Copa Tática: Panamá e o dilema sobre como sobreviver no Mundial

Após um classificação emocionante e histórica, euforia passou e seleção chega para jogar sua primeira Copa do Mundo com problemas. É um time de imposição física

Seleção do Panamá
Divulgação

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A inédita classificação do Panamá para a Copa do Mundo foi da forma mais dramática possível. Um momento inesquecível para coroar o crescimento panamenho dos últimos anos. Entre 2011 e 2015, o país já havia sido três vezes semifinalista da Copa Ouro. A vitória sobre a Costa Rica nos minutos finais, superando os Estados Unidos na classificação, foi o momento mais alto da história do futebol do país.

Passado o período de comemoração, chegou o momento de pensar no mundial. Mas o clima é bem menos festivo do que muitos imaginariam. Em março, Román Torres, autor do gol da classificação, deu uma entrevista em que pediu para o povo desfrutar mais do momento em vez de alimentar o que definiu como "inimizade entre imprensa, jogadores e todo o resto". E a análise mais fria mostra uma equipe muito competitiva, especialmente quando empurrada pela sua torcida, mas também com sérias limitações. Até por isso, o colombiano Hernán Darío Gómez iniciou testes de um novo sistema em 2018.

O grande problema foi o contraste nos resultados e sensações. No primeiro amistoso no 5-4-1, o comportamento defensivo foi elogiável e o Panamá só perdeu por 1x0 para a Dinamarca depois de ficar com um a menos no segundo tempo. Cinco dias depois, a derrota por 6x0 para a Suíça gerou inúmeros questionamentos sobre a capacidade do elenco para se adaptar a um sistema diferente das eliminatórias.

Apesar da classificação, no hexagonal da Concacaf, o Panamá só marcou mais gols que Trinidad e Tobago. Foram apenas nove em dez jogos. Só um foi marcado nos cinco jogos fora de casa, o da vitória sobre Honduras na primeira rodada, ainda em 2016. A defesa já foi melhor, com 10 gols sofridos. Tirando a derrota por 4x0 para os EUA, o saldo defensivo foi positivo. Mas a certeza de que a Copa do Mundo representa um salto no nível de exigência levantou a natural preocupação. Como parar o poderoso ataque da Bélgica, por exemplo?
A alternativa encontrada foi sair do habitual 4-4-2, que variava, no máximo, para 4-5-1. Imaginando que os dois principais favoritos do grupo (Bélgica e Inglaterra) atuarão com três zagueiros e alas ofensivos, pode ser uma forma de tentar proteger melhor a defesa.

A característica principal não mudará: um jogo de muita imposição física. É uma seleção que não foge do contato. Ao mesmo tempo, chama atenção o número de veteranos, em uma média de idade que chegou a beirar os 30 anos em certos jogos. O que não dá para duvidar é da capacidade de lutar até o último minuto, como mostraram a vitória sobre a Costa Rica aos 88 e os empates contra Honduras e Gales, aos 90 e 93, todos em 2017.


Ao longo das eliminatórias, a principal arma ofensiva foi a bola parada. Os veteranos Blas Pérez e Tejada são referências para a utilização do porte físico no ataque, enquanto Gabriel Torres já oferece um pouco mais tecnicamente e em aceleração. Com bola rolando, abrir mão de um segundo atacante pode trazer um considerável prejuízo, já que muitos ataques dependem da segunda bola. Ou seja: lançamentos da defesa que visam a dupla de ataque, para que um dispute pelo alto e o outro fique com a sobra. Em um time pouco criativo, a velocidade de Bárcenas vira a principal saída.


Defensivamente, a lentidão dos zagueiros é um problema a ser superado. Com linha de 4 ou 5, o Panamá já foi superado diversas vezes pela movimentação de dribladores que caíram no setor. Se atuar com linha de 5, o desafio é não se desorganizar por dentro a cada passe do adversário nas costas dos volantes, até porque os alas costumam avançar para marcar, o que gera espaço entre os defensores da primeira linha. Para piorar, Román Torres sofreu uma lesão no fim de abril e perdeu boa parte de maio se recuperando. Mais duro ainda foi o corte do titular Alberto Quintero, uma importante válvula de escape em velocidade pelos lados do campo.

Não foram muitos os testes para o 5-4-1, já que os amistosos de preparação apresentaram um 4-1-4-1 com Gabriel Gómez como volante entre as linhas. Pode ser uma outra alternativa para tentar se defender, abrindo mão de um zagueiro para ganhar Armando Cooper no centro do campo. De uma forma ou de outra, várias das opções do treinador são extremamente contestadas no país. Baloy, Machado e Blas Pérez são alguns dos veteranos que muitas vezes têm a preferência de Hernán Darío Gómez, frustrando a expectativa por maior espaço para algumas peças mais jovens e de melhor desempenho recente, como Cummings, Murillo e Ismael Díaz.

O Panamá vai à Rússia para comemorar qualquer ponto conquistado. É um dos times mais limitados do torneio e depende quase exclusivamente da sua capacidade de competir fisicamente, o que significa jogar no limite do contato, com o risco de abusar das faltas e ficar marcado pela violência. Para ter qualquer chance, precisará de concentração máxima para se manter organizado defensivamente e minimizar suas fragilidades.

Jogos no Grupo G
​18/6 - 12h - Bélgica x Panamá
​24/6 - 9h - Inglaterra x Panamá
28/6 - 15h - Panamá x Tunísia

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