Eleições Botafogo 2020 – Durcesio Mello: ‘Quero implantar o profissionalismo no Botafogo’

LANCE! publica entrevistas com os candidatos à presidência do Alvinegro; representante da chapa "Botafogo de Todos" explica projetos e dá visão sobre o clube<br>

Durcesio Mello
Durcesio Mello&nbsp;vai disputar o pleito do dia 24 de novembro (Foto: Divulgação)

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O presidente do Botafogo para o quadriênio 2021-2024 será decidido no próximo 24, em votação realizada na sede de General Severiano. Desta forma, o LANCE! inicia uma série de entrevistas com os candidatos à principal cadeira do Alvinegro visando informar as principais propostas e ideias dos envolvidos.

O entrevistado desta sexta-feira é Durcesio Mello. A Chapa Preta e Branca, chamada de "Botafogo de Todos", tem como vice-presidente Vinícius Assumpção. O L! fez as mesmas perguntas para todos os candidatos, visando manter o equilíbrio no momento da entrevista, e publicará as matérias em ordem alfabética.

Confira a entrevista com Durcesio Mello, da Chapa Preta e Branca:

Qual é a sua relação com o Botafogo?
- Eu já nasci botafoguense. Fui ao Maracanã pela primeira vez com seis anos com meu pai e, desde então, passei a frequentar arquibancada. Em 1994, quando o Carlos Augusto Montenegro assumiu a presidência, eu entrei de sócio-proprietário. Somos amigos desde infância. Nunca frequentei o clube, apenas a arquibancada. Alguns anos atrás ele me sugeriu que ele poderia ser um cara bom para tocar o Botafogo. Agora, finalmente, estou para ser candidato para tentar fazer um Botafogo mais moderno.

Como surgiu o interesse de ser presidente?
- Começou com o Montenegro, mas depois eu mesmo vi que teria muito orgulho de ser presidente do Botafogo. Acho que posso ajudar, tenho uma experiência empresarial muito grande. Ele até uma época tentou me desmotivar (risos), falando que não era uma coisa boa, mas eu já estava motivado a entrar. Estou tocando projetos com o apoio dele.

O que você acha do possível advento da Botafogo S/A?
- É fundamental. Espero que aconteça esse ano ainda, não sei se vai acontecer. É fundamental para o Botafogo, que vai ser o primeiro clube grande a ter esse modelo, que provavelmente vai ser seguido pelos outros. Uma S/A com investidores de fora tocando o clube, um plano estratégico é a solução para a gente voltar a disputar títulos. Do jeito que está, está difícil. Eu sempre falo que é S/A ou S/A. Não temos outra escolha. Todas as nossas verbas estão bloqueadas ou adiantadas, temos que sair atrás de dinheiro novo. Sou altamente favorável à S/A, é necessário.

Por que se candidatar para uma eleição com "menos valor", visto que, na teoria, o presidente terá menos peso nas decisões do que um CEO?
- Serão dois CNPJ. Ficará o Botafogo atual e terá outro para pagar dívidas e royalites para o Botafogo. Tem um apelo porque o presidente vai participar do Conselho. O Botafogo que vai ficar é um Botafogo de tradição, de esportes olímpicos, temos muita história. Eu cresci vendo futebol, é o carro-chefe, lógico. Mas sou de uma época que fui a muitos jogos de vôlei e basquete. No começo dos anos 60 o Botafogo tinha o maior time de vôlei do Brasil. Nosso polo aquático é campeão brasileiro... Eu gosto muito de futebol, mas sou um amante do esporte olímpico. E também tem o sócio, não apenas o torcedor, mas o proprietário. Temos um trabalho a fazer com essas pessoas que sempre apoiaram o clube. Serei muito orgulhoso de ser o presidente do Botafogo.

Como salvar o clube com uma dívida que chega perto do passivo de 1 bilhão de reais?
- Primeiramente, a dívida toda passa a S/A. É simples. O Botafogo atual vai ficar com zero dívidas. A dívida toda hoje passará toda para a S/A, então o desafio é tocar um clube com uma receita, segundo o balanço do ano passado, de R$ 12 milhões anuais e uma despesa na casa de R$ 17 milhões. Temos que gerar receitas. Hoje, quando falta cloro na piscina é o futebol que banca. Isso vai acabar. Vamos gerar receitas novas e eu tenho novos projetos para isso.

Durcesio Mello
(Foto: Divulgação)

Quais são os projetos para aprimorar a sede de General Severiano, que atualmente é alvo de críticas dos torcedores pela falta de reparos?
- Primeiramente é preciso revisar vários contratos que o Botafogo tem hoje. Não estou lá dentro então não tenho informações precisas, mas pelo o que eu vejo e li no balanço, o Shopping (Casa & Gourmet), por exemplo, não paga nada. O Fogo de Chão paga, isso é importante. A própria loja não tem material para vender. Precisamos trazer novas pessoas, mudar isso. E um extra é transformar General Severiano em um polo de entretenimento. Nosso medo é que existe muito sócio-proprietário que mora em outra cidade mas paga a mensalidade para ajudar o Botafogo. Tenho receio que essas pessoas possam deixar de pagar, nós temos que dar um carinho especial para eles não saírem. A mesma coisa para o sócio que frequenta a sede, ela está acabada. Temos que dar atrativos para mantê-los adimplentes e atrair novos sócios. Temos uma academia que está obsoleta, se terceirizar aquela academia e o sócio ter um desconto para malhar ali... Dá para transformar o campo da sede em dois campos de Society e alugar, depois essas pessoas vão comer e beber no bar do clube. Tem n coisas que podem ser feitas. Estou dando exemplos.

