‘Mudar de divisão é algo paliativo’, dizem ex-juízes sobre ‘rebaixamento’ de árbitros que erraram na rodada

Ao LANCE!, ex-árbitros criticam gestão da arbitragem do futebol brasileiro, além de apontarem despreparo e falta de investimento da CBF para aprimoramento

No Pacaembu, árbitro marcou pênalti para o Cruzeiro em lance de toque de mão que ocorreu fora da área
(Foto: Marco Galvão/Fotoarena/Lancepress!)

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A decisão da CBF por "rebaixar" para a Série B os trios de arbitragens envolvidos em erros na 27ª rodada do Brasileirão trouxe repercussão negativa em quem já esteve no gramado. Ao LANCE!, ex-árbitros definiram a medida como paliativa, destacando que o problema vai além das quatro linhas.

Segundo Sálvio Spinola, o erro começou na escala de arbitragem:

- Foram muitos erros, em lances capitais. E nisto, a gente vê falha técnica já na própria escala de árbitros. Árbitros que ainda estão em formação foram escalados para jogos de um nível que não estavam preparados. Isto é um erro da gestão de arbitragem.

O comentarista da ESPN acredita que ainda falta uma avaliação de toda a gestão de arbitragem do futebol nacional: 

- É fácil para quem comanda ver que o árbitro cometeu um erro e decidir rebaixá-lo. Agora, e a responsabilidade de quem comanda ou de quem o instrui? E de quem treina o árbitro, quem escala o árbitro? Tem zero de punição? Da forma como está, a responsabilidade é única e exclusivamente do árbitro. Não pode e não deve ser assim, a gestão de arbitragem tem de ser avaliada como um todo. 

Carlos Eugênio Simon também vê como preocupante o momento da arbitragem no país:

-  Entra ano, sai ano e os erros seguem acontecendo. Não adianta trocar de árbitros. A sensação é de há que falta uma liderança, de pulso firme na arbitragem. Além disto, temos de acabar com o sorteio de árbitros, que nada acrescenta. 

O comentarista da Fox Sports também lamentou os erros dos árbitros no fim de semana:

- Aconteceram muitas falhas técnicas, primárias, e até de omissão do quinteto de arbitragem. 

Márcio Chagas da Silva foi outro ex-árbitro que mostrou-se preocupado com a maneira como a atual arbitragem brasileira vem atuando nos gramados:

- São erros muito gritantes tanto para o nível que exige o Campeonato Brasileiro, quanto para o momento no qual se encontra a competição. Há falta de posicionamento e de poder de decisão dos árbitros e dos assistentes. Atualmente, a prioridade tem sido a parte física, e é inegável que a arbitragem vem correndo melhor. Mas falta uma qualidade técnica dos árbitros.

Despreparo e omissão da arbitragem são apontados por ex-árbitros do país

O comentarista da RBS TV lamenta a decisão de "rebaixar" os trios de arbitragens envolvidos em polêmicas nesta rodada:

- Soa como desmerecer a competição. É preciso pegar estes tercetos ou quintetos de arbitragem e colocar em treinamentos específicos. Não levar para a Série B. 

Márcio Rezende de Freitas também sinalizou que o "rebaixamento" está muito longe de prevenir futuros erros de arbitragem:

-  É uma solução paliativa. Tem de investir em treinamento, qualificar o árbitro.  Há omissão na CBF, que não dá ferramentas para eles se desenvolverem, não só fisicamente como também se aprimorarem tecnicamente. Isto a gente não vê acontecer no dia a dia, nem na relação da entidade com as federações. 

O comentarista da TV Globo Minas ainda detalhou que o "descenso" dos árbitros é preocupante:

- Presta um desserviço à Série B. O árbitro entrará em campo mais pressionado por toda a situação, e em um campeonato tão competitivo quanto uma Série A. 

EX-ÁRBITROS, SOBRE ERROS: CORREÇÃO VAI MUITO ALÉM DO VAR...

Internacional x Vitória
Jogadores do Vitória cercam árbitro após pênalti marcado (FERNANDO ALVES/PHOTO PREMIUM)

Os erros vistos no fim de semana trouxeram outros alertas para os ex-árbitros. Segundo eles, houve uma sucessão de falhas, mas que o VAR poderia corrigir:

- Foram erros clamorosos, e mostram que o VAR tem de fazer parte da rotina do Campeonato Brasileiro. É uma das raras competições do mundo que não usa este recurso - afirmou Simon, que detalhou os erros:

- Só no Beira-Rio, houve uma sucessão de erros: o árbitro deu pênalti em um lance que tocou no ombro do jogador do Vitória e, para completar, a bola estava fora da área, além de um gol mal anulado do Inter. No jogo do Palmeiras e Cruzeiro,  o assistente devia ter cooperado para evitar que o árbitro marcasse pênalti para a equipe celeste em um toque que ocorreu fora da área. E no pênalti marcado na Vila Belmiro, não houve qualquer contato faltoso no jogador do Santos.

Márcio Chagas da Silva apontou omissão no trio de arbitragem: 

- O assistente não informou o Dewson (Freitas da Silva) no Pacaembu e, pela falta de noção de profundidade da jogada, ele marcou um pênalti bisonho para o Cruzeiro. Já no Beira-Rio, cabe uma interpretação na falta, mas houve um erro primário de colocação do árbitro. Sem contar no assistente que invalidou a jogada legal em um gol do Internacional.

Márcio Rezende de Freitas lamentou os novos erros e a ausência do VAR no Brasileirão. Mas fez um alerta:

- É claro que o VAR poderia evitar que os pênaltis nos três jogos fossem mal marcados. Uma pena a falta de condição financeira da CBF ou dos clubes, que foi o motivo de ele ficar de fora do Brasileirão. Mas tem uma outra coisa que a CBF precisa ficar alerta: os árbitros de vídeo têm de estar bem preparados, senão os erros acontecerão da mesma forma.  

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