Em crise, orçamento da base do Botafogo não aumenta desde 2016

Apesar da destacável presença de atletas oriundos da base no time principal, Alvinegro sofre com a estagnação nas categorias inferiores por conta da falta de estrutura

Botafogo x Flamengo pelo Campeonato Brasileiro Sub 20 no Estadio Nilton Santos 31/07/18
Equipe sub-20 do Botafogo (Foto: Vitor Silva/Botafogo)

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A lista com 46 convocados para representar as seleções principal e olímpica, divulgada na última sexta-feira - com metade do número para cada elenco – chamou a atenção dos torcedores do Botafogo por outro motivo. Dos nomes, nenhum dos jogadores joga ou foi revelado na base do Alvinegro. O clube que ostenta a fama de ser o que mais cedeu atletas à Seleção em Copas do Mundo, com 47, passou em branco. A ausência liga o alerta vermelho na formação dos atletas. Desde 2016, quando conquistou o Campeonato Brasileiro sub-20, o Botafogo não teve nenhum aumento no orçamento das categorias de base, que fica estagnado em cerca de R$ 9 milhões de reais por ano. 

A crise financeira, que ronda o clube já há algum tempo, se reflete nas divisões inferiores do futebol e dificulta o surgimento de talentos. Sem emplacar um jogador revelado em General Severiano que se destaque no futebol europeu nos últimos anos, o clube fica fora dos holofotes dos clubes do Velho Continente. Em razão disso, se vê 'obrigado' a negociar as joias com equipes nacionais por preços menores, como nos casos de Matheus Fernandes e Igor Rabello. Gilberto, Vitinho e Dória tiveram passagens discretas na Europa, por Fiorentina, CSKA Moscou e Olympique de Marselha, respectivamente.  

A falta de estrutura e de suplementação alimentar entre os mais jovem são outras consequências que contribuem para a falta de representatividade na convocação da Seleção, ao contrário dos rivais Fluminense, Flamengo e Vasco.

O time sub-20, que ocupa a metade da tabela no Brasileiro da categoria, treina em General Severiano, onde a estrutura é adequada, mas não possui tamanho suficiente para equipes de idade menor, que treinam em Caio Martins, com equipamentos antigos e situação precária. Em contato ao LANCE!, Manoel Renha, diretor das categorias de base do Alvinegro, comentou sobre a situação.

Alojamento de Caio Martins
Maioria das equipes de base treina no Caio Martins, em Niterói (Foto: Divulgação / Botafogo)

- A gente fica bastante limitado. Nosso orçamento hoje é idêntico ao que tínhamos em 2016. Não conseguimos aumentar os investimentos em função da questão financeira do clube. Falta muita coisa para dar um salto de qualidade. Ainda não temos um CT, uma sala de musculação moderna para os atletas. A suplementação alimentar é uma das coisas que mais faltam para nós. Contamos com a dedicação dos profissionais e empenho dos atletas, mas ficamos limitados em função do que o clube oferece para os seus atletas. Enquanto não tivermos mais investimento, avançar em algumas partes de infraestrutura e de qualidade oferecida fica muito difícil ter uma evolução significativa. Esse é ponto principal. Precisamos prover essas coisas para poder dar condições de evolução - admitiu .

A falta de suplementação adequada é explica as poucas conquistas do futebol de base do Botafogo recentemente. A transição dos atletas é, geralmente, dificultada, já que os jogadores sentem quando vão para uma categoria maior e, por consequência, enfrentam rivais mais fortes fisicamente. 

O cenário pouco otimista pode ser amenizado com a mudança das categorias de base para o CT, localizado em Vargem Pequena, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Com obras no papel desde 2018, a estrutura do Espaço Lonier ainda não teve as  melhorias previstas iniciadas. O plano da diretoria era que os times do Botafogo começassem a treinar no CT já reformado no começo de 2020, mas diante da atual conjuntura, tudo se encaminha para que o projeto seja adiado.

