato de disputar o campeonato da Eslováquia será lembrado como uma das maiores bizarrices da História do clube. Por que não dar logo basta a uma ideia tão patética?

Quem entendeu que Richarlison já havia atingido o pico de sua curva de valorização quando da venda para o Watford? Não se deve esquecer que isso se deu às vésperas da eliminação na Copa Sul-Americana.

Por que Paulo Autuori foi contratado? Ele de fato receberá R$ 140 mil mensais para NÃO estar “presente em qualquer tipo de negociação” e apenas com a atribuição “de ter ideias”, ver como se dará “a operacionalização dessas ideias” e “ajudar estrategicamente a conduzir o futebol do Fluminense”, como declarou na coletiva de apresentação?

Depois de um 2017 sofrível, com recorrentes más leituras de jogo e péssimas substituições em jogos importantes, era evidente que o primeiro ato para 2018 seria um acordo amigável que liberasse Abel e trouxesse um treinador jovem. O atual treinador está na História do clube e viveu um drama pessoal com o qual todos se solidarizam. Mas seu trabalho deixou fortemente a desejar. Agora é tarde e tudo precisa ser feito a despeito do péssimo olho de Abel para montagens de elencos.

Sob qual justificativa Romarinho permanecerá no Fluminense em 2018? É flagrante que o atleta, que merece todo respeito como ser humano, não dispõe de requisitos técnicos minimamente aceitáveis para figurar num elenco da Primeira ou mesmo da Segunda Divisão do futebol brasileiro.

O Fluminense quase caiu em 2017. Somou o mesmo número de vitórias do rebaixado Coritiba. A despeito de tal constatação, já perdeu Cavalieri, Henrique, Scarpa, Wendel, Wellington Silva, Orejuela e possivelmente perderá Dourado. Serão 7 titulares num total de quase 25 atletas que não integrarão mais o elenco. A reposição de peças ainda não se verificou. Acredita-se realmente que é possível manter a competitividade apenas com dispensas? Qual a lógica da estratégia? Quem assume a responsabilidade por sua implementação?

Qual a justificativa para “reforçar” o elenco com jogadores reservas em seus clubes ao final do Brasileiro, casos de Gilberto e Jádson, ambos agenciados por uma mesma empresa (MFD Sports)? Quem recomendou suas contratações? É fácil constatar que não são jogadores com nível para assumir a titularidade no Fluminense. Ou ao menos não deveriam assumi-la.

Como explicar a derrocada inquestionável das divisões de base do clube, notadamente a partir do Sub-17 e até o Sub-20? O Fluminense coleciona eliminações nas últimas duas temporadas em todas as competições nacionais, muitas delas com goleadas vexaminosas: Flamengo 4x0 Fluminense (Sub 20, Copa OPG de 2016), Flamengo 4x0 Fluminense (Sub 20, Taça Rio 2017), Corinthians 4x0 Fluminense (Sub 20, Brasileiro 2016), Sport 4x0 Fluminense (Sub 17, Copa do Brasil 2016) e Sport 4x1 Fluminense (Sub 17, Copa do Brasil 2016). Tudo isso sem contar as eliminações nas primeiras fases da Copa RS Sub 20, disputada em dezembro, e da Copa SP Sub 20, recém-verificada. Foi assustador constatar a desqualificação técnica dos jogadores que vestiram a camisa do Fluminense nas duas competições. Xerém é hoje um retrato na parede. O clube se tornou a quarta força no Rio de Janeiro, e vive de exaltar os feitos do futsal ou dos Sub-11 ou Sub-12.

Quais os critérios adotados para escolha do CEO? Em meio a um esforço de reestruturação financeira, seria desejável que o profissional contratado tivesse experimentado contexto similar fora das quadras de voleibol ou do COB. E qual seu histórico no futebol para que passe a opinar e a conceder entrevistas a respeito?

A atual administração do clube já fez as contas do prejuízo com o rebaixamento e a disputa da Série B em 2019? É maior do que um investimento mínimo em reforçar elenco tão desequilibrado?

O despreparo para a gestão de um clube do tamanho do Fluminense é assustador. Não se imaginava incompetência de tal vulto. O que se esboça neste momento permite antever um 2018 apocalíptico. As forças políticas do clube têm de abandonar a inércia sob pena de serem cobradas por se omitir num dos momentos mais críticos da História do Fluminense Football Club.

É importante que sejam implementadas de imediato as seguintes medidas:

Nomeação de um VP de Futebol apolítico, com autonomia plena para fazer o que tem de ser feito.
Remontagem radical do elenco, incluindo investimento em atletas capazes de fazer a diferença em campo tanto pela qualidade quanto pela liderança. E com o devido cuidado para não trazer jogadores em fim de carreira sob o pretexto de agregar “experiência”. É uma fórmula infalível para o rebaixamento.
Demissão sumária de toda a cúpula do futebol profissional, inclusive do novo coordenador, cuja contratação é despropositada sob qualquer ângulo de análise.
Imediata descontinuidade do Projeto Samorin.
Contratação de um profissional que entenda de futebol, tenha olho para futebol, conheça o mercado, assista os jogos, leia sobre tática e esquemas de jogo e que seja atualizado, comprometido e engajado.

Um detalhe importante: este texto é assinado por apoiadores do presidente Pedro Abad nas eleições de 2016. Nenhum dos abaixo-assinados tem qualquer pretensão em disputar cargos no próximo pleito, ou ocupar vaga em Conselho, ou mesmo prestar quaisquer serviços ao clube. Ou seja, de nada adianta atribuir a forças ocultas, ou a agentes da oposição, ou a quaisquer outros interesses, o conteúdo acima.
Os abaixo-assinados são apenas tricolores entristecidos e perplexos com o que se desenha para o ano que começou. Quando o final do ano chegar, não se poderá alegar que o alerta não foi dado.
Ou se age agora, ou será tarde.
Alvaro Piquet Pessoa
Claudio Lampert
Claudio Piquet Pessoa
Hélio Sussekind
Leonardo Caruso
Luiz Camillo Osorio
Marcelo Piquet Pessoa
Mauro Tsé
Murilo Salles
Raul Lagoeiro Sussekind

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