Copa Tática: Sampaoli, Messi e a corrida contra o tempo da Argentina

O péssimo desempenho nas eliminatórias gerou, além do drama para se classificar, diferentes mudanças de rumo. Transições radicais de ideias marcaram as decisões do ciclo

Equador x Argentina
AFP

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Entre as seleções mais badaladas, nenhuma tem um caminho mais longo a percorrer na preparação do que a Argentina. O péssimo desempenho nas eliminatórias gerou, além do drama para se classificar, diferentes mudanças de rumo. Tata Martino, Edgardo Bauza e Jorge Sampaoli. Transições radicais de ideias marcaram as decisões do ciclo. O LANCE! publica neste sábado mais um capítulo da série Copa Tática, com análises diárias das 32 seleções até 13 de junho - clique no fim do texto e veja também como jogam os outros três times do Grupo D: Croácia, Islândia e Nigéria.

Como a prioridade era evitar o vexame de ficar fora da Copa do Mundo, é difícil julgar o nível coletivo apresentado nas rodadas finais sob o olhar mais exigente. O que importava naquele momento era apenas a vaga, por pior que tenha sido o futebol. Mas era indiscutível que, com Sampaoli, haveria grande margem para evolução, desde que com calma para desenvolver seus métodos e fazer inúmeros ajustes. O problema é que o futebol de seleções só permite maior tempo nas semanas anteriores ao mundial. E a goleada para a Espanha, em março, não ajudou no processo. Ou seja: tudo ficou para o fim de maio.

Olhando para outros trabalhos mais consolidados, é assustador o estágio em que a Argentina se apresentou. Sampaoli causou choque no país ao dizer que jogará em um 2-3-3-2, mas naturalmente trata-se apenas de uma variação para o momento com bola. E já significa um ponto de partida para quem tem tão pouco de concreto.

A lista de convocados aponta uma incógnita para o vital setor do centro do campo. Com Mascherano sem jogar em alto nível como volante há muito tempo e Biglia voltando de lesão, Sampaoli não tem uma garantia na frente da defesa. Assim, o primeiro passe já pode ficar comprometido para encontrar uma faixa de campo que terá dois meio-campistas. Um deles provavelmente será Lo Celso, mas também poderia ser Ever Banega, que iniciou os treinos como reserva. Lo Celso evoluiu muito ao longo da temporada e, apesar de ter ficado marcado negativamente pela partida contra o Real Madrid na Champions (quando foi o mais recuado dos meio-campistas e teve dificuldades contra Isco), teve diversas boas atuações como articulador, em uma faixa de campo mais recuada do que sua posição de origem. 

Com mais experiência na função e na seleção, Banega é outro organizador com capacidade para direcionar os passes e fazer a bola chegar ao setor ofensivo. E o outro meio-campista será o meia que parte da direita para buscar o centro. Lanzini foi testado nos amistosos e seria o titular, mas a notícia do corte surgiu como um grande golpe, e Meza poderia ser outra alternativa para a função, caso a ideia de jogo seja mantida.

Com um meia buscando o centro, passa a ser importante o papel ofensivo do lateral para abrir o campo pela direita. Isso pede um perfil mais ofensivo, que pode ser Salvio, um ponta que se comporta como ala quando escalado na lateral. Velocidade, drible e agressividade buscando o fundo. O desafio é manter o equilíbrio sem a bola, algo que Gabriel Mercado poderia oferecer. O jogador chegou a ser um termômetro importante das variações do Sevilla de Sampaoli entre linha de três ou quatro na defesa, sendo zagueiro ou lateral.

O prejuízo, em tal mecanismo, seria o menor apoio ofensivo em um corredor teoricamente aberto. A não ser que o treinador mude os planos com a lesão de Lanzini e escale um outro ponta na direita, perdendo uma peça no meio e optando por Mercado mais preso.

Na esquerda, Di María é o titular absoluto mais discutido do momento, pois conta com a sombra de Pavón, o jogador em melhor fase entre os convocados. O atacante do Boca pode atuar nas duas pontas e tem a diagonal em direção ao gol, algo que os outros meias e pontas não possuem. Diante das funções específicas no modelo de jogo de Sampaoli, Di María pode, inclusive, ficar mais colado à linha lateral, abrindo o campo.

Em meio a tantos problemas, talvez a melhor notícia da temporada tenha sido o crescimento de Tagliafico. Primeiro no Independiente de Ariel Holán e depois no Ajax, o lateral mostrou facilidade e entendimento para fazer diferentes movimentos. Assim, partindo da lateral, pode ser mais uma opção de passe por dentro, arrancando e invertendo posições com o ponta.

No ataque, Aguero é mais um que desperta preocupação pela lesão que o afastou da reta final da temporada pelo Manchester City. Em forma, seria um complemento bastante interessante para Messi na referência, assim como Pavón partindo da ponta. Quanto a Messi, o craque terá liberdade comparável ao cenário que viveu no Barcelona 2017/18, já que a faixa de campo é semelhante. Com Ernesto Valverde, o Barça adotou uma segunda linha de quatro e liberou Messi atrás de Suárez. Na seleção, ainda que com características individuais e mecanismos diferentes, o objetivo é que Messi tenha a mesma liberdade para circular pela faixa central, recuando para a base da jogada, caindo pela ponta direita ou atacando como um segundo homem de frente.

Quem gera muita discussão mas aparentemente perdeu espaço foi Dybala. Ao falar publicamente sobre as dificuldades de encaixe ao lado de Messi, talvez tenha perdido pontos. Em um 3-4-2-1, a dupla poderia ser acomodada atrás da referência. No 4-4-1-1 desenhado nos amistosos, seu encaixe já é bem mais delicado. Não é um armador acostumado a partir do lado e não é um ponta, restando apenas a posição de Messi, atrás do 9. Vira uma opção interessante durante os jogos, pela capacidade para desequilibrar, mas parece largar atrás de Pavón como opção de banco que pede passagem.

Na defesa, a temporada de Nicolás Otamendi gerou sensações diferentes. Na primeira metade, foi muito bem na Premier League, mas caiu na reta final. Fazio também apresentou bom nível pela Roma em 2017/18, mas o sistema defensivo ainda é um problema, especialmente após os seis gols sofridos para a Espanha em março, quando a equipe desandou psicologicamente e passou a ceder um gol a cada perda de bola. O corte de Sergio Romero foi um baque. Ainda que não seja um dos principais goleiros do mundo e que não tenha ritmo de jogo por ser reserva no Manchester United, foi bem quando exigido pela seleção. Além disso, não há qualquer garantia sobre seus substitutos. O veterano Willy Caballero larga na frente, mesmo que Franco Armani pareça, tecnicamente, a melhor opção.

O tempo é um obstáculo enorme para o trabalho de Jorge Sampaoli. Para um treinador que gera curiosidade exatamente pela proposta de jogo e pelo nível coletivo atingido em outros trabalhos (La U e Chile), avançar tantas casas em poucas semanas é um desafio incomparável. Sem contar que a pressão estará em um nível inigualável para o técnico. Afinal, pode ser a última Copa do Mundo com Messi em seu mais alto nível. De formas totalmente diferentes, o tempo é o maior inimigo para os dois principais personagens da Argentina em 2018.

Jogos no Grupo D
​16/6 - 10h - Argentina x Islândia
​21/6 - 15h - Argentina x Croácia
26/6 - 15h - Nigéria x Argentina

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