A torcida reclama da falta de profissionalismo do clube em vários setores. Você concorda?
- 110%. O amadorismo que temos no Botafogo é um modelo que não deu certo. Não só a S/A que trará profissionais competentes, mas quero implantar profissionalismo no Botafogo. Governança corporativa, plano de carreira para os funcionários, fazer um modelo mais transparente. A torcida reclama do programa de sócio-torcedor, mas a gente quer que eles fiquem com a gente. Temos que dar um serviço melhor. Hoje, o sócio passa uma dificuldade para pegar um ingresso, pagar mensalidade... É complicado. Temos que botar alguma empresa mais profissional, alguma coisa tem que ser feita para melhorar isso. Temos que contar com um serviço. Quando você vai em uma loja e não é bem-servido você não volta mais. O Botafogo tem que ser tratado como uma empresa que tem clientes para agradar, os sócios.

Caso eleito, qual será a prioridade da gestão?
- Tem algo no âmbito empresarial. No dia seguinte começar a implementação de governança coorporativa. Fazer o clube ficar gerido profissionalmente. No âmbito de logística ou infraestrutura, eu quero fazer a piscina do Mourisco Mar, que está fechada há quatro anos, mas não deve ser tão difícil reabrir aquela piscina. Isso é um compromisso meu. Assim que puder, quero reformar a piscina para o polo aquático poder voltar para lá, é a piscina mais bonita do mundo.

Como vai funcionar a política envolvendo jogadores de base?
- A S/A que terá controle sobre isso. Vão assumir uma dívida de quase 1 bilhão de reais em troca da receita de sócio-torcedor e de venda dos jogadores da base. É claro que o presidente do Botafogo terá uma cadeira no Conselho, não sei qual será o peso disso, mas sempre estarei por lá para as decisões de como gerir a marca Botafogo. Tem um valor e uma tradição danado, quase 5 milhões de torcedores. Tem que ser respeitada e tratada com carinho. Se a S/A não sair, teremos um Plano B para tocar o futebol, mas prefiro não pensar nisso agora.

Botafogo sofre para conseguir patrocínios há muito tempo. Onde o clube falha e você tem alguma conversa com alguma empresa, caso eleito?
- Eu nem posso fazer isso, até porque não fui eleito. Sou um candidato, posso ganhar ou perder. Do passado, em defesa da administração, tem que pensar que estava difícil conseguir isso. Tem vários clubes no Brasil sem patrocínio e alguns fecharam recentemente contratos por um valor bem abaixo. Alguns clubes mais organizados que o Botafogo até. Não posso me atrever em negociações. Essa é uma das causas do amadorismo que não colocou profissionais nessa área. O Botafogo é uma marca forte, clube com tradição e vitórias. Atrai, mas ninguém vai bater na porta oferecendo patrocínios.

Você tem pretensão de retornar com os times de basquete e vôlei? Quais os projetos para os esportes olímpicos?
- Eu vou fazer, pode anotar. Vou fazer um basquete forte de novo, um vôlei forte de novo, o pólo aquático, a natação e o remo. A ideia é conseguir patrocínios ou lei de incentivo para bancar os esportes olímpicos. Como o clube vai estar com CNT, isso propicia a ir no Ministério dos Esportes para conseguir a lei de incentivos. É que nem o basquete e o vôlei tinham com a Tim, mas, como não havia o planejamento a longo prazo, não houve renovação. Você não monta um time de alto nível em um ou dois anos, mas tem que ir fortalecendo o time aos poucos para ser campeão, é preciso um planejamento estratégico. Não pode pensar apenas com uma verba de um ano.

Você acha que o futuro CT é necessário?
- O CT foi todo pago pelos irmãos Moreira Salles. O CT é fundamental. Hoje, quem não tem uma base forte não vai para frente. Hoje, jogamos com vários atletas da base, Marcelo, Kanu, Caio Alexandre... Isso com uma estrutura arcaica. Com a estrutura de um dos melhores CTs do Brasil, a médio e longo prazo vamos formar jogadores ainda melhores. Formaremos ainda mais jogadores, vão dar alegrias dentro de campo e receitas em vendas.

Caso eleito, como você espera se relacionar com os irmãos Moreira Salles?
- Pretendo me relacionar com eles da melhor maneira possível. Diria mais, resgatar a relação porque eles afastados por causa de política, não sei dizer ao certo. Eles são grandes botafoguenses, ajudam sempre o clube, e estão construindo o CT, que é o futuro do Botafogo. A base é o futuro do Botafogo. Eu quero ter o melhor relacionamento possível com eles. Já estive várias vezes com o Walter, então pretendo retomar esses contatos e saber o que precisa fazer para acabar o CT o mais rápido possível, talvez em dez meses ou um ano. Isso será uma nova fase na nossa vida.

Recado para a torcida
- A torcida precisa de unir com a S/A. Se isso acontecer, tenho certeza que vamos voltar a gritar “é campeão” em breve. Terei um desafio enorme com o Botafogo social e os esportes olímpicos, não só para fazer o sócio-proprietário satisfeito e fazê-lo a voltar a frequentar o clube e também até o sócio-torcedor. Quero ter ligação com eles, trazê-los de algum jeito para as sedes. Uma das ideias que eu tenho é o sócio-torcedor pagar um pouco mais e poder frequentar também os jogos de basquete, vôlei de graça e os demais eventos de esportes olímpicos. É um desafio grande mas acho que estou preparado para encarar esse desafio e fazer um Botafogo novo, moderno, com muito profissionalismo e melhores benefícios para os sócios.

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