Luiz Gomes: ‘O dia do Fico. Ou do Fui… O futuro de Rueda e do Flamengo’

'Qualquer que seja a resposta de Rueda nesta segunda, a relação entre o treinador e o clube sai arranhada'

Rueda em treino do Flamengo
Reinaldo Rueda chegou ao Flamengo em agosto do ano passado (Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)

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Esta segunda-feira, na reapresentação do Flamengo para a temporada 2018, os jogadores não serão o centro das atenções. Nem poderia, já que nenhum reforço de peso chegou ao Ninho do Urubu neste início de ano. Os holofotes estarão voltados, sim, para Reinaldo Rueda. Todo o planejamento do Rubro-Negro estará em jogo. Será, espera-se, o dia em que o treinador quebrará o incômodo silêncio e, enfim, anunciará seu futuro, se fica ou dá adeus ao clube para assumir a seleção do Chile.

Desde o ano passado, quando começaram as especulações, especialmente na imprensa chilena, sobre as negociações de Rueda com a federação local, foi espantosa a passividade da diretoria do Flamengo em relação ao comportamento do seu treinador. Mesmo com os rumores crescentes de sua saída - os jornais andinos chegaram a anunciar o quanto ele receberia, o tempo de duração do contrato e as metas que ele teria à frente dos bicampeões sul-americanos - o discurso na Gávea continuou a ser, durante todo o tempo, o da espera. Mas esperar o que?

Rueda tem todo direito de decidir o que acha melhor para a sua vida. É um profissional respeitado, com títulos conquistados e trabalhos bem sucedidos na maioria dos lugares por onde passou. Mas, desde meados da temporada passada, é funcionário do Flamengo. E, nesta condição, prioritariamente deve explicações ao clube. Seu silêncio em todo esse período foi injustificável. E acima de tudo antiético. Ele tinha de ter se pronunciado, de alguma forma, procurado os dirigentes rubro-negros para ao menos, confirmar ou não se as conversações com os chilenos eram ou não verdadeiras.

A diretoria do Flamengo, cobrada dentro do clube e pela torcida, falou após o réveillon que o colombiano, de férias em seu país, ao lado da mãe doente, estava incomunicável. Mas seu telefone, ao que parece, só ficou mudo para ligações vindas do Brasil. Pois, durante todo o tempo que durou o imbróglio, se faltaram informações na Gávea, sobraram na mídia chilena. Esta semana, o jornal "La Tercera" garantiu que o acerto estava por detalhes. Segundo a publicação, a federação se aproximou dos 3,5 milhões de dólares anuais (R$ 11,5 milhões) pedidos pelo técnico e concordou em pagar a multa rescisória de 325 mil dólares que o Rubro-Negro carioca teria direito a receber.

Este, aliás, é outro ponto nebuloso desta história. A multa rescisória pela quebra de contrato de Rueda com o Flamengo – uma informação que jamais foi desmentida pela diretoria -, caiu, com a virada do ano, de 1 milhão de dólares para os tais 325 mil dólares, uma diferença em torno de R$ 2 milhões. Ou seja, além da ameaça de perder Rueda o Rubro-Negro corre o risco de perder dinheiro. É inexplicável que o clube tenha firmado um contrato como esse, com uma cláusula que facilita a saída e a vida de quem pretende contratar o treinador, exatamente no momento em que começaria a mostrar a que veio, participando do planejamento de toda a temporada – já que pegou o bonde andando em 2017 – e imprimindo de fato seus métodos de comando e suas preferências táticas. É claramente uma atitude de lesa clube. Deveria ser exatamente o oposto, aumentando-se a proteção ao treinador, para dar mais tranquilidade ao trabalho.

Qualquer que seja a resposta de Rueda nesta segunda, a relação entre o treinador e o clube sai arranhada, vai precisar passar por reparos. Se o treinador anunciar sua saída, o Flamengo, com a passividade de sua diretoria, terá feito papel de bobo. Terá desperdiçado um tempo que, em uma temporada apertada como essa, e com uma Libertadores outra vez pela frente, pode custar caro demais lá na frente. Mas, ainda que o fim do mistério seja a sua permanência na Gávea, Rueda terá, com seu silencio, perdido pontos, conquistado a antipatia e, mais do que isso, a desconfiança de parte dos rubro-negros. O que, na prática, significa menor tolerância com erros e maus resultados. A responsabilidade aumentou e o peso nas costas do colombiano será maior a partir desta segunda-feira na Gávea.

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