SALVAÇÃO DAS FINANÇAS?
Sem patrocinador master e convivendo com seguidas penhoras decorrentes de ações judiciais,  o Botafogo tem nas categorias de base como uma "luz no fim do túnel" para as finanças do clube, no que diz respeito à capacidade de gerar receitas e quitar dívidas mais urgentes. No início da semana, o lateral-esquerdo Jonathan foi vendido ao Almería, da Espanha, por R$ 1 milhão de euros (aproximadamente 4,5 milhões de reais), e o dinheiro foi usado, de imediato, para pagar os salários de julho dos jogadores e funcionários.

A necessidade de conseguir dinheiro é um entrave para os próprios atletas, que, por muitas vezes, não se desenvolvem por completo, mas já são vendidos. A obrigação de levantar fundos deixa o Botafogo sem escolha na questão de aproveitar os jogadores oriundos da base. Durante a Copa América, Glauber, um dos destaques do time sub-20, foi negociado com o futebol dos Emirados Árabes Unidos, sem sequer estrear no time profissional. 

Além de Glauber e Jonathan, o Botafogo negociou Matheus Fernandes e Igor Rabello no início do ano e chegou a um total de R$ 33 milhões em vendas de atletas das categorias de base. O valor ficou muito abaixo da quantia de R$77 milhões traçado como meta pelo Alvinegro no balanço financeiro anual. 

Dos jogadores que aparecem com frequência nas relações de Eduardo Barroca, Marcinho é o único titular absoluto oriundo da base. Outros atletas formados no clube que fazem parte do elenco principal e têm atuado são Gustavo, Marcelo Benevenuto, Fernando, Rickson, Lucas Campos e Rhuan.

Kauê, Matheus Nascimento e Jhonnatha Seleção Sub15 - Base Botafogo
Kauê, Matheus Nascimento e Jhonatha pela Seleção Brasileira sub-15 (Foto: Divulgação/Twitter)

"GERAÇÃO DE OURO" PODE FAZER A DIFERENÇA?
Apesar de todas as dificuldades apresentadas, a situação atual das categorias de base é melhor do que no início do século. No começo dos anos 2000, e fim da década de 90, era difícil, por exemplo, ver mais de dois jogadores criados em General Severiano na equipe profissional. Em passos lentos ao longo dos anos, atletas formados no Glorioso passaram a figurar no dia a dia do elenco principal. 

O que vem por aí? O Botafogo possui uma geração  considerada "fora da curva" pelas bandas de General Severiano. O time Sub-15 é um dos melhores do Brasil e reúne jogadores promissores. Os funcionários da base nadaram contra uma maré negativa e conseguiram formar uma equipe com nomes que podem render algo no futuro.

São os casos de Matheus Nascimento, Jhonatha e Kauê. O primeiro, pelo tamanho destaque no Sub-15, subiu para a categoria acima, apesar da pouca idade, e também vem se destacando. Com a natural adaptação por um jogo mais físico, o atacante vai, aos poucos, marcando seus gols pelo time sub-17. O segundo também atacante e o terceiro, meio-campista, também podem, em breve,  ser promovidos à categoria seguinte. O trio já recebeu elogios do técnico Eduardo Barroca. 

– Figurei muito tempo em seleções de base e o Matheus Nascimento sempre frequentou. Além do Botafogo, também tivemos contato na Seleção. Da categoria, é o principal jogador do país, sem dúvida alguma, reconhecido por todos. É o principal atleta em uma posição que não é muito fácil de ter. Ser tão jovem e conseguir um centroavante com as características dele é difícil. É um cara que sabe fazer gol. O Botafogo está bem servido na categoria. Não só ele, mas tem o Jhonatha, Kauê, são jogadores da sub-15 que se destacam em nível de Seleção. O trabalho da base do clube é muito digno. Tem uma liderança muito boa do Renha e do Tiano, além do esforço dos treinadores. O Botafogo, daqui a pouco, vai colher os frutos deste trabalho – analisou Eduardo Barroca, em entrevista exclusiva ao LANCE!.